Atuando em diversas frentes, o artista ROGÉRIO DUARTE ajudou a definir visual e ideologicamente as diretrizes do tropicalismo
Paulo Cavalcanti Publicado em 24/07/2015, às 18h42 - Atualizado em 23/03/2018, às 20h03
Quando o assunto é tropicalismo, os nomes que geralmente vêm à cabeça são os de músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé. Mas existiu um batalhão de outros talentos por trás do movimento que mudou a cultura nacional a partir da década de 1960. Um deles foi Rogério Duarte, um intelectual de mil habilidades que deixou uma marca indelével como artista gráfico, músico, cineasta, tradutor, compositor e poeta, entre outras atribuições. Duarte esteve presente desde o começo do movimento e foi um dos principais arquitetos daquela explosão cultural que repercute até hoje, dentro e fora do Brasil.
Agora, a obra dele pode ser apreciada pelo grande público. Desde o dia 20 de junho, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro está apresentando a exposição Marginália 1, uma retrospectiva do legado de Duarte. A mostra vai até 16 de agosto e reúne cerca de 70 obras, incluindo capas de discos, publicações e cartazes, além de trabalhos inéditos e objetos pessoais, como notas, esboços, rabiscos, vídeos, fotos, ensaios e poemas. É uma oportunidade única para apreciar o universo do influente artista.
Nascido em Ubaíra, interior da Bahia, em 1939, Duarte se mudou para o Rio de Janeiro no início da década de 1960. Sobre suas principais influências, ele cita o “carnaval da Bahia e a arte brasileira em geral”. Obviamente, não foi só. “Sou intelectual e professor, assim tive de estudar muito a história da arte”, detalha.
Nesse processo, ele absorveu diversas teorias até chegar a um estilo próprio de criação; também estudou pintura clássica, se inteirando do trabalho de impressionistas, modernistas e futuristas. “Sou uma soma tropical de quase tudo o que se fez antes”, resume. Os inventivos tempos do tropicalismo, sempre presentes na memória do artista, foram marcantes – mas não só pela arte. “Tudo foi interrompido pelo Ato Institucional Nº 5, em dezembro de 1968, que trouxe exílios, prisões e torturas”, ele relembra, falando sobre o período mais rígido da ditadura brasileira.
Porém, apesar da carga negativa trazida pelo governo militar instituído em 1964, a vida cultural permaneceu intensa, e talvez até mais prolífica do que em outros tempos. “Aquele momento antes da sombra [do AI-5] marcou um período luminoso para a cultura do Brasil. Para sobrevivermos ao golpe que tinha fechado as portas para as manifestações mais tradicionais, tentamos retomar a militância por meio do tropicalismo”, explica. A atmosfera daquela época era muito livre, repleta de convivência, diálogos e atuações coletivas, o que levou à criação de diversas obras-primas atemporais.
Duarte esclarece que sua atuação, assim como a dos outros tropicalistas, foi orgânica. Apesar de seu peso naquela cena, ele não acha que teve o papel de mentor do movimento. “Nunca entendi muito o significado dessa palavra”, desconversa.
Dessa forma, o baiano se define como um intelectual que participou das ideias de uma geração que incluíam uma intensa movimentação em campos que envolviam música popular, cinema, artes visuais, literatura e política. Hélio Oiticica, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Tom Zé, Glauber Rocha e Waly Salomão – eles e muitos outros tiveram um papel importante no tropicalismo, como o próprio Duarte reconhece. “Olhando agora, aquele foi um período realmente muito interessante, em que, de certa maneira, as portas da história se abriram para nós.”
Andrea Bocelli ganha documentário sobre carreira e vida pessoal
Janis Joplin no Brasil: Apenas uma Beatnik de Volta à Estrada
Bonecos colecionáveis: 13 opções incríveis para presentear no Natal
Adicionados recentemente: 5 produções para assistir no Prime Video
As últimas confissões de Kurt Cobain [Arquivo RS]
Violões, ukuleles, guitarras e baixos: 12 instrumentos musicais que vão te conquistar