Com novo disco, filme em três dimensões e uma turnê grandiosa, os Jonas Brothers passaram de novidade da Disney a fenômeno consolidado - e eles só querem que você os veja como uma banda de verdade
Por Jason Gay Publicado em 12/06/2009, às 14h31
São quase oito horas de uma noite suarenta em Phoenix e, enquanto a temperatura clementemente dava uma trégua, 1 trilhão de hormônios se reuniam no Cricket Wireless Pavilion para ver os Jonas Brothers. Entre as diminutas peregrinas na platéia, estão Jordan e Jackie, um par de pré-adolescentes loiras. Há poucos instantes, a dupla encontrou a banda em pessoa em uma sessão de fotos com as fãs. Agora elas tremem e soluçam incontroláveis, as bochechas vermelhas, como se alguém tivesse acabado de contar- lhes que a Disneylândia foi incendiada com todos os gatinhos e bebês panda dentro.
"Aimeudeusaimeudeusaimeudeus", diz Jordan, os braços levantados, as mãos balançando.
"Meu corpo inteiro está formigando porque eu Acabei. De. Encontrar. Nick. Jonas", diz Jackie, assim mesmo, em pausas.
"Passei minha vida inteira querendo conhecê-los", completa Jordan. Quantos anos você tem? "Dez."
É assim em todos os lugares. Em um show dos Jonas Brothers em Dallas, encontro várias fãs que, como os Jonas, usam "anéis da virgindade", simbolizando os votos de manter a castidade até o casamento. Encontro uma precoce menina de 11 anos chamada Hannah (mas não Montana), de Nova York. "Temos que ensinar as pessoas a gostar de Jonas Brothers", ela instrui, com o dedo em riste. E por que Hannah, de Nova York, está em Dallas?
"Para ver os Jonas Brothers", responde ela. "Dã!"
Em Phoenix, os irmãos Nick (16), Joe (19) e Kevin (22) se preparam para começar o show. O mais alto dos três tem 1,77 m e todos possuem fantásticas cabeleiras castanho-escuras. Joe faz chapinha. Kevin também fazia, mas decidiu deixar enrolado de novo, com grossas costeletas; Nick, o líder e principal compositor, sempre manteve seus cachos. Debaixo do terno de linho marrom do mais novo há uma bomba de insulina, colada na região lombar. O garoto foi diagnosticado como portador de diabetes Tipo 1 e, por conta disso, seu nível de açúcar no sangue precisa ser monitorado; o segurança da banda, Big Rob, sempre carrega uma dose de insulina, em caso de emergência.
Os bastidores rapidamente lotam de pessoas que formam uma extensão da família Jonas. Há a banda de apoio - rapazes de 20 e poucos anos, muitos dos quais estão com os Jonas Brothers desde o tempo em que os irmãos tocavam em bares. Há também uma orquestra de cordas feminina vestindo smoking, contratada para tocar no palco. Há ainda o coempresário todo certinho, Phil McIntyre, e Kevin Jonas Sr. - homem de 44 anos, cabelos castanhos e fala mansa -, pai dos garotos. Ex-músico gospel e pastor de igreja criado na Carolina do Norte, Kevin Sr. Também divide a função de empresário com McIntyre.
O grupo forma um círculo e dá as mãos. Kevin Sr. baixa a cabeça em oração. "Meu Pai, rezamos para que o Senhor nos abençoe mais uma vez. Faça com que seja divertido, seguro e emocionante. Obrigado a todos que estão aqui presentes. Tínhamos 60% dos ingressos vendidos semana passada e, ao que parece, hoje estamos com lotação máxima. Senhor, oramos para que cada pessoa presente seja encorajada pelo nome de Jesus."
A banda e sua equipe berram. "Vamos lá!", eles gritam. As mãos se juntam e se erguem para o teto.
"Vivendo o sonho!", eles bradam.
De repente, as luzes se apagam, desencadeando um rugido que varre os 20 mil lugares do local e só pode ser descrito com um adjetivo: primal. A neuropsiquiatra Dra. Louann Brizendine, autora do best-seller Como as Mulheres Pensam, diz que a liberação de dopamina no cérebro de uma garota que grita ao ver seus ídolos é como uma "injeção de heroína". Estar ao lado de outras garotas gritando, diz ela, só torna o efeito ainda mais selvagem.
"Há algo na biologia que chamamos de sincronia", conta Brizendine. "Uma garota afeta a outra em um efeito dominó que se amplifica até o nível da histeria. Seus cérebros estão sendo inundados de dopamina e oxitocina, que é um hormônio ligado ao amor e à afinidade. A grande quantidade de estrogênio das adolescentes catapulta os níveis de dopamina e oxitocina no cérebro, criando um surto de êxtase nelas mesmas e nas outras. É um estado de amor em êxtase."
Em Phoenix, quando os Jonas Brothers começam o hino "That's Just the Way We Roll", o clima remete a amor em êxtase. Também remete a diversão pura e simples. E também soa a dinheiro entrando em caixa.
Há dois anos, estávamos em uma van vermelha, com um trailer enganchado atrás, carregando todos os nossos equipamentos", conta Nick. Aquela é a tarde do show em Phoenix e os Jonas Brothers estão voando para a cidade em um vôo fretado em um jatinho confortável repleto de poltronas de couro cor de capuccino.
Kevin se aproxima e me mostra uma tela na parede. "Sabe o que é mais legal neste avião? Tem câmeras em toda parte." Ele muda um canal. "Esta é a asa." Muda de novo. "Esta é a outra." De novo. "Esta é a parte de baixo."
Na traseira do jatinho estão os pais dos Jonas, Kevin Sr. e Denise, bem como McIntyre, Big Rob e a assistente pessoal Felicia Culotta, que, como Big Rob, costumava trabalhar nas trincheiras do pop para Britney Spears.
Enquanto conversamos, uma bela comissária traz o almoço: frango empanado do KFC.
"Tocamos uma vez em Nova Jersey", conta Nick, comendo seu frango. "Era o bar de rock mais horrível do mundo. Tinha umas 50 pessoas. Quando chegamos, um cara nos disse que uma banda de heavy metal tinha tocado na noite anterior e estourado o sistema de som. Tiveram que virar o retorno para a plateia e usar como caixa."
"Estava tudo fora de controle", emenda Kevin. "E a plateia era interessante."
Interessante?
"Curiosa", diz Nick. Joe ri. "Era como um show na escola ou a apresentação da sua irmã no balé. Eles faziam assim" - ele coloca o frango em cima da mesa e bate palmas lentamente. "Era desse jeito."
Apesar da proximidade, os Jonas não são exatamente iguais. Kevin, o mais velho, é extrovertido, bate papo com os motoristas de ônibus e seguranças, se ajoelha para cumprimentar criancinhas nos shows. O do meio, Joe, é o mais quieto, com um alterego selvagem que só se revela no palco, onde ele requebra
os quadris e maneja o pedestal do microfone como se fosse um sabre de luz. "Me inspiro muito em Mick Jagger e Freddie Mercury", diz ele. "Ouvi falar que o Jagger faz uma hora de esteira antes de cada show."
Nick, em contraste, é o chefe - o porta-voz, o melhor músico, o principal compositor. Pode-se imaginar que seja estranho que os irmãos recebam ordens do mais novo, mas eles enxergam de outro modo. "Nicholas sempre se comportou como se fosse mais velho", me conta o pai.
O motor por trás do fenômeno Jonas Brothers - além dos próprios - é a Walt Disney Company, que já fez centenas de milhões de dólares inundando o mundo adolescente de entretenimento musical de censura livre. Com suas várias subsidiárias - Disney Channel, Radio Disney e a gravadora Hollywood Records, sem mencionar os parques temáticos e os setores de merchandising - a Disney conseguiu criar poderosas franquias no século 21, como High School Music e Hannah Montana. Em uma era em que a indústria tem encontrado dificuldades para manter sua relação com os compradores, a Disney prosperou cultivando uma parcela do público normalmente ignorada. "As pessoas acham que eles não têm poder de compra, mas têm", diz Robert Iger, o presidente da Walt Disney Company. "Decidimos que eles seriam nosso alvo."
Os Jonas Brothers, é claro, são muito gratos à mãozinha dada por Mickey Mouse. Afinal de contas, foi a Disney quem resgatou os garotos do abismo do pop rock e os inseriu no mundo encantado de Hannah Montana, expondo-os a milhões de consumidores apaixonados. Mas hoje, em seu jatinho, os Jonas querem que todos saibam que a banda não foi fabricada nos laboratórios da Disney, que são eles quem tocam seus instrumentos, compõem suas próprias músicas e que, sim, eles são mesmo irmãos.
"Acredite, as pessoas nos perguntam isso a sério o tempo todo", jura Kevin. "'Vocês são irmãos mesmo?'"
Joe brinca. "É tipo: não somos irmãos! Nós escolhemos o nome Jonas Brothers só porque era divertido!"
A história dos Jonas Brothers começa em um subúrbio de Nova Jersey, em uma cidade chamada Wyckoff. Kevin Sr. e Denise, que se conheceram na faculdade Christ for the Nations Bible, em Dallas, se mudaram com a jovem família do Texas para Nova York em 1996, quando Kevin arrumou um trabalho como pastor local em uma igreja da Assembleia de Deus. A família morava em uma casa de tijolos vermelhos não muito distante dali. O melhor programa dos Jonas era assistir a um filme - Um Grande Garoto era um dos preferidos - comendo doce de batata-doce.
Aos domingos, eles assistiam ao sermão semanal de Kevin Sr. e tocavam as músicas - algumas escritas pelo próprio pastor - em sua guitarra. Os garotos também cantavam. "Crescemos na igreja, tocando no palco com nosso pai", diz Kevin. Mas o patriarca tinha uma fixação pelo pop. Kevin Sr. criou seus filhos à base de James Taylor e Carole King e acompanhou a carreira de vários produtores bem-sucedidos. "Escutávamos o novo CD dos Backstreet Boys e nosso pai nos falava sobre como Max Martin era fantástico", diz Nick, se referindo ao recluso produtor sueco de boy bands. Kevin completa: "Nosso pai dissecava a parada da Billboard".
Quando era pequeno, Nick acompanhava sua mãe ao cabeleireiro, onde caminhava entre os espelhos cantando músicas dos Backstreet Boys em troca de dinheiro para comprar doces. Um dia, uma das clientes do local - cujo filho estava no elenco da versão da Broadway de Os Miseráveis - viu a performance do garoto. Kevin Sr. relembra: "Ela disse: 'Você tem empresário? Ele precisa de um, porque meu filho fazia exatamente o que o seu faz'".
Parece coisa de cinema, mas a verdade é que Nick logo conseguiu papéis em espetáculos como A Christmas Carol, Annie Get Your Gun, The Beauty and the Beast e Les Misérables. Kevin Sr. levava o filho para lá e para cá, analisando as harmonias de estrelas como Stevie Wonder. "Passávamos o caminho de ida e volta compondo", o pai conta.
Nick mantinha a carga escolar semanal completa, faltando somente às quartas para as matinês. Enquanto isso, Joe já tinha sua própria carreira nos palcos (fez o papel de Artful Dodger em Oliver!), e Kevin fazia comerciais de TV. Denise Jonas, 42 anos, uma bela ex-professora de linguagem de sinais, dotada de fantásticos cabelos castanhos cacheados (e que confessa sua paixão platônica adolescente por Mark Hamill, o Luke Skywalker de Star Wars), se lembra de levar os filhos para audições enquanto estava no fim da gravidez de seu quarto filho, Frankie (que hoje tem 7 anos e é conhecido como "Bonus Jonas").
"Prestava muita atenção aos outros pais", ela conta. "Pensava: 'Sou novata e não quero fazer besteiras que possam comprometer a nós todos enquanto família ou a carreira deles'. Pesávamos cada decisão. Às vezes, nos davam roteiros cheios do tipo de linguagem que não seria adequada para um garoto de 7 anos."
"As pessoas costumavam implicar: 'Você não fica preocupado por ter seus filhos trabalhando nesse negócio?'", relembra Kevin Sr. "Mas eles trabalham em Os Miseráveis, La Bohème, belas obras de arte."
Em 2002, Nick assinou com a Columbia e lançou Nicholas Jonas, um álbum composto de músicas de louvor (um trecho de "Dear God": "Querido Deus, pessoas tentam pegar suas palavras e distorcê-las"). Mas a gravadora viu potencial em um trio composto pelos irmãos. Um disco foi gravado (It's About Time) e shows estranhos começaram a acontecer (abrir para a girl band Cheetah Girls na turnê Cheetah-licious Christmas). Os irmãos começaram a passar longos períodos longe da escola por causa dos compromissos.
"As outras crianças da escola achavam que nossa família era da Máfia", lembra Nick.
Mas, na mesma época, uma crise explodiu entre os Jonas. Durante uma viagem, Joe percebeu que Nick havia perdido muito peso. "Fomos nadar, ele tirou a camisa e eu surtei", se lembra Joe. "Parecia um esqueleto!"
Nick foi para um hospital, onde os médicos diagnosticaram diabetes. "Não sabia se a banda poderia continuar", conta Nick. Denise dormia a seu lado no hospital. "Os sentimentos pelos quais você passa em uma hora dessas são vastos", diz ela. "Há tristeza, pela saúde debilitada. Há culpa - 'O que fiz com o meu filho?' As pessoas não recebem instrução sobre isso. Assim que entendi o que era, me tranquilizei."
"Depois do segundo dia no hospital, entendi que tudo ficaria bem", conta Nick. "Só levaria um tempo até administrar e compreender."
A bomba de insulina acoplada às suas costas tem um pequeno catéter, que estabiliza o nível da substância em seu sistema. Está conectada a um dispositivo sem fio que Nick mantém no bolso de seu jeans; ele checa o aparelho constantemente para monitorar os níveis. Todos os dias, ele fura o dedo por doze vezes para checar se é preciso ou não corrigir o nível de açúcar de seu sangue. Virou uma rotina diária, algo quase natural. Ele conta que demorou nove meses até que se sentisse o mesmo. "Depois que você acha um padrão com a diabetes, a normalidade volta."
"Todos da equipe estão sempre em alerta máximo, atentos a cada movimento que Nick faz no palco em todas as noites de sua vida", completa Kevin Sr.
A época da descoberta da diabetes de Nick seria o momento certo para uma pausa nas atividades da banda. Mas não foi o que aconteceu. Em 2007, apesar das ininterruptas turnês, a Columbia Records comunicou que não lançaria o segundo disco dos Brothers.
"A justificativa que eles deram foi: 'Os números não foram suficientes'", diz Kevin Sr. "Foi devastador."
Ainda assim, antes do rompimento com a Columbia, os Jonas chamaram a atenção de Bob Cavallo, diretor da Buena Vista Music Group e ex-empresário de bandas como Lovin' Spoonful, Earth Wind and Fire, e de um obscuro cantor de R&B chamado Prince. Impressionado com os meninos, Cavallo os levou até Robert Iger, da Disney. O resto é história. Jonas Brothers, o primeiro álbum pela Hollywood Records, vendeu 1,4 milhão de cópias. Em 2007, os ganhos divulgados dos Jonas Brothers enquanto grupo foram de US$ 12 milhões. Assinaram um contrato multimilionário com a Live Nation, empresa de venda de
shows que também lida com U2 e Madonna. O clã agora vive em Los Angeles e comprou uma outra residência em Dallas, não muito distante de um country club de luxo.
"É só um lugar para ficar nas férias", diz o jovem Kevin. "Nem parece de verdade. Entro no carrinho de golfe, vou direto para o campo. E eles perguntam: 'Oi, Sr. Jonas, vai jogar hoje?' É a melhor coisa do mundo!"
O ingrediente secreto do fenômeno Jonas Brothers? Supercompartilhamento. A banda passa horas filmando e divulgando vídeos caseiros sobre tudo. Assisto a um vídeo de Joe dando com um taco de beisebol de plástico na cabeça de Nick, que já foi visto mais de 8 milhões de vezes. Na turnê, eles mostram no telão um vídeo de Nick colocando sua bomba de insulina. Há sempre gritos na plateia, já que a cena mostra um pedacinho do corpo do rapaz. "Acho que vamos editar essa parte", explica Kevin Sr. "Não é a hora ideal para elas gritarem."
E então há as já famosas sessões de fotos. Muitas bandas fazem isso - em geral com patrocinadores, ganhadores de concursos e VIPs. Mas os Jonas levam a coisa ao limite da resistência. Em Dallas, assisto aos rapazes atenderem a mais de 400 fãs em um calor de matar.
"Eles representam o novo negócio da música - trabalhe duro, encoste em seus fãs", me conta Brad Wavra, um bronzeado e hiperativo representante da Live Nation, enquanto assistimos a uma das sessões em Dallas. "Conhecemos uma banda que costumava limitar o número de fãs que ia atender - eram 50. Se tivesse mais que isso, eles dispensavam o excedente."
Até o momento, os rapazes seguem os rituais à risca. Dão atenção às sessões de fotos, notando o crescimento do número de adolescentes mais maduras, trajando vestidos vermelhos e salto alto. "Os pais brincam: 'Mantenha suas mãos longe da minha filha'", conta Nick.
Se há um assunto sobre o qual os Jonas não aguentam mais falar são seus "anéis de virgindade". Em uma tarde, no ônibus da banda, pergunto sobre os anéis prateados que são mencionados em todas as entrevistas feitas com eles.
"Já falamos o suficiente sobre isso", diz Nick, abrupto. "Preferimos nos focar na música e no filme."
Pressiono um pouco mais. Por que não falar a respeito? Afinal, os fãs (e os pais dos fãs) gostam do fato de eles usarem o tal acessório. Em todas as plateias em que estive, as garotas mostravam seus anéis. Uma porta-voz da James Avery Craftsmen, joalheria de temática cristã, me conta que as vendas do anel da virgindade "True Love Waits" ("o amor verdadeiro espera") subiram 25% em 2008. "Não sabemos exatamente por quê, mas subiram", conta.
Insisto. Joe olha para Nick e diz: "Vá em frente". "Bom", diz Nick timidamente. "Para nós, os anéis são uma lembrança constante para que vivamos uma vida de valores. É sobre ser um cavalheiro, tratar as pessoas com respeito e ser os melhores caras possíveis."
Foi algo que vocês decidiram em conjunto?
"Todos nós decidimos em algum ponto de nossa vida", diz Kevin. "Em nossos momentos particulares."
É a única hora em que há tensão com os irmãos. Fé e cultura pop formam uma mistura complicada e um tema polêmico nas mãos da imprensa. Os Jonas não escondem a espiritualidade, mas também não pregam em favor dela.
"Em um nível pessoal, a fé é muito importante", diz Kevin Sr. "Mas tenho arrepios toda vez que alguém se refere a eles como uma banda gospel, pelo simples fato de que eles não cantam músicas cristãs. Provavelmente por causa do meu histórico, eles acabaram sendo empurrados para o gospel. Mas não é o gênero deles."
Enquanto controvérsia da música pop moderna, precisar se preocupar se os Jonas podem ou não ser enquadrados como uma banda de música cristã, é um ótimo problema. A Disney já sofreu com Miley Cyrus, cuja imagem recebeu um duro golpe depois que a revista Vanity Fair publicou uma foto da atriz com as costas e os ombros de fora (feita pela renomada fotógrafa Annie Leibovitz) e que, dependendo de com quem se fala, pode ser qualificada como "arte elegante" ou "o primeiro sinal do apocalipse". Iger, da Disney, crê que o escândalo foi "um terrível exagero", mas, ao mesmo tempo, reconhece os riscos que uma empresa preocupada com a imagem como a Disney corre ao investir no imprevisível mercado do rock. "É complicado", diz Iger. "Não há garantias quando se trata de artistas que ainda estão em fase de crescimento e das mudanças de comportamento que ocorrem neste período. A chave é colocar tudo em perspectiva."
Os Jonas Brothers admitem que sentem a pressão. "Acho que sempre tentamos viver nossa vida de acordo com certos parâmetros", diz Nick. "A parte boa é que temos um ao outro. Na estrada, Joe e eu dividimos o quarto e conversamos até 2 da manhã. Temos um relacionamento que permite falar sobre qualquer coisa."
No fim, está tudo (assustadoramente) nas mãos dos garotos. Naturalmente, os Jonas dizem que querem fazer música para sempre. E, pelo fato de serem capazes de escrever suas canções, fica mais fácil acreditar ouvindo isso deles do que, por exemplo, do elenco de High School Musical. Os rapazes estão loucos para que as pessoas os vejam como uma banda de rock, e não como uma obsessão adolescente passageira. Nick admite que já pensou em gravar sob pseudônimo. "Seria demais", diz. "Talvez escrever para outros artistas, assinando outro nome."
A impressão é que Nick seria bem capaz de largar o estrelato e viver feliz mesmo assim. "O sucesso é ótimo", conta, durante o vôo. "Mas compusemos nosso álbum enquanto éramos dispensados pela gravadora e tocávamos para dez pessoas. Sabemos como é tocar só pela diversão."
O desafio, claro, é fazer com que o público dos Jonas amadureça com a banda em vez de crescer e rejeitá-los como se fossem um elefante de pelúcia cor-de-rosa. Mas é difícil - não são muitas as bandas capazes de ir de Please Please Me a Rubber Soul. Até agora, os Jonas não têm mostrado muito interesse em política ou pelos assuntos mundiais. "Nunca quisemos nos tornar uma banda que aborda política, porque mais cedo ou mais tarde isso acaba ficando complicado", diz Kevin.
O segredo é colocar nas músicas os problemas de sua vida real, o que não é fácil quando sua vida é protegida pela Disney. Mas o sucesso dos shows é "A Little Bit Longer", que Nick escreveu contando sua batalha contra a diabetes; não é bem o tipo de material ideal para karaokês.
Um pouco antes que eu fosse embora, aconteceu algo engraçado. Na minha última noite na turnê, no Verizon Wireless Amphitheater, em Irvine (Califórnia), uma foto é tirada logo depois da prece da banda. Por algum motivo, há uma grande preocupação; um agente da Disney está ansioso e polidamente pede que a fotografia seja deletada.
Enquanto o agente argumenta, o show vai começar. Nick, Joe e Kevin passam por nós com Big Rob logo atrás, as luzes se apagam e há o inconfundível som de dopamina e oxitocina sendo liberadas em massa. Os bastidores começam a vibrar, mas tudo o que consigo pensar é na foto. O que poderia ser? Por que a Disney iria pedir que deletassem? Será que Nick estava pegando uma garota? Kevin jogando ping-pong com o capeta? Bebidas? Drogas?
Mais tarde, naquela mesma noite, consigo ver a tal foto. É um retrato de Nick, Joe, Kevin e, sim, uma linda morena vestindo um top vermelho. Nick está com o braço em volta da cintura dela e ela com o braço em volta da cintura dele. Seu nome é Selena Gomez, uma das novas estrelas do Disney Channel. Há uma afeição legítima e óbvia na foto; os caras parecem os irmãos mais sortudos do mundo (o suposto "namoro jamais assumido" de Nick e Selena só teria terminado em fevereiro deste ano).
A foto em questão foi tirada um minuto antes que os Jonas Brothers, uma humilde banda de família, subissem ao palco para tocar para 15 mil pessoas, prestes a se tornarem um dos maiores nomes da música dos Estados Unidos.
A foto não me parece um problema. Me parece um retrato da melhor época da vida deles.
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