O Ártico está derretendo com mais rapidez do que o previsto – e a liberação de carbono e metano resultante pode se revelar catastrófica.
Por Jeff Goodell Publicado em 22/02/2010, às 10h10
Enquanto negociadores se reuniam em Copenhague para encontrar soluções para deter a mudança climática, os principais cientistas do mundo chegam a uma conclusão alarmante: o aquecimento global está acontecendo mais rápido do que se pensava. Acontece que o Ártico está derretendo com tanta rapidez que até mesmo os maiores especialistas em gelo estão estupefatos. Há apenas alguns anos, cientistas nos garantiam que a região só poderia ficar desprovida de gelo em 2100. Hoje, os dados sugerem que, dentro de uma ou duas décadas, haverá navios no Pólo Norte durante o verão. O Ártico em processo de derretimento é uma bomba-relógio em contagem regressiva para o clima da Terra - e, graças à nossa incapacidade de reduzir a poluição dos gases que causam o efeito estufa, o pavio já está aceso. "É como se o homem estivesse tirando a tampa da porção norte do planeta", diz Peter Wadhams, especialista em gelo da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. O Ártico é mais do que apenas um bloco de água congelada - é mais como um bloco de carvão congelado. Por baixo do gelo, a região é coberta por uma lasca de permafrost - com mais de 300 metros de espessura em alguns lugares -, um tipo de solo composto de árvores, plantas, mamutes peludos e outros materiais orgânicos parcialmente decompostos de organismos que viveram na região há milhares de anos. À medida que vai derretendo, esse material apodrecido envia dióxido de carbono para a atmosfera. Pior ainda, os dejetos são uma festa para micróbios, que os transformam em metano, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, pelo menos 20 vezes mais potente que o CO2. No total, há cerca de um trilhão de toneladas de carbono enterradas no Ártico - o equivalente a todas as reservas de petróleo, gás e carvão do planeta inteiro. Da perspectiva global, o derretimento do Ártico é o mesmo que acender a maior fornalha do mundo - que vai vomitar níveis catastróficos de gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera. Mas isso não é o pior. Uma quantidade igualmente enorme de metano está congelada no fundo dos mares rasos que rodeiam o Ártico. Na medida em que a água esquenta, esses blocos de gelo de metano podem subir até a superfície e liberar milhões de toneladas de metano - servindo mais ou menos para cozinhar o planeta da noite para o dia. Mesmo sem a liberação repentina de metano, o que está acontecendo no Ártico criou um ciclo vicioso que se autoalimenta e ocorre cada vez mais rápido, e que já está acelerando a taxa da mudança climática. Quanto mais o gelo derrete, cria mais água líquida, que absorve o calor mais rápido, que faz o gelo derreter mais rápido, que aquece a água mais - e assim por diante. "Uma das maiores questões na ciência climática é saber a rapidez com que esses ciclos se aceleram e crescem", diz Ken Caldeira, que elabora modelos climáticos no Instituto Carnegie. Um estudo descobriu que, durante períodos de perda rápida de gelo marinho, a terra firme se aquece três vezes mais rápido do que a média, amplificando o ciclo que se autoalimenta e acelerando ainda mais o aquecimento. É provável que o aquecimento do Ártico tenha grande impacto sobre o clima. Cientistas argumentam que a perda do gelo marítimo no verão já é em parte responsável por eventos climáticos esquisitos, como uma recente tempestade de neve em Bagdá. Em um efeito ainda mais assustador, o aumento das temperaturas no Ártico ameaça derreter os lençóis de gelo da Groenlândia com mais rapidez do que o esperado. Há apenas dois anos, um relatório da ONU sobre o clima previu que os mares não subiriam mais do que 58 centímetros até 2100. Hoje, em grande parte graças às recentes mudanças radicais no Ártico, os cientistas acreditam que, mesmo que adotemos medidas drásticas, ainda é provável que vejamos os níveis do mar aumentar em até 90 centímetros. E se não tomarmos uma atitude, como avisa James Hansen, da Nasa, o cientista climático mais respeitado dos Estados Unidos, os níveis do mar podem subir até 2,74 metros até o fim do século. Tal alta seria catastrófica para muitas grandes cidades, incluindo Nova Orleans, Londres e Xangai, assim como para as cerca de 40 milhões de pessoas que vivem em áreas baixas em países pobres, como Bangladesh.
A grande questão é: será que já é tarde demais para evitar uma catástrofe? Ninguém sabe. "Ainda não temos um sinal claro de liberação significativa de metano do permafrost", diz Ed Dlugokencky, especialista da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos. "Mas sabemos que, à medida que a região se aquece, é inevitável." Uma vez que o Ártico deixar de existir, não vai retornar por muito tempo - e é por isso que a diminuição dos gases que causam o efeito estufa é tão importante. Conforme afirma Lonnie Thompson, especialista em geleiras da Universidade Estadual do Ohio, "a Mãe Natureza é que decide o momento em que tudo acontece... e ninguém consegue ver o relógio dela."
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