Música para encantar
Lia Amâncio Publicado em 06/08/2007, às 14h50 - Atualizado em 11/09/2007, às 11h22
"Uma banda tem que ter uma identidade estética própria. Acredito que é isso que a torna viável. Para fazer sentido, ela tem que acrescentar alguma coisa [para o mundo da música], e nesse ponto acho que desenvolvemos um bom trabalho. Não conheço outros grupos no cenário nacional que façam um som igual ao nosso". Quem diz isso é o vocalista e guitarrista Renato Martins, tentando explicar o som do Canastra.
Ao mesmo tempo em que remete o ouvinte ao dixieland, ao country, ao swing-jazz, ao rockabilly e à surf music norte-americanos, o som produzido pelo sexteto carioca não poderia ter nascido em outro lugar que não o Rio de Janeiro - nem tanto pelo sotaque, certamente menos carregado de maneirismos locais do que o de bandas conterrâneas, mas porque mesmo fazendo referência a toda a história do rock, há algo ali que também lembra Mário Reis, Almirante e Assis Valente. Numa época em que é só sacudir uma árvore que caem dúzias de bandinhas fazendo o som da moda, o Canastra consegue real e genuinamente soar como uma boa novidade.
O segredo está na dobradinha talento e carisma: Renato, cantor, guitarrista e compositor, sempre esteve a serviço da ótima música desde as priscas eras do Acabou La Tequila. "Comecei a fazer umas músicas que não cabiam no Tequila, que tinham uma unidade. Ficou clara pra mim a necessidade de montar um novo projeto para tocar esse repertório".
Viciado no som da big band Squirrel Nut Zippers, ele encontrou um excelente parceiro em Edu Vilamaior, figura conhecida da cena rockabilly carioca - e que, para sua surpresa, ainda tocava baixo acústico, o que casava perfeitamente com suas intenções musicais no momento. "O Edu é fundamental. O cara pesquisa muitas coisas e abastece a banda com informações e referências não apenas musicais, mas também de filmes e imagens. Logo no primeiro ensaio, em 2001, percebi que a coisa toda ia rolar", conta.
Um ano depois, o Influenza começava a tocar e agradar a gregos e troianos. Só o que não agradava era o nome, daí surgiu o Canastra, que já foi um quarteto e hoje tem formação de big band: além de Renato e Edu, completam o time Marcelo Callado (na bateria, que tocou em Cê, de Caetano Veloso), o guitarrista Fernando Oliveira e os metais de Marcelo Magdaleno (no sax) e Marco Rafael (no trombone).
Em 2004, os cariocas lançaram o CD Traz a Pessoa Amada Em 3 dias, produzido por Gabriel Thomaz (Autoramas) e Jimmy London (Matanza), distribuído pela independente Monstro Discos e apontado como um dos cinco melhores do ano pelo jornal O Globo. Em março próximo, lançam o segundo, Chega de Falsas Promessas, pela Sony/BMG e produzido por Kassin e Berna Ceppas - e por onde passam, não há vivalma que não se encante com a música do Canastra ou com o show, onde sobra energia, bom humor e performances inacreditáveis, seja em um palco enorme, seja na livraria na esquina da sua casa. Porque, se assistir a um show do Canastra do começo ao fim já é o equivalente a um full house, dar a sorte de ouvir a banda com violino, com as vozes de Nina Becker ou Nervoso ou com o guitarrista Oliveira tocando trompete é quase um royal flush. Como nunca se sabe quais cartas estes rapazes escondem na manga, recomendamos que você não perca nenhum show.
A meta dos cariocas para 2007 é tocar mais vezes fora do Rio de Janeiro. "Sempre que tocamos fora, a recepção é tão boa que é como se nós estivéssemos tocando em nossa cidade. Com a internet, fica mais fácil para o público conhecer as músicas. Nosso show é bem divertido e o público se identifica rápido - embora o som não seja dos mais comuns", diz Renato. O próximo passo, então, será "conquistar a América do Sul, a Europa e um terceiro continente a sua escolha". E pode apostar suas fichas de que você será conquistado também.
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