Com suas atitudes multifacetadas, Barack Obama pode dar bons exemplos a outros países – inclusive ao Brasil
Por Cristovam Buarque Publicado em 09/11/2009, às 16h11
Durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos, em 2008, fui perguntado sobre qual dos dois candidatos seria melhor para o Brasil. Respondi que não via diferença para o Brasil e nossas relações com os Estados Unidos. Mas Obama era obviamente melhor para a Terra e, portanto, seria melhor também para o Brasil. Logo depois de sua posse, tive um artigo publicado no jornal El País, da Espanha, com o título "As Cores do Presidente". Ali, eu dizia que Obama já era o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, mas precisava provar se seria o primeiro presidente verde, pela preocupação ambiental; o primeiro presidente branco, pelo compromisso com a paz; o primeiro vermelho, pela prioridade ao social; e o primeiro multicolorido, pela consciência e defesa da diversidade.
Passados pouco mais de seis meses, Barack Obama já deu provas de que não será apenas o presidente negro.
Desde sua posse, há uma distensão nas relações internacionais, favorecendo o caminho da paz. Corajosamente, ele reverteu a política anterior de ameaças, que propunha criar um escudo protetor contra mísseis russos, usando bases no Leste Europeu. Unilateralmente, ele suspendeu esse projeto, que tenderia a acirrar a corrida armamentista e mesmo trazer ameaças de guerra ao quebrar o equilíbrio que mantém a chamada estratégia de dissuasão que garante a paz.
Desde o início, Obama tem sido um presidente com coloração verde. Seus discursos, suas prioridades, seus gestos têm mostrado sua preocupação, intenção e determinação de fazer uma inflexão na economia norte americana e, especialmente, na matriz energética.
Sua primeira entrevista a uma televisão estrangeira foi à TV Al-Jazira, que leva ao mundo a visão árabe. Com isso, Obama deu prova de modéstia, tolerância e respeito nunca antes visível em todos os presidentes norte-americanos. Nesses oito meses de presidência, ele tem reafirmado esse respeito aos demais povos, a suas culturas e religiões. Ao reconhecer, na recente Assembleia Geral da ONU, que os Estados Unidos não têm o poder nem querem ser o solucionador dos problemas do mundo, ele saiu da tradicional política de ser a polícia do planeta. Suas posições diante das minorias internas têm sido de uma busca constante de respeito à diversidade, evitando inclusive assumir posições de preferência negra em oposição à tradicional primazia dos brancos.
Mais importante, Obama já mostrou que é um presidente vermelho, com sua luta pela educação e pela saúde. Seu programa de universalização da saúde certamente o gesto mais revolucionário na política social norte-americana, desde 1º de janeiro de 1863, quando o presidente Abraham Lincoln assinou a Lei de Abolição da Escravidão. Ele supera os programas de Food Stamps, o fim da discriminação racial nas escolas e as reformas sociais do presidente Lyndon Johnson. Por isso, ele está enfrentando resistência das forças conservadoras. Na educação, também mostrou sua cor vermelha. O seu programa de recuperação da economia reserva para a educação cerca de 20% dos gastos totais, enquanto no resto do mundo os recursos foram dirigidos a recuperar a credibilidade dos bancos e para retomar a venda de automóveis. Prova de sua preocupação e de seu papel como líder da educação em seu país foi o fato de, em setembro, ele ter decidido fazer um discurso em cadeia nacional, com todas as pompas do cargo, para cumprimentar alunos, pais e professores no dia da volta às aulas. O simples fato de fazer o discurso do alto de seu cargo e com a carga de sua liderança e carisma mostra uma prioridade raramente vista em políticos anteriores, que só usam cadeia nacional para falar de economia ou segurança nacional. O conteúdo do discurso foi igualmente importante, ao citar o impacto da educação sobre sua própria vida e ao cobrar mais empenho dos pais, mestres e alunos.
Barack Obama já não é apenas o primeiro presidente negro. Ele já mostrou que veio para ser o presidente vermelho, branco, verde e colorido. E isso lhe permitirá servir como um exemplo para o Brasil. Talvez ele venha a ser pior do que um presidente republicano nas relações comerciais, porque, com seus compromissos nacionais com os trabalhadores norte-americanos, vai tentar proteger seus cidadãos e a economia de seu país. Mas, se é melhor para a Terra, será também melhor para o Brasil.
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