Patrick Doyle | Tradução: J.M. Trevisan Publicado em 20/11/2013, às 15h03 - Atualizado às 15h17
Há dois anos, quando o Arcade Fire estava no fim da turnê mundial do álbum The Suburbs, o grupo percebeu que precisava de uma mudança. Eles viajaram pelo Haiti devastado por terremotos, onde os pais da vocalista Régine Chassagne cresceram, visitando hospitais e fazendo um show na vila de Cange. “Mudou a nossa vida”, diz Win Butler, marido de Chassagne e líder da banda. No ano seguinte, eles voltaram ao carnaval anual de Porto Príncipe. “Havia gente vestida como escravo, com correntes e óleo de carro no rosto”, diz Butler. “Havia dragões cuspindo fogo de verdade na direção da multidão, e todo mundo tentando se esconder. De máscara e dançando, senti menos a distância entre corpo e espírito. É algo que faz você se sentir besta por estar em uma banda de rock.”
As viagens serviram de semente para o que se tornaria Reflektor, o épico quarto trabalho da banda. Eles haviam composto mais de 60 músicas no período de dois anos, entre estúdios e espaços improvisados em Montreal, Nova York, Louisiana e na Jamaica. Reflektor mistura os já clássicos hinos grandiosos do Arcade Fire com ritmos de dub reggae, punk-funk ao estilo The Clash e sintetizadores oitentistas. Todo o imaginário carnavalesco presenciado pela banda permeia as faixas, especialmente a sombria “Here Comes the Night” (que aparece duas vezes no disco, com arranjo diferentes). “Eu me abri para uma nova influência”, diz Butler sobre a música haitiana.
A faixa-título, que conta com congas furiosas e sintetizadores glaciais, tornou-se o grande norte do álbum. “No começo fiquei tipo: ‘Congas, hoje em dia, sério?’”, diz o parceiro de longa data Markus Dravs, que coproduziu e gravou o disco com o líder do LCD Soundsystem, James Murphy. “A última vez que eu havia usado congas tinha sido, acho, em um remix no fim dos anos 90.” David Bowie, fã e amigo da banda, passou para tomar um chá durante a sessão de mixagem em Nova York e adorou tanto a música que acrescentou alguns vocais.
Com dúzias de músicas compostas, a banda viajou para a Jamaica em junho de 2012 e encontrou Chris Blackwell, fundador da Island Records, que contratou Bob Marley e o U2. “Ele é provavelmente o cara mais interessante de todos os tempos para conversar sobre música”, conta Butler. Eles alugaram o Trident Castle – um palácio à beira do mar, construído por uma baronesa alemã excêntrica em 1979 na bela Port Antonio, montaram um estúdio na área principal e experimentaram alguns ritmos variantes do reggae. “Havia uma quantidade limitada de instrumentos”, diz Dravs, “mas uma inspiração enorme”.
Uma das faixas gravadas na Jamaica – “Normal People” – foi inspirada por uma pousada que Butler e Chassagne visitaram, cujos donos eram um casal britânico. “A mulher disse: ‘Vocês não são uma daquelas bandas esquisitas, são? São gente normal, certo?’”, diz Butler. “Foi estranho, porque eram eles os anormais no contexto jamaicano.”
De volta aos Estados Unidos, Murphy, Dravs e dois engenheiros mixaram as faixas em vários estúdios em Nova York – mas a banda se recusava a encerrar o processo. “Aconteceu com praticamente todas as músicas”, diz Murphy. “A gente mixava tudo, dava por encerrado e aí eles voltavam para Montreal e acrescentavam alguma coisa, mudavam e mixavam de novo. Foi um processo muito ambicioso.”
Em abril, Chassagne e Butler tiveram o primeiro filho (Como é ser pai? “Uma loucura”, diz Butler). No ano que vem, o Arcade Fire sairá em uma gigantesca turnê, junto com os percussionistas haitianos que tocaram com eles na apresentação no Saturday Night Live. “Estou empolgado para ouvir como a banda soará daqui a um ano, depois que já tivermos passado por um monte de lugares”, diz Butler. “Ficamos tocados pelas experiências que tivemos no Haiti e na Jamaica. Fiquei tipo: ‘Cacete, a gente tem potencial para ser muito bom. Podemos acabar ficando muito bons nessa coisa de música’.”
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