Veja os mais memoráveis momentos do cantor: clássicos grunge no Soundgarden, hits com o Audioslave e o poético material solo
Rolling Stone EUA Publicado em 19/05/2017, às 17h47
Chris Cornell foi uma das vozes características do rock dos anos 1990, ao lado de nomes como Kurt Cobain, Eddie Vedder e Layne Staley – e a voz mais arrojada e mais virtuosa de todas elas. O líder de Soundgarden e Audioslave, que morreu aos 52 anos, será para sempre lembrado pelo gemido feroz e altíssimo, possivelmente a conexão do grunge com os padrinhos dos anos 1970, como Robert Plant, do Led Zeppelin. Ele também foi um compositor extremamente versátil, que fez sem muito esforço transições entre o heavy metal ameaçador e o folk reflexivo, com escapadas para pop eletrônico e até trilha sonora.
A seguir, veja 15 músicas que dão uma amostra do escopo do legado de Chris Cornell.
Na faixa de abertura do debute do Soundgarden, Ultramega OK, a abordagem demoníaca de Cornell – gutural, mas completamente sob controle, estendendo vogais como quem brinca de play doh – é um complemento para as letras esmaecidas, que contam a história de uma garota cujo estilo de vida despreocupado resulta em uma morte prematura. É uma adequada abertura para Ultramega OK, um álbum no qual a banda explora os aspectos mais maltrapilhos do mundo com humor cortante e rock pesado.
As músicas “Hunger Strike” e “Wooden Jesus”, do Temple of the Dog, foram compostas por Cornell para o Soundgarden bem antes de Andrew Wood morrer, mas, segundo o cantor, elas não soaram exatamente certas para um álbum da banda. “‘Hunger Strike’ surgiu de uma crise existencial que o Soundgarden viveu na época”, ele disse à Rolling Stone na reunião do Temple of the Dog. “É um anúncio de que estou sendo verdadeiro ao que estou fazendo, independente do que aquilo vai gerar, mas nunca vou mudar o que faço por dinheiro ou sucesso.”
A música é um dueto entre Cornell e Eddie Vedder, então um novo cantor na cena que viajou a Seattle para fazer testes para o Mookie Blaylock, a banda que em pouco tempo ficaria conhecida como Pearl Jam. Depois que o Pearl Jam também alcançou um nível internacional de reconhecimento, a música foi promovida novamente e se tornou um imenso hit do rock em 1992.
Andrew Wood, o excêntrico frontman do grupo glam de Seattle, Mother Love Bone, era amigo próximo de Cornell – eles chegaram a ser companheiros de quarto por um ano. Depois da morte de Wood, em 1990, por overdose de heroína, Cornell deu vazão ao luto em duas músicas, “Reach Down” e “Say Hello 2 Heaven”. Segundo ele, as músicas surgiram “tão rápido que nem lembro do processo”, e não se encaixavam no Soundgarden. Cornell então passou as demos para Jeff Ament, baixista do Mother Love Bone, que, ao lado dele e do guitarrista da banda, Stone Gossard, trabalhou para finalizá-las.
O resultado final de “Say Hello 2 Heaven” é lúgubre e denso, com a voz de Cornell lentamente se transformando em um grito de procura e as guitarras suavemente lamentando em torna dela. A música abre o disco Temple of the Dog (1991), um documento de um “futuro” supergrupo que ajudou a solidificar Seattle como epicentro do que era conhecido como “rock moderno.”
Depois de o Soundgarden chegar a posições altas nas paradas de sucesso pela primeira vez em 1989, com Louder Than Love, Chris Cornell começou a ficar mais introspectivo. Este olhar para dentro o ajudou a começar a compor músicas diferentes para o terceiro disco da banda. “Nunca fui muito autobiográfico nas minhas letras”, disse Cornell em 1992. “Então uma frase tipo: ‘I'm looking California and feeling Minnesota’, de ‘Outshined’, era só algo interessante”. O segundo single lançado de Badmotorfinger não só se tornou uma das favoritas dos fãs, mas inspirou o título de Feeling Minnesota (no Brasil, Paixão Bandida), drama de 1996 com Keanu Reeves.
“Tenho uma vívida memória de ficar olhando o campo pela janela e me sentindo reprimido”, Chris Cornell disse à Spin sobre a ocasião em que dirigiu por algum lugar da Europa e escreveu a letra da música, que acabaria abrindo Badmotorfinger (1991). Quando a banda voltou a Seattle, Cornell, que estava ouvindo muito Tom Waits na época, “queria criar esse Black Sabbath caipira que eu nunca tinha ouvido”. A música acabou regravada por Johnny Cash no disco de covers Unchained, de 1996.
A comovente e subestimada contribuição solo de Cornell para a trilha sonora de Singles (no Brasil, Vida de Solteiro) veio de uma obra de ficção: uma fita cassete solo feita por Cliff Poncier (personagem de Matt Dillon) depois de ele sair da banda fictícia Citizen Dick. Cornell ficou com a responsabilidade de escrever as músicas para a fita e uma delas é esta balada folk reflexiva. “É fantástico”, recorda o diretor Cameron Crowe sobre o EP que viria ser conhecido simplesmente como Poncier. “‘Seasons’ surge e você não consegue não pensar: ‘Uou, esse é um cara que nós conhecemos apenas no Soundgarden’. E claramente ele é incrivelmente criativo, mas quem já o ouviu fazendo música assim?”.
O primeiro single do Soundgarden a entrar nas paradas de sucesso foi uma escolha audaciosa para furar o mainstream: uma percussão intricada com 7/4 de andamento e a letra sombria e solitária de Cornell sobre uma figura excêntrica de Seattle, Artis the Spoonman, que usa uma colher como instrumento musical. “É mais sobre o paradoxo de quem ele é e como as pessoas o percebem”, disse Cornell ao Request em 1994. “Ele é um músico de rua, mas quando está tocando nas ruas, ele recebe um valor e é julgado de um jeito completamente errado pelas outras pessoas. Eles acham que ele é alguém da rua, ou que está fazendo aquilo porque não consegue um emprego. Eles o colocam alguns níveis abaixo na escala social pelo jeito com que percebem alguém que se veste diferente. A letra expressa o sentimento de que eu me identifico muito mais com alguém como Artis do que com as pessoas que o assistem.”
Para uma banda que sempre sofreu para negar a influência do Led Zeppelin no som, aqui está a performance vocal mais lírica e estoura-pulmão de Chris Cornell em todos os tempos a aparecer em um single do Soundgarden. “É sobre tentar parar de ser padronizado e fechado e recluso, algo que eu sempre tive problema”, disse ele à RS EUA em 1994. “É sobre tentar ser normal e simplesmente sair por aí com outras pessoas. Tenho uma tendência a ser bastante fechado e não ver ninguém e não ligar para ninguém por longos períodos de tempo.”
“Compus a música pensando que a banda não ia gostar”, disse Cornell à RS EUA sobre o mais icônico single do Soundgarden. “Depois ela se tornou o maior hit do verão”. Cornell escreveu a mais importante música do Soundgarden em cerca e 15 minutos. Sobre a letra no estilo Magical Mistery Tour, ele disse à revista Rip: “É tipo só uma paisagem, um tipo de música brincando com o título”. Depois ele esclareceu, ao Entertainment Weekly: “Ouvi errado um âncora na televisão e pensei que ele disse ‘black hole sun’, mas ele disse outra coisa... Depois eu pensei: 'Bem', ele não disse isso, mas eu ouvi isso’, e então criei esta imagem no meu cérebro e achei que seria um título de música legal.”
Não tão imediato quanto os outros singles de Superunknown, “Fell on Black Days” continua dotada de um sentimento sombrio. Na desacelerada e blueseira faixa, Cornell confronta o histórico com depressão. “É um sentimento que todo mundo recebe”, ele disse à Melody Maker em 1994. “Você é feliz com a sua vida, tudo vai bem, as coisas estão animadoras – quando de repente você percebe que está infeliz ao extremo, ao ponto de estar muito, muito assustado. Não há um evento em particular com o qual você esteja chateado, é só você perceber um dia que tudo na sua vida é uma merda!”.
Principal single do disco Down on the Upside (1996), “Pretty Noose” se apresenta com uma ameaçadora névoa de psicodelia. Os riffs levemente exóticos com wah-wah do guitarrista Kim Thayil criam o clima para as letras tristes e impressionistas de Cornell. Ele descreve uma situação que está em discordância com a necessidade de alguém: “Pretty noose is pretty hate”. Em entrevista de 1996 à MTV, Cornell explicou que fez a música sobre uma “ideia ruim sedutoramente bem embalada... algo que parece bom no começo mas depois retorna para te incomodar.”
O supergrupo Audioslave anunciou sua existência com uma faixa furiosa, o perfeito casamento entre o poderoso metal alternativo do Rage Against the Machine e o lamento de Cornell. Tom Morello, que estava lendo sobre o “destemido e irresoluto” chefe dos Estados Unidos à época, criou o título. Sobre o refrão nervoso – “Go on and save yourself, and take it out on me” –, Cornell disse que foi uma ocasião de “eu gritando comigo, olhando no espelho.”
“Like a Stone”, o segundo single do Audioslave, acabou sendo a música de Cornell mais bem posicionada nas paradas de sucesso em toda a carreira. Na performance, ele mostra o famoso alcance vocal com paixão e rispidez incríveis.
Ao fazer o tema de 007 - Cassino Royale (2006), Chris Cornell visou a era mais sombria de Daniel Craig – e se tornou o primeiro homem a cantar um tema de James Bond em quase 20 anos (para colocar em perspectiva, o último tinha sido Morton Harket, do a-ha). Cornell era fã tanto de Bond quanto de Craig, mas também amava os temas de outrora. “Sou fã do Paul McCartney e lembro de como ele compôs e cantou o tema de Bond, ‘Live and Let Die’”, disse Cornell ao Songwriter Universe. “Então foi animador que eu pudesse fazer um tema para o Bond... Gravamos no estúdio de George Martin, na Inglaterra. Foi o lugar e a experiência perfeitos para fazer uma música para James Bond.”
A última faixa de Cornell a entrar nos charts antes da morte dele foi não apenas um tributo a Prince – que morrera em 2016 –, mas um quente e inesperado epitáfio para o próprio cantor. Os caminhos vocais virtuosos percorridos por Cornell perseguem a melodia nesta gravação íntima. “A música de Prince é a trilha sonora para o universo bonito e comovente que ele criou, e somos todos privilegiados por fazer parte disso”, escreveu Cornell no lançamento da música. “‘Nothing Compares 2 U’ tem uma relevância atemporal para mim e para praticamente todo mundo que conheço. De um jeito triste, agora a própria letra dele nesta música não poderia ser mais relevante do que neste momento, e eu canto ela agora em reverência, fazendo meu tributo ao inigualável artista que deu às nossas vidas muito mais inspiração e fez o mundo muito mais interessante.”
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