<b>DE BRAÇOS ABERTOS</b> Amma recebe uma devota em Nova York, em julho - Pari Dukovic

Aquele Abraço

Amma, a guru conhecida como “A Santa dos Abraços”, já atraiu 32 milhões de pessoas para os seus braços – espalhando uma mensagem de amor, compaixão e lembrancinhas bem caras

David Amsden Publicado em 17/09/2012, às 12h07 - Atualizado às 12h07

Elas fazem a peregrinação todos os anos. São milhares de pessoas que avançam por uma estrada sem placas e sem pavimentação nas colinas selvagens dos arredores de São Ramon, um subúrbio a cerca de 50 quilômetros a leste de São Francisco. O destino é a área tranquila e grande do Centro M.A., um ashram que ganhou esse nome por causa de Mata Amritanandamayi, uma guru espiritual de 58 anos do sul da Índia. Conhecida por seus devotos como Amma, um apelido honorífico que significa “mãe”, ela é mais famosa como “A Santa dos Abraços”, devido à bênção que é sua marca registrada: um enorme abraço envolvente que seus admiradores descrevem como um acontecimento transformador – uma infusão de amor puro e incondicional que age sobre as pessoas como um elixir, limpando a alma e suscitando um estado de consciência mais elevado. Em qualquer lugar que Amma esteja, as pessoas esperam horas para poder se ajoelhar à sua frente e ser envolvidas em seus braços.

Dentro do Amrita Hall, como é chamada a estrutura modesta com telhado inclinado em forma de “A”, Amma está rodeada por uma multidão densa e ondulante. Vestida com um sári branco volumoso, a figura rechonchuda está empoleirada no alto de seu dais, um trono acolchoado coberto de guirlandas e com pétalas de rosas espalhadas por cima. Um sorriso astucioso e benevolente se espalha por seu rosto enquanto ela vai puxando uma pessoa após a outra de encontro a seu peito. É isso que ela faz quase todos os dias, com apenas algumas horas de descanso à tarde, estendendo-se até as 3, 4, 5 da manhã. Seu vigor é questão de reverência entre seus “filhos”, como os devotos referem-se a eles mesmos.

Amma passa boa parte do ano viajando pelo mundo para abraçar muita gente, de trabalhadores migrantes a celebridades, passando por pessoas do Ocidente obcecadas por ioga. Ela está aqui na segunda parada de sua turnê anual que passa por dez cidades da América do Norte, um trajeto de sete semanas que cruza o continente, começando em Seattle e terminando em Toronto – durante esse período, Amma vai dar algo em torno de 60 mil abraços, que vêm para se somar aos 32 milhões já computados.

“Para mim, no início, estava mais relacionado ao aspecto social de Amma, apenas encontrar pessoas que pensam como eu”, diz Gabriele Cook, uma moça extravagante de 29 anos, tatuada, que encontrei na entrada. Ex-pesquisadora de biotecnologia, ela largou o emprego há três anos e, desde então, passa períodos na companhia de Amma. Gabriele seguiu a guru por toda a Europa e passou duas temporadas extensas em Amritapuri, o ashram de Amma no estado indiano de Kerala, no sul do país, que é onde ela reside quando não está fazendo turnês e onde seus seguidores mais arrebatados fixam residência.

Amma é incomum entre os gurus indianos, para colocar a coisa em termos ocidentais, porque é completamente autodidata. Gurumayi, por exemplo – que tem papel de destaque no livro Comer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert –, a única outra guru viva que se aproxima do nível de reconhecimento global de Amma, foi designada à sua posição por seu próprio guru, depois de anos de estudo e de dedicação. Mas Amma nunca teve um guru. Seus devotos acreditam que ela é um ser raro que alcançou a iluminação completa por conta própria, uma alma divina em corpo humano. Como evidência disso, eles contam histórias que os seguidores de Amma sabem de cor: sobre quando ela era menininha, criada em um vilarejo de pescadores no Kerala, ela tinha natureza compassiva fora do comum, costumava dar sua comida a desconhecidos mais necessitados e consolava os doentes; sobre como os pais, hindus conservadores, não sabiam o que fazer com ela e, quando Amma ficou mais velha, quiseram arranjar um casamento para ela; sobre como Amma rejeitou isso e irritou seus familiares a ponto de um deles tentar envenená-la por trazer vergonha à família; sobre como Amma vivia ao ar livre, sozinha, meditando em um pequeno templo que construiu no terreno; sobre como as pessoas começaram a ouvir falar da menina misteriosa e passaram a fazer peregrinações para vê-la e, quando chegavam lá, ela abria os braços e as puxava para perto; como Amma certa vez chupou o pus da ferida contagiosa de um leproso; sobre como as pessoas começaram a chamá-la de Amma, por instinto; e sobre como a própria mãe dela, hoje uma crente, assim como o resto da família, a chama de mãe.

Mas Amma, assim como tanta gente que alcança o sucesso sem ter nascido famosa, pode traçar sua atual posição de destaque não apenas por meio de um carisma natural, mas também por sua esperteza em se aproveitar dele. Seu ashram na Índia, por exemplo, construído no terreno em que ela foi criada, antes não passava de algumas cabanas; hoje, transformou-se em uma espécie de cidade, com arranha-céus proeminentes, cerca de cinco mil residentes permanentes e semipermanentes e até 15 mil visitantes em um dia. Uma universidade e um hospital existem em seu nome. Ela usou o destaque para dar início a uma rede de organizações beneficentes, chamada Embracing the World, “Abraçando o Mundo”, que se concentra em fornecer alimento, moradia, educação e serviços médicos para os pobres. Suas organizações beneficentes arrecadam cerca de US$ 20 milhões em doações todos os anos – no entanto, é difícil dizer quanto vale o grupo de Amma. Seus ganhos materiais podem ser vistos no portfólio impressionante de imóveis que ela reuniu ao longo dos anos. O M.A. Center, em São Ramon, fundado em 1989, é seu posto avançado mais antigo nos Estados Unidos; mais recentemente, ela adquiriu uma mansão de US$ 7,8 milhões no estado de Maryland, para servir como ashram na área de Washington, D.C., assim como propriedades nos arredores de Chicago e de Boston, sem mencionar as espalhadas pela Europa.


As turnês têm o papel duplo de servirem também para arrecadar fundos. Em São Ramon, só posso dar alguns passos em qualquer direção antes de deparar com caixas de doações e, do lado de fora do templo, diversos vendedores ficam o tempo todo muito ocupados vendendo roupas, café e vitaminas. Enquanto isso, na parte de dentro, uma grande porção do templo foi transformada em uma espécie de feirinha especializada em tudo que está relacionado a Amma: camisetas, casacos, livros, DVDs, ímãs de geladeira, chaveiros, óleos, sabonetes, contadores de mantra. Há joias em prata abençoadas por Amma (de pulseiras que custam US$ 800 a uma coroa de US$ 5 mil). Um dos objetos mais procurados é a boneca de Amma: uma réplica da guru em pano. Vem em tamanho pequeno, médio e grande – US$ 45, US$ 90 e US$ 180, respectivamente – e a ideia é que forneça uma espécie de linha direta cósmica com Amma quando não se está na presença dela.

"Quando comecei a viajar com Amma, achei que seria por, tipo, uns seis meses”, uma moça me diz no segundo dia em que estou no ashram. “Isso foi há seis anos.” De fato, nos três dias que passei no local, foi tudo um borrão desprovido de sono em que o tempo assumiu propriedades maleáveis. Enquanto eu esperava pelo meu abraço, fiquei lavando louça e servindo comida, algo que todos os frequentadores são incentivados a fazer para compreender o valor de colocar os outros na frente de si mesmos. Então, depois de passar horas incontáveis na periferia, cheguei à conclusão de que estava na hora de cair nos braços de Amma, para experimentar a Experiência. Apesar de o clima predominante no local ser relaxado, uma espécie de local de descanso coletivo, há uma mudança de energia palpável quando vou chegando à frente da fila. Há cerca de 100 pessoas que acabaram de receber um abraço e que, como parte do protocolo pós-abraço, ficam sentadas em semicírculo ao redor da plataforma elevada de Amma, digerindo a sensação. E há a equipe que trabalha para preparar as pessoas para os abraços – algumas pegam quem está na fila pelos ombros e fazem com que ajoelhem, já outros garantem que todos tirem os óculos e outros ainda ficam lá sentados embrulhando chocolates Hershey’s Kisses em pétalas de rosas, que Amma entrega depois de cada abraço. Duas pessoas são voluntárias para a tarefa conhecida como “stargazer” (observador de estrela), um papel em que se senta aos pés de Amma e fica-se olhando para ela, embevecido. Essa é uma das tarefas mais cobiçadas na turnê.

Esses trabalhadores, muitos na casa dos 20 anos, usam pulseiras de plástico verdes, indicando que são integrantes da equipe de Amma, um grupo que conta com 275 pessoas para a turnê pela América do Norte. São postos cobiçados. Há quem acompanhe as turnês por conta própria durante anos, na esperança de que a dedicação lhes renda um posto como parte da equipe oficial no ano seguinte. O status de “integrante da equipe”, no entanto, pode ser um pouco enganador para alguém que tenha uma perspectiva tradicionalmente capitalista, já que a equipe de Amma não é composta simplesmente de quem está disposto a oferecer seu tempo, mas quem também está disposto a pagar para fazer essa oferenda. Neste ano, o custo de integrar a equipe gira em torno de US$ 2 mil, sem contar a viagem até Seattle, onde a turnê começou.

Os abraços dela são chamados de darshan, um termo em sânscrito que significa mais ou menos “visões do divino”, e, como agradecimento a essa visão, o costume é oferecer um presente a Amma antes do abraço. As pessoas chegam até ela trazendo de tudo, de cocos e barras de chocolate a artesanato, e, para quem se esqueceu de trazer algo, há uma mesa posta no começo da fila em que presentes para Amma estão à venda: buquês de flores que variam de US$ 5 a US$ 20, um chocolate Toblerone por US$ 5. (Reparo que a tarefa de um dos integrantes da equipe é recolher os buquês de flores e devolvê-los à mesa, onde são revendidos ao longo do dia.) Antes do meu abraço, um sujeito gorducho na casa dos 40 anos com cabelo castanho ensebado aparece com um pacote de biscoitos com noz-pecã para Amma. Ela o abre com o zelo de uma criancinha e, quando ela coloca um biscoito na boca, dois dos integrantes da equipe se apressam em colocar a mão em concha embaixo na boca dela para garantir que nenhuma migalha caia no cabelo do homem, que agora está com a cabeça enterrada no peito dela. Enquanto Amma o abraça, passa o biscoito, agora abençoado, para a multidão, e eu observo enquanto é partido em pedaços minúsculos – migalhas, na verdade – que são saboreados pelas pessoas ao redor.

Finalmente, chega a minha vez. O caos ao redor de Amma é irritante, mas ela parece imune a ele e, quando me puxa para os seus braços, algo acontece: tudo fica em silêncio e em paz, como se alguém tivesse fechado a porta da festa, e fico imaginando se esse puxão repentino, do caos para a calmaria, faz parte da atração do abraço. A certa altura, Amma termina o abraço e me olha nos olhos, então me puxa para junto de si mais uma vez, mais apertado, e dessa vez sussurra algo no meu ouvido que eu não compreendo muito bem. Mamma Mamma Mamma. Eu me sinto melhor depois de cair em seus braços, isso não posso negar, mas, como quando o barato termina, a euforia se desfaz com rapidez, principalmente quando me junto ao grupo pós-abraço ao redor dela.

Em janeiro deste ano, uma australiana de 53 anos chamada Gail Tredwell postou uma mensagem em um Grupo do Yahoo dedicado a ex-devotos de Amma, ou “Ex-Ammas”. Quando tinha 21 anos, Gail, uma moça impressionável que se apaixonou pela ideia de encontrar um guru enquanto viajava de mochila pela Índia, fez sua primeira viagem para ver Amma. Isso foi em 1980 e, na época, os seguidores da guru consistiam de um punhado de indianos de vilarejos próximos. Gail acabou ficando com ela durante 19 anos, tornou-se a primeira devota ocidental e foi testemunha de sua evolução firme para se transformar no fenômeno que é hoje.


A ex-devota saiu da organização no final de 1999, mas só foi revelar seus motivos no post de janeiro. A história de Gail Tredwell faz com que seja difícil desacreditar no que ela tinha a dizer. O post começava com suas razões pessoais para sair (“perda de fé”, “não estava feliz havia muitos anos”) e seguia pintando, com pinceladas ao mesmo tempo vagas e inquietantes, um retrato da vida com Amma que nos faz parar para pensar. Gail escreveu sobre “punhaladas pelas costas, crueldade, ódio, brigas por poder”. Falou de “coisas secretas que aconteciam” e de “tramoias, armações, planejamentos e desconfianças demais”. O mais aflitivo é que ela escreveu sobre “terrorismo – em um sentido sutil, não com armas nem nada” e sobre “violência (mental, emocional, psicológica e física)”.

Hoje, Gail Tredwell mora no Havaí e trabalha em várias coisas diferentes enquanto escreve um livro sobre o tempo em que passou com Amma (por enquanto, o título é “For the Love of God: A Memoir of Faith, Devotion and Pure Madness” – Pelo amor de Deus: memórias de fé, devoção e loucura completa). Ela é educada e direta, não parece amargurada com sua experiência, mas sim decepcionada.

Gail diz que, à medida que o sucesso de Amma crescia e ela passava mais tempo em palcos, foi ficando cada vez mais irritável fora dos olhos do público. “Realmente, ela era uma pessoa completamente diferente”, a ex-seguidora alega, e me conta uma história a respeito de como uma vez, quando ela cometeu um erro ao preparar arroz, Amma a jogou no chão puxando pelo cabelo e a chutou. “Esse tipo de coisa não era incomum.” Outra ex-devota, que pediu para não ser identificada, contou que uma vez levou um tapa na cara de Amma e presenciou o mesmo tratamento sendo dado a outros no ashram na Índia. Gail também ficou incomodada com algo que considerava uma contracorrente sombria que rodeava Amma. Ela afirma que a guru dava dinheiro discretamente aos pais e seis irmãos dela, que tinham sido pescadores, mas passaram a viver em casas palacianas. Amma e sua organização negam as acusações de Gail Tredwell, rejeitam a ideia de inadequações financeiras e dizem que o incidente do chute nunca ocorreu. A ex-devota, por sua vez, quer que eu compreenda que ela não acredita que Amma seja uma fraude ou uma charlatã. Ela acredita que Amma “não é um ser humano normal”, e que suas reservas de amor e compaixão são genuínas. “É só que não acredito que ela seja 100% divina.”

Eu segui a caravana de Amma – três ônibus fretados mais o trailer em que ela viaja – até Los Angeles, onde ela se acomodou no hotel Hilton ao lado do aeroporto internacional. O ambiente não podia ser mais diferente de São Ramon, com o terreno sereno do ashram substituído pelo grande salão de baile do hotel. O público também é diferente. Parece que a atriz Sharon Stone tem planos de dar uma passada em algum momento.

No terceiro dia em que Amma estava na cidade, ela me concedeu uma entrevista. Fui informado por diversos devotos (sendo que um deles dormia em um quarto com mais 11 pessoas, em um espaço feito para quatro), que durante as turnês Amma vive como eles e, em certo sentido, é verdade. Ela dorme junto com mulheres de seu círculo mais próximo em um quarto normal, mas sem as camas. No entanto, diferentemente de seus seguidores, ela também tem acesso à suíte presidencial, que é para onde me levam para meu encontro com ela. Amma aparece, flutuando pelo quarto com o sári branco que é sua assinatura. Ao me avistar, seus olhos se iluminam como aconteceu quando eu recebi o meu abraço, e ela abre os braços e me puxa na direção dela – é simplesmente o que ela faz. Ela me conduz até a sala da suíte e se senta em uma poltrona na minha frente. Apesar de conseguir compreender o inglês, um de seus swamis se senta no chão e faz as vezes de tradutor. Durante a conversa, Amma é tão encantadora quanto é opaca, fazendo com que muitas das respostas se desviem para o tipo de monólogo salpicado de metáforas a que ela dá preferência quando fala com o público.

Pergunto: algumas pessoas a acusam de não ser autêntica. Como trata essa questão? “Eu não os culpo”, ela diz. “Quando um poeta vê uma flor, ele escreve poesia sobre ela; um cientista faz pesquisa sobre ela; um namorado dá à namorada; uma minhoca a come; um devoto de Deus a oferece a Deus. Da mesma maneira, cada pessoa chega com sua própria atitude. Está no direito dela. Ela tem o direito de aceitar ou de rejeitar. Para mim, ambos os tipos de pessoas são iguais. Só me preocupo com o que eu posso fazer de positivo. Pessoas diferentes pensam coisas diferentes – essa é a natureza do mundo. As pessoas têm o direito de ter fé ou de não ter fé.”


Por ser uma figura endeusada para tanta gente, tem alguém que ela considera como Deus ou guru? “Para mim, tudo na criação é Deus”, Amma diz. “Não há nada além de Deus. Cada objeto é uma maravilha para mim.” Tentando conduzir a entrevista de volta para um lugar menos celestial, pergunto o que vai acontecer quando ela “abandonar o corpo”, como os devotos se referem à morte de um guru. Existe algum plano traçado para reconfortar os seguidores? “O nosso objetivo é viver o momento presente”, diz Amma, que, durante toda a entrevista, varia entre a primeira e a terceira pessoa quando fala dela mesma. “Até o próximo respiro não depende de nós. Por isso, Amma não pensa em nada assim. Tudo vai continuar seguindo adiante. Não sou ‘eu’ quem fiz crescer.”

Menciono os seguidores mais jovens, especialmente aqueles que abriram mão de tanto de tudo para viajar com ela, para morar em seu ashram. Será que ela se preocupa de eles estarem usando isso como uma espécie de fuga? “A espiritualidade não é uma forma de escapismo; é coragem”, ela diz. “O cachorro rói o osso seco pensando que é carne, mas, na verdade, o sabor que ele tanto aprecia vem dos ferimentos que o osso causa em suas gengivas.” Ela não nega que algumas pessoas podem vir até ela por motivos menos do que puros, mas, de um jeito meio perturbador, parece evitar assumir qualquer responsabilidade sobre isso. “Alguém que não sabe nadar vai se afogar se tentar nadar nas ondas do oceano”, diz. “Alguém que sabe nadar aproveita. Essa é a diferença.”

Será que ela acredita, assim como seus devotos, que alcançou a verdadeira iluminação? “Se eu disser que sim, então serão dois – um ego vai se erguer. Não é uma questão de chamar de flor, mas sim de se transformar em flor. Não dá para saber como o mel é doce se você escrever ‘mel’ em um pedaço de papel e ler.” Partindo do princípio, então, de que ela conhece a doçura do mel, por assim dizer, fico imaginando quanto tempo demora para se atingir paladar tão aguçado – quanto tempo, em outras palavras, um devoto precisa passar na companhia dela para alcançar a iluminação? “Independentemente de ficar muitos anos ou só um tempo curto, o que você aceita ou não depende da sua atitude mental”, ela explica. “A base do farol é o lugar mais escuro. Um mosquito nunca vai tirar leite do úbere de uma vaca, apenas sangue. A abelha tira mel da flor, mas o besouro só se dá bem na lama.”

E assim a coisa segue. A conversa dela vai ficando cada vez mais metafísica e impenetrável – até que o meu tempo termina. Quando me levanto para sair, Amma fica em pé e me abraça mais uma vez, apertando-me fortemente junto ao peito, e por muito tempo. Eu fecho os olhos e, por um instante, entrego-me. Escuridão. Calor. Calma. Durante aqueles poucos segundos, tudo que ela disse de repente faz total sentido, da maneira que os sonhos parecem reais até que você acorda. Então, ela me solta e, como é inevitável, a luz mais severa da realidade volta a se intrometer.

Amma

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