Pela câmera Polaroid de Andy Warhol, paisagens, personagens marginais e astros tinham todos a mesma qualidade de obra de arte – de maneira instantânea e em uma era pré-internet
Bruna Veloso Publicado em 15/09/2015, às 16h18 - Atualizado às 16h49
Transformando tudo com o que lidava em arte, Andy Warhol fez da própria trajetória um meio de expressão. De 1958 até sua morte, em 1987, Warhol documentou o dia a dia dele e de amigos com uma câmera Polaroid, quase como em um protótipo do Instagram.
O interesse pela fotografi a instantânea cresceu depois de Warhol ter sofrido um atentado que quase o matou – a Factory, estúdio em Nova York que servia de ninho para as criações e para o séquito do artista, foi o palco para a cena mais dramática da história dele: um tiro disparado por Valerie Solanas, uma das muitas figuras que orbitavam pelo lugar. O evento marcou não apenas a derrocada da Factory como abrigo para aspirantes a artistas e toda sorte de outsiders mas também uma fase mais reclusa do norte-americano, em que a obsessão pelo registro fotográfico do que ocorria à sua volta crescia à proporção da popularidade daquele tipo de câmera.
Warhol clicava avidamente, de paisagens a si mesmo, de natureza-morta a quem estivesse por perto. O dúbio apelido que havia ganhado anos antes, nos tempos em que apadrinhou o Velvet Underground – Drella, uma mistura de Drácula e Cinderela –, continuou se fazendo valer: ele elevava qualquer um ou qualquer coisa à posição de objeto artístico, mas não sem tomar para si algo em troca. Aqui, eram as Polaroids, fossem elas protagonizadas por nomes marginais, como a Candy Darling lembrada na letra de “Walk on the Wild Side”, de Lou Reed, fossem astros consagrados, como Dennis Hopper. Se a fotografia chegou a ser vista como um modo de capturar a alma do retratado, Warhol colecionou almas até o fim da vida.
A máxima de que qualquer pessoa pode ter “15 minutos de fama”, expressão cunhada por Warhol, ganharia ainda mais força nas décadas seguintes. As redes sociais são mais do que um conector de pessoas, são diários públicos em que cada um pode se ver ou se vender como artista. Warhol só ficou desatualizado na previsão cronográfica: hoje, com a brevidade das atualizações de feeds do Instagram e do rolar de perfis do Tinder, os 15 minutos se reduziram a 15 segundos. As fotografias de Andy Warhol, no entanto, permanecem.
INSTANTÂNEO E DURADOURO
Livro registra centenas de fotografi as feitas por Warhol
O recém-lançado livro Andy Warhol: Polaroids 1958-1987 (à dir., com Grace Jones na capa), da Editora Taschen, registra três décadas do intenso trabalho do artista com a fotografia instantânea. Salvador Dalí, Robert Mapplethorpe, Mick Jagger, Arnold Schwarzenegger e até Pelé estão entre os personagens das centenas de fotos reunidas na publicação, especialmente a partir de 1968. “Os retratos representam quem era bem-vindo ao clube de Warhol, um lugar privado, esnobe e hostil com a classe média, mas ao mesmo tempo aberto a dezenas de párias da sociedade”, afirmou em comunicado o autor do livro, Richard Woodward.
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