Posicione-se você também diante das mais recentes rusgas do rock
Miguel Sokol Publicado em 18/11/2014, às 17h23 - Atualizado em 25/11/2014, às 14h59
Depois de assistir perplexo ao esforço dos candidatos para se esquivarem de questões às vezes até simples, com o único intuito de não perderem votos nas últimas eleições, decidi recuperar o exercício da objetividade aqui. Todo santo dia, portais-sites-blogs-tuítes-e-afins divulgam uma nova rusga musical. Divulgam, mas, como os candidatos,
não se posicionam, obviamente em nome da famigerada imparcialidade, que nada mais é que omissão fantasiada de credibilidade.
Por isso eu resolvi me colocar, pois, segundo a Wikipedia, “o quiabo é uma cápsula fibrosa, cônica, verde e peluda” que, segundo eu mesmo, ao ser cozida libera uma baba lisa e escorregadia, perfeita para batizar essa tendência à omissão que nós devemos combater: o quiabismo.
Morrissey vs. Harvest: o cantor acusou publicamente a gravadora de não promover seu disco como deveria e, segundo o próprio, ele foi dispensado por isso. Após a demissão, Morrissey botou toda sua banda no palco vestindo camisetas vermelhas e pretas estampando a frase “Fuck Harvest”, mas o feitiço virou contra o feiticeiro: por US$ 16 uma camiseta dessas pode ser sua através do site, pasme, da gravadora! E o lucro será todinho de quem o cantor quis agredir. Se por ventura o Morrissey não tivesse razão, agora tem.
Marcelo Rubens Paiva vs. Roger Moreira: Eu me recuso a reproduzir o que disse o vocalista do Ultraje a Rigor sobre a ditadura, foi ultrajante.
Sharon Osbourne vs. U2: A digníssima esposa do Príncipe das Trevas declarou que o disco Songs of Innocence foi disponibilizado de graça em todos os iPhones do mundo porque, se fosse vendido, ninguém estaria disposto a comprá-lo. Nessa rusga, não é a inveja da Sharon que me surpreende, mas a reação do público que desaprovou não o disco do U2 em si (o que seria perfeitamente compreensível), mas o presente que lhe foi dado. Os usuários alegaram invasão de privacidade – usuários que provavelmente usam o Facebook aos borbotões sem, pelo visto, nunca terem lido os termos de uso da rede social. Tenha a santa paciência! Esses vestiram a carapuça da expressão “chato até para ganhar presente”.
Lorde vs. Lana Del Rey: Lorde disse que Lana está sempre cantando sobre dirigir um Bugatti e outras ostentações que nada têm a ver com sua realidade. Lana respondeu afirmando que a música “Fucked My Way Up to the Top” é sobre uma cantora que a acusou de não ser autêntica e logo depois copiou todo seu estilo. Ninguém sabe ao certo se Lana se referiu a Lorde, e não importa, pois o novo disco da Marianne Faithfull deixa as duas falando sozinhas.
Posicione-se também! E cobre posicionamentos. Sobre a guerra no Oriente Médio, o casamento gay, o que for necessário; antes que o nosso planeta passe de azul e redondo para verde e cônico, como bem define a Wikipedia. É baba.
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