Guitarrista comenta novo disco e relembra o show histórico que fez em Woodstock.
Andy Greene | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 13/06/2014, às 12h27 - Atualizado em 25/06/2014, às 17h01
Quatro décadas depois de transformar “Oye Como Va” em um dos maiores sucessos em espanhol na história da parada de sucessos norte- -americana, Carlos Santana
finalmente gravou um álbum inteiro de pop latino, o recém-lançado Corazón, que conta com convidados como Gloria Estefan, Juanes e Pitbull. Agora, o músico de 66 anos está na estrada com Rod Stewart, e tem uma apresentação marcada no local original do festival Woodstock, em 15 de junho. No emblemático evento, em 1969, Santana fez um show transcendental (movido a mescalina). “Espero que possamos celebrar os mesmos princípios de novo, que eram paz, amor e boa música”, ele diz. “E espero que tenham um ácido do bom desta vez.”
Como foi regravar “Oye Como Va” com Pitbull?
Foi fantástico. Ele provavelmente testou umas 17 configurações diferentes para a canção. Pitbull faz músicas que me lembram de “We Will Rock You” [do Queen] ou “Start Me Up” [dos Rolling Stones]. É o cara que gera esse tipo de energia nos estádios.
Você espera tocar alguma música com Rod Stewart se vocês subirem ao palco juntos?
Quero fazer algo como a versão de “Day Tripper” que Otis Redding fez em 1967 no Olympia [em Paris]. Gosto de tirar as pessoas de sua zona de conforto, incluindo eu. É onde estão os arrepios.
Você tocou em Woodstock sob o efeito de mescalina. Quanto tomou?
Bom, foi difícil eu me lembrar de qualquer coisa na apresentação até ver o vídeo. Pensando bem, aquilo beirou a idiotice, porque era muito assustador lá de cima.
Aquela foi a última vez em que você subiu ao palco tão fora de si?
Não, isso continuou por mais alguns anos. Depois de Woodstock, falei para Deus: “Nunca mais faço isso”, porque fiquei muito assustado. Mas ele me perdoou por quebrar essa promessa. Aprendi algumas coisas com isso tudo.
Ouvi dizer que você se reuniu com a formação clássica do Santana e está gravando inéditas com a banda pela primeira vez desde 1972.
Sim, fico feliz em contar. Neal Schon [que fundou o Journey quando saiu do Santana] começou isso. Ele me procurou como um míssil guiado.
Você pretende fazer uma turnê com o grupo?
Acredito que sim. Tem sido muito divertido voltar ao estúdio com eles. Se você ficar perto de uma floresta, consegue ver as árvores emanando oxigênio. Estar com essa banda é assim. Dá para ouvir a música saindo só de olhar para eles.
Você também se reuniu com seu antigo percussionista, Marcus Malone, que foi preso por assassinato e estava morando nas ruas.
Ele foi muito significativo na minha vida. Estava com ele quando Martin Luther King levou um tiro. Marcus me apresentou a John Coltrane. Até recentemente ele morava em um contêiner na rua. Quando o vi, minha voz interna disse: “Coloque um envelope de dinheiro na mão dele”. Garanti que recebesse cuidados. Vou convidá- lo para tocar pelo menos
duas músicas com o Santana original. Tudo o que você pode fazer é oferecer algo a alguém, e cabe a essa pessoa mudar de direção.
Você acabou de ser premiado no Kennedy Center Honors. Falou com o presidente Barack Obama na cerimônia?
Conversamos um pouco. Tive de prometer a todos ao meu redor que me comportaria. Há um lado meu que quer questionar as coisas. Ele prometeu que pararia a guerra e gastaria mais dinheiro em educação do que em prisões, o que ainda não fez. Estava dizendo isso ao meu mentor, Harry Belafonte. Falei: “Todos estão me dizendo para eu não
ir na defensiva”. Ele chegou bem perto e me disse: “Não totalmente”. Mas todo mundo falava: “Isto é como um abraço do país para você, comporte-se”.
O que disse para o presidente Obama, então?
Falei para o presidente e para a primeira-dama: “A sensação foi tão boa quando tocaram minha música e todos ficaram emocionados”. E eles perguntaram: “Por quê?” “Porque tocamos música negra para brancos.” Eles ficaram: “Ai, meu Deus, espero que as câmeras de TV não estejam filmando isto”. Mas é o que fazemos. Vem desde Elvis. Tocamos música negra para os brancos.
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