Sem mudar quase nada, J. Mascis veio com sua banda Dinosaur Jr. para cinco shows em várias partes do Brasil
Por Filipe Albuquerque Publicado em 17/11/2010, às 14h33
A voz preguiçosa de quem saiu do dentista com a boca anestesiada não está na secretária eletrônica da casa de J. Mascis. A mensagem gravada é padrão, daquelas já programadas no equipamento. Mas ela e seu dono passaram por aqui pela primeira vez entre os dias 25 e 29 de setembro, com sua Fender Jazzmaster espetada em um pequeno arranha-céu de Marshalls barulhentos e seus dois companheiros fiéis, Lou Barlow e Murphy.
Foram cinco shows no país: dia 25 no teatro da UFPE, em Recife - dentro do festival Coquetel Molotov -, Concha Acústica de Salvador no dia seguinte, e 28 e 29 no Comitê, em São Paulo, com ingressos esgotados - o que rendeu um set grátis em uma pista de skate da capital paulista. Dias antes da primeira apresentação no Brasil - um depois do combinado com a reportagem -, J. Mascis falou à Rolling Stone. Curto, mas sem perder a ternura, como os esporros de guitarra que o tornaram um semideus para algumas gerações de indie kids, afirmou não ter a menor ideia do que encontraria por aqui. "Esperamos ser surpreendidos", disparou.
O Dinosaur Jr. dá a impressão de gravar sempre o mesmo disco. De Dinosaur, de 1985, a Farm, lançado em 2009, passando por clássicos alternativos como Bug (1988), Green Mind (1991), os problemas e a reconciliação com Barlow e Murphy, o fim e o retorno, os elementos são sempre os mesmos: o meio do caminho entre Black Sabbath e Neil Young. Com a preguiça vocal e a habilidade guitarreira habituais de Mascis, distribuídas em faixas definitivas como "Freak Scene", "Start Choppin'" e "Feel the Pain". "Acho que meus gostos e o nosso som não mudaram muito ao longo dos anos", confirma.
Essa química influenciou um punhado de grupos indie brasileiros, que emulou guitarras, melodias e a postura freak desleixada de Mascis. Eles estão por aí, vide Pelvs, Cigarretes, Radiare e Loomer. "Não sei muito sobre isso", entrega, lacônico, sua ignorância sobre seus discípulos no Brasil. Também não há planos para um novo disco da banda, pelo menos até 2011. "Estou terminando um álbum acústico solo, que sai no ano que vem", informa, sem revelar nome e data.
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