<b>Suave Menestrel</b><br> Roberto Menescal no Rio de Janeiro, em uma rara pausa - Marcos Hermes

Bossa Suprema

Cheio de projetos e ideias, Roberto Menescal, um dos criadores da Bossa Nova, celebra 80 anos de vida sem jamais diminuir o ritmo intenso

Paulo Cavalcanti Publicado em 16/11/2017, às 12h16 - Atualizado às 12h17

A conversa com Roberto Menescal aconteceu no dia 25 de outubro. Justamente naquela data, o violonista, compositor e produtor celebrava 80 anos de vida. Enquanto o celular dele apitava com mensagens e mais mensagens com felicitações, o artista, um dos artífices da bossa nova, detalhava novos projetos, relembrava o passado e falava da durabilidade artística e pessoal dele. No momento, Menescal relança Bossa Nova Meets the Beatles, que sai pela Deck – o trabalho havia sido disponibilizado em 2016 apenas digitalmente. No disco, ele toca ao violão 11 clássicos do Fab Four, acompanhado pelo cantor Claudio Duarte.

Menescal explica que, apesar do envolvimento dele na execução, o projeto na verdade foi idealizado por Carlos Coelho, guitarrista do Biquini Cavadão – que também pilota a produção. “Em um almoço, o Carlos perguntou se eu gostaria de fazer algo com a música dos Beatles. Ele me dirigiria na produção. Como eu já havia feito projetos relacionados à banda, topei”, diz. O repertório inclui canções com estrutura complexa, como “Eleanor Rigby” e “A Day in the Life”, de forma que Menescal teve que se desdobrar. “Junto ao Carlos, vi onde eu poderia alterar aqui e ali. Pedi licença aos representantes dos Beatles para dar uma mexida na estrutura harmônica de algumas canções”, conta sobre o registro, que tem como atrativo extra a presença do amigo Andy Summers, ex-guitarrista do The Police. Ele toca na imortal “Yesterday”.

Menescal acabou de lançar também Mr. Bossa Nova, álbum feito com o grupo vocal Quarteto do Rio, surgido das cinzas do tradicional Os Cariocas, que terminou com a morte do fundador Severino Filho em 2016. Ele também idealiza um disco ao lado do letrista e escritor Abel Silva. A cantora Leila Pinheiro, velha colaboradora dele, está preparando outro songbook com criações do mestre. E ele ainda irá participar do vindouro disco do Bossacucanova, que tem como integrante o filho do artista, Márcio. “É um projeto mais balançado, mostrando que dá para dançar ao som da bossa nova.”

Menescal sempre foi assim, um profissional dedicado e envolvido em inúmeros projetos. Nunca parou de trabalhar. Isso vem acontecendo desde a década de 1950, quando foi um dos artífices da bossa nova, e posteriormente, quando por 15 anos exerceu o cargo de diretor artístico da gravadora Polygram.

Em seguida, ele se tornou independente, atuando em sua própria gravadora, a Albatroz. Mas nem por isso deixou de ser um cara ocupado. Muito pelo contrário, como conta: “Eu tenho uma forte ligação com o Japão, por causa do grande interesse deles pela bossa nova”. O músico diz que já foi para lá exatamente 31 vezes. “Na década de 1990, eles ligavam para mim e pediam ‘Menescal, queremos algo como canções do Frank Sinatra no estilo da bossa nova’. Em um certo ano, fiz cerca de 20 produções especialmente direcionadas ao mercado japonês”, fala. Ele se prepara para em breve encarar uma nova bateria de trabalho. “Em 2018, serão comemorados os 60 anos de bossa nova e já tem muita coisa engatilhada”, antecipa.

A nostalgia não interessa a Menescal. “Eu tenho é saudade do futuro.” Mas, se ele não gosta de revirar o passado, lembra com respeito de Ronaldo Bôscoli, parceiro dele em clássicos como “O Barquinho”, “Telefone”, “Você” e “Rio”. Bôscoli, que também era jornalista, tornou-se um dos ideólogos da bossa nova. Ele morreu em 1994, aos 66 anos, e era um notório bon vivant. “Eu e o Bôscoli éramos como noite e dia”, lembra Menescal. “As pessoas estranhavam nossa amizade e parceria.” Mas, segundo o produtor, tudo dava certo porque os limites eram respeitados. “Ele trabalhava durante o dia na [revista] Manchete. À noite, nos encontrávamos por cerca de três horas antes de eu ir dormir e do Ronaldo, por sua vez, cair na boemia carioca.”

Roberto Menescal está ciente de que é um dos poucos remanescentes da primeira geração da bossa nova, já que Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Sylvia Telles, Nara Leão, Luiz Bonfá e muitos outros já não estão mais por aqui. “Pois é, esse pessoal insistiu em partir cedo”, lamenta ele, que chega às 8 décadas de vida com ótima saúde. “Eu era muito ansioso quando jovem”, fala. Com o tempo, Menescal passou a se policiar e mudou a filosofia de vida. “Hoje, penso assim: ‘Ok, está chovendo, não posso sair. Então, vou arrumar as estantes’.” Ele também sabe que os antigos companheiros exageravam no álcool. “Nunca fui de beber. Só um pouquinho de vinho, e basta.”

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