Com letras fortes e engajadas, Yzalú faz rap com bases calcadas no violão
Gabriel Nunes Publicado em 19/04/2017, às 11h34 - Atualizado às 11h46
A musicalidade de Yzalú aflorou cedo. Criada em São Bernardo, município do ABC Paulista, a rapper cresceu rodeada pela coleção de vinis da mãe, uma das responsáveis por apresentar a ela nomes como Bezerra da Silva e Marvin Gaye. Hoje, aos 34 anos, a artista, que estreou em 2016 com o álbum Minha Bossa É Treta, evoca um episódio significativo da sua juventude: o primeiro LP que ouviu. “Foi Dignidade (1987), da Leci [Brandão]”, relembra. “Ainda não era bem um despertar musical. O que me chamou atenção foi a capa, que tem a própria Leci. Eu me reconheci nela, eu me senti representada.”
Yzalú começou dentro do rap nacional com a faixa “Mulheres Negras”. Escrita por Eduardo, ex-Facção Central, a canção antecipou a estética sonora criada por Yzalú em Minha Bossa É Treta: letras politizadas, com arranjos calcados em uma sonoridade orgânica, ressaltada pelo violão.
Não à toa, representatividade é uma das pautas recorrentes nas composições da cantora. Sendo uma pessoa com deficiência física, negra e moradora da periferia, Yzalú tem no rap uma ferramenta empoderadora e de resistência. Seja para combater preconceitos raciais e sociais, seja para romper barreiras relacionadas ao gênero. “Os manos só têm a ganhar se reconhecerem que a cultura [do hip-hop] também é das mulheres e de todas as pessoas marginais deste país. A cultura é mundial. Ela é também dos transgêneros, das lésbicas, dos gays. É uma esfera gigante.” Yzalú acredita que a arte e o diálogo estão entre as melhores maneiras de conscientizar “pessoas que não entendem o diferente”. No entanto, assume que essa não é uma tarefa simples. “Não sou feminista por opção, mas por condição”, crava a rapper. “De onde eu venho, a gente acaba sendo feminista pela nossa condição social e não pelo conhecimento acadêmico da coisa. É preciso sempre resistir. Se eu não fosse resistente, talvez não estivesse trocando uma ideia com você.”
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