Sidney Magal atravessa cinco décadas de carreira se mantendo popular para além do “brega”
Paulo Cavalcanti Publicado em 19/10/2017, às 13h51 - Atualizado às 13h52
Cerca de 40 anos atrás, Sidney Magal era um dos maiores ídolos nacionais, presença constante nas rádios com canções como “O Meu Sangue Ferve por Você”, “Amante Latino”, “Tenho” e “Sandra Rosa Madalena”. Apelidado de O Cigano, Magal era um símbolo sexual por excelência. Com 1,90 m de altura e rebolando de maneira sensual, unia esses atributos a um repertório que se traduzia em um irresistível convite ao prazer e à dança. Na época, porém, havia uma polarização nos campos estéticos e musicais. Quem não consumisse a MPB “pura” de Chico Buarque, Elis Regina e dos tropicalistas era tachado de brega e alienado. E Magal, que só pretendia entreter os fãs, era alvo de críticas justamente por isso. Atualmente, o cantor dá risada, já que sua carreira acabou bem mais duradoura do que a de muita gente que na época era considerada “revelação” da MPB. “Eu era cafona, mas hoje vão atrás de mim”, gargalha.
Não é incomum presenciar histórias de reinvenção no mundo artístico, muito menos de gente que era menosprezada e depois virou cult. Sidney Magal se enquadra com perfeição nesta categoria. Além de ainda cultivar fãs do período áureo, ele viu seu público se renovar ao longo dos 50 anos de carreira, completados em 2017.
O cantor vem comemorando a marca com diversos eventos. Um deles foi uma apresentação em agosto, em São Paulo, no Espaço da Américas. O show, intitulado Bailamos, contou com a participação de Ney Matogrosso, Rogério Flausino (Jota Quest), Ana Carolina, Rincon Sapiência e Alexandre Pires e serviu para a gravação do terceiro DVD de Magal, que será lançado pelo Canal Brasil. Outra novidade é a biografia dele, que sai em outubro. Chamada de Muito Mais Que um Amante Latino, a obra dá voz a Magal. Nela, ele conta histórias curiosas e relata como é sobreviver no pantanoso showbusiness brasileiro por tanto tempo (coloquem muitos altos e baixos nesta equação).
Aos 64 anos, o cantor, nascido no Rio de Janeiro em 1953 e batizado como Sidney Magalhães, não se importa com o fato de não ser mais aquele jovem de corpo perfeito do final dos anos 1970. Afinal, a simpatia, o desembaraço e uma dose de humor autodepreciativo permanecem intactos.
Antes de se firmar como astro popular, Magal era crooner e atuava na noite, cantando diversos estilos. Só que o jovem sabia que a concorrência era grande e que precisava de um diferencial. Acabou moldando sua imagem na de um astro de uma geração anterior à dele, mas que era sucesso na época. “Eu admirava o Tom Jones e me inspirei nele”, conta.
“Tom era uma sensação e achei que poderia ser um similar dele aqui no Brasil.” Magal, felizmente, nunca foi uma cópia de Jones. Em vez de emular as potentes baladas no estilo Las Vegas do intérprete galês, ele optou por uma roupagem latina, caliente e dançante, algo bem tropical e brasileiro. “Eu viajava muito à Europa para me apresentar em boates. Lá, pesquisei e trouxe muita coisa diferente para o Brasil, não só a música, mas também as roupas berrantes que eu vestia no palco.”
A imagem de Magal era de uma leve rebeldia, mas ele sempre manteve os pés no chão. Começou a trabalhar cedo e, assim, adquiriu um senso de profissionalismo que o acompanha até hoje. Também seguia à risca os conselhos de Roberto Livi, um cantor e compositor da época da Jovem Guarda que se tornou o empresário e a luz condutora da carreira dele nos anos 1970: “O Livi dizia: ‘Sidney, tem muita criança que gosta de você. Elas veem você na televisão e te imitam. Por isso, dê um bom exemplo!’”. O cavalheirismo o acompanha até hoje. “Atendo todo mundo, tiro selfie com o pessoal em avião. Mas eu me vigio. Se estou em um voo, procuro não dormir. Imagina só se alguém tira uma foto do Magal babando na poltrona!”, brinca.
Depois de viver décadas no Rio de Janeiro, ele está há um bom tempo morando em Salvador, Bahia (“Por motivos de segurança e financeiros”, explica). Desde o auge da carreira, Magal mantém o nome distante de escândalos. O casamento dele com Magali (que, por sinal, é baiana) já dura quase 35 anos. O casal tem três filhos. Um dos projetos do cantor é levar para o cinema a história de amor deles, particularmente o momento em que se conheceram, quando ela tinha 16 anos e ele estava começando a fazer sucesso. “Bati os olhos nela e já senti que era o amor da minha vida”, garante Magal, dono de uma mente afiada e um bom contador de histórias. “É uma trajetória bonita e diferente que merece ser contada.”
Entre os aspectos inusitados da vida do artista está o parentesco dele com Vinicius de Moraes. Eles eram primos de segundo grau por parte de mãe. “Eu o encontrava de maneira intermitente. Afinal, ele era um poeta, um cantor, escritor e diplomata, um homem do mundo”, relembra. Certa vez, devido a questões familiares, os dois artistas tão diferentes chegaram a morar no mesmo prédio, no Rio de Janeiro. Magal pedia composições a Vinicius, que respondia: “Rapaz, com um corpo desse, uma voz dessa, você ainda fica me pedindo musiquinha?”. O poetinha argumentava: “Se eu tivesse essa sua estampa, você acha que eu estaria cantando sentado em um banquinho com um copo na minha frente?”
Na Hora Certa
Ideia de lançar biografia surgiu em 2012
O livro Muito Mais Que um Amante Latino (Irmãos Vitale) foi escrito pela jornalista Bruna Ramos da Fonte. “Em 2012, eu colhia depoimentos para o meu livro Essa Tal de Bossa Nova, e falei com o Magal. Ele disse que poderíamos escrever sobre a vida dele, mas que teria que ser no momento certo”, ela relembra. Não haveria momento melhor que as comemorações dos 50 anos de carreira. “Na obra, eu conto a rica vida dele. Aí está um garoto que foi incentivado pelo primo Vinicius de Moraes e virou um grande astro popular”, conclui a autora.
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