Michael Bay construiu a carreira com explosões e robôs gigantes. Agora, dá uma guinada com um filme baseado em fatos reais
JOSH EELS Publicado em 24/02/2016, às 19h07 - Atualizado em 25/02/2016, às 11h54
Quando Michael Bay quer exibir um trecho de um de seus filmes ainda inéditos, liga para Anthony. Anthony vai de Los Angeles para onde quer que Bay esteja, levando dois discos rígidos criptografados digitalmente – um principal, um para backup – que permitirão que o filme de Bay seja projetado em um determinado cinema em um determinado horário antes de, basicamente, se autodestruir. “Ele faz isso para Steven e para mim”, conta o cineasta, citando Spielberg. Hoje, o cinema escolhido fica em um complexo de South Beach, Miami, que Bay reservou para a ocasião. O cineasta está sentado na terceira fileira de uma sala totalmente vazia, com os pés apoiados na poltrona da frente. “Não fazemos nada pequeno”, afirma.
Michael Bay, pequeno? É como falar para o sol não brilhar, para a grama não crescer, para um dispositivo nuclear de 10 toneladas não explodir. De Armageddon à franquia de US$ 3 bilhões Transformers, Bay passou seus 20 anos de carreira ficando maior e mais explosivo. Juntos, os 11 filmes dele geraram mais de impressionantes US$ 5 bilhões, fazendo de Bay o quarto diretor mais bem-sucedido de todos os tempos. “Nas bilheterias internacionais. Nos Estados Unidos, sou o número 2”, ele corrige educadamente.
O novo filme de Bay se chama 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, e estreia este mês no Brasil. É sobre o ataque a um posto diplomático norte-americano na cidade de Benghazi, na Líbia, em 11 de setembro de 2012. Mais especificamente, sobre os seis norte-americanos contratados pela CIA que defenderam o local depois de um ataque de milícias líbias. Quatro norte-americanos foram mortos, entre eles o embaixador J. Christopher Stevens e dois ex-oficiais da Marinha.
O caso Benghazi também se tornou uma arma política para congressistas republicanos dos Estados Unidos que tentam abalar a campanha presidencial de Hillary Clinton, secretária de Estado na época do ocorrido. Então, quando um cineasta da linhagem de Bay anuncia que está fazendo um filme sobre o assunto, gera-se muita ambiguidade. As piadas praticamente se escreveram sozinhas: “Estrelando Martin Lawrence como o presidente Obama! Adriana Lima como Hillary Clinton!” Até gente que trabalhou no filme questionou se o homem era a escolha certa.
“Pode ser boato”, Bay afirma, “mas ouvi que [o produtor] Erwin [Stoff] disse: ‘Não quero usar o Michael como diretor. Prefiro um diretor melhor para isso’.” (Stoff rebate: “Acho que isso foi um pouco distorcido”.)
Os supostos pecados cinematográficos de Bay foram bem documentados: as explosões, as falas bobas e, de novo, as explosões. A essa altura, ele tem pouco interesse em se defender.
“O que há para defender?”, questiona. “Veja o filme. Faça sua escolha. O que sei é que quando mostro esses caras fazendo o que fazem [em 13 Horas], é preciso.” É justo ser cético sobre as alegações de realismo de um diretor que chegou a dizer, sobre uma bola de fogo em Armageddon: “Sei que não existe fogo no espaço, mas é um filme e a maioria das pessoas não sabe disso”.
A casa de Michael Bay em Miami fica na North Bay Road. Por trás do portão balinês antigo há uma piscina enfeitada com corais e dois cães do tamanho de filhotes de hipopótamo – os docílimos mastiffs ingleses de Bay, chamados Rebel e Bonecrusher. A governanta dele, Carmen, atende à porta com um sorriso. Bay, de 50 anos, surge atrás dela usando camisa xadrez, jeans e tênis Nike verde-limão. Ele parece um espantalho em excelente forma.
O diretor se mudou para Miami há oito anos e meio, depois de se apaixonar pela cidade enquanto fazia Bad Boys II. Por um tempo, alugou a antiga casa de Madonna, depois comprou esta propriedade do lutador Hulk Hogan por US$ 17 milhões. Bay também tem uma casa em Los Angeles, onde nasceu.
Ele filmou 13 Horas no ano passado em Malta, a cerca de 320 km do litoral da Líbia. “Michael é muito ciente da energia da equipe”, afirma o ator James Badge Dale, que faz o contratado da CIA e ex-oficial da Marinha Tyrone “Rone” Woods. “Ele vinha até mim e dizia: ‘Badge, Badge – olha o pessoal. Estão entediados, não? Precisamos explodir alguma coisa’.”
Histórias sobre o comportamento do cineasta no set são lendárias. Sean Connery uma vez o chamou de “veado” ou “imbecil”, dependendo do dia em que Bay está contando a história, e Megan Fox, estrela de Transformers, notoriamente o comparou a Napoleão e Hitler. “Ele é como um general no set”, diz Mark “Oz” Geist, um ex-oficial que sobreviveu ao ataque a Benghazi. “Aquilo me fez pensar em alguns dos grandes líderes dos Estados Unidos.”
“Uma das minhas coisas preferidas, que foi difícil na época, mas, em retrospecto, é hilária, é que, depois de algumas tomadas, Michael se aproximava de você e dizia: ‘Nada do que você acabou de fazer está no meu filme’. Ele nem estava irritado – era genuinamente tipo: ‘Isso foi horrível’”, conta o ator John Krasinski, que interpreta o oficial da Marinha Jack Silva (um pseudônimo). O diretor tem sua versão: “Tenho me esforçado para ser gentil, mas às vezes fico impaciente. Não lido bem com gente boba”. Quando bay está em miami, trabalha na ala leste da casa dele, em um escritório no 2º andar, com cartazes de Transformers na parede e uma cadeira de diretor no canto. Sobre a mesa, oito monitores de computador estão montados em semicírculo; parece o tipo de lugar que poderia lançar um ataque de drones. Dois deles estão conectados a linhas telefônicas para que Bay possa fazer videoconferências com seus editores em Los Angeles; vários outros estão conectados às telas de computadores de diversos editores para que o cineasta possa ver o que estão fazendo em tempo real. Entre as tarefas como produtor e o trabalho como diretor, ele normalmente tem meia dúzia de projetos acontecendo por vez. No momento, além de 13 Horas, está fazendo a pós-produção do próximo Tartarugas Ninja, que será lançado ainda em 2016, e a pré-produção do próximo Transformers, previsto para meados de 2017, do qual é diretor. “Estou fazendo o Transformers... 5, não?”, Bay pergunta, temporariamente perdendo a conta. Balança a cabeça. “Estou trabalhando muito.”
Ele pega um dos telefones fixos e liga para seu escritório em Santa Monica. “Oi, preciso falar com a ILM.” A empresa de efeitos visuais Industrial Light & Magic é onde ele teve seu primeiro emprego temporário, arquivando storyboards de Os Caçadores da Arca Perdida quando tinha 15 anos. Agora, Bay é um dos maiores clientes da companhia.
A conversa começa com a animação de Tartarugas Ninja, e Bay sugere que a cabeça de um rinoceronte mutante seja aumentada. A seguir, vem 13 Horas. Ele já viu esses efeitos anteriormente; de repente, aponta um efeito que não precisava de conserto. “Rapazes – qual é! Quem mudou esta merda? Está bom do jeito que é! Falando sério, isso é desperdiçar dinheiro. São cinco paus que poderíamos ter usado para sair para beber ou jantar” (“As pessoas não entendem”, afirma Erwin Stoff, “mas ele é um dos diretores mais fiscalmente responsáveis que existem”).
Finalmente, vem Transformers. Eles mostram a Bay uma imagem subaquática de uma espaçonave alienígena que passou por uma colisão, depois um novo caminhão Transformers. Nenhum está no nível que ele quer. “Puxa, tenho muito trabalho a fazer”, Bay diz, balançando a cabeça. Agradece à ILM e desliga o link de vídeo, depois se vira para mim. “Não é bom quando não estou envolvido.”
“Com Transformers, ainda me divirto”, prossegue o cineasta. “É divertido fazer um filme que 100 milhões de pessoas verão, mas este será o último. Preciso passar as rédeas para outra pessoa.”
Lembro a Bay que ele falou a mesma coisa antes dos dois últimos filmes da cinessérie. “Eu sei”, replica. “J.J. [Abrams] me disse: ‘Você é o único que poderia fazer isso’. Mas é hora de seguir em frente. Mais um.”
Em uma tarde alguns dias depois, ele entra no Soho Beach House, a filial de Miami do exclusivo clube com sedes em Hollywood e Londres. É sócio do local, mas esqueceu o cartão, então tem de passar na recepção para poder entrar. “E qual é seu nome?”, pergunta a intimidadoramente linda recepcionista, que não pareceria deslocada como o objeto de desejo em um filme de Michael Bay.
“É Michael Bay?”, ele responde.
“E o sobrenome?”
“Ahn, B-A-Y”, soletra.
Vendo a cena se desenrolar, lembro a segunda metade da famosa citação de Megan Fox, que recebeu bem menos atenção do que a primeira. “Quando você o tira do set e ele não está no modo diretor, gosto muito da
personalidade dele”, disse. “[É] tão incrivelmente estranho. Não tem habilidade social alguma. Ele é vulnerável e frágil na vida real.”
“Às vezes posso ser tímido”, concorda Bay quando sentamos. “Em jantares, fico quieto, mas quando estou no set, não. É esquisito.” Quando não está trabalhando, Michael Bay vive como um cinquentão solteiro de Miami. Vai para a academia, anda de jet ski. De vez em quando vai a uma boate em South Beach cujo dono é amigo dele – mas normalmente só toma uma ou duas cervejas e vai para casa.
Depois de passar um tempo conversando com o diretor, não é difícil perceber que ele gostaria de diminuir o ritmo. “Definitivamente, no futuro próximo, quero ter um filho”, afirma. “Cheguei muitas vezes perto disso.
Veremos.” Ele namorou por muito tempo uma ex-coelhinha da Playboy e tem a reputação de ser um garanhão em Hollywood, mas não tem sido visto em público com ninguém há muito tempo. Pergunto se a mãe dessa criança já existe. “É melhor eu evitar responder a essas perguntas”, desconversa, sorrindo. “Não sei. Veremos o que acontece.”
Por enquanto, Bay tem outras questões para administrar: é dono de um jato Gulfstream G550 de US$ 50 milhões, e também tem um Bentley, uma Range Rover, um Escalade, uma Ferrari, uma Lamborghini e dois Camaros da franquia Transformers. Questiono, então, qual é o valor dele. “Diria que meio. Meio ‘B’.” Admite que é bastante. “Só que você economiza seu dinheiro e doa. É isso o que farei. Provavelmente criarei um
fundo enorme de proteção à vida selvagem, algo com a África.” Quanto ele doará? “Tudo. Mas ainda não. Um dia.”
O diretor conta então a história de seu avô materno, Jack Kearns. “Ele cresceu durante a Grande Depressão. Ganhou um pouco de dinheiro vendendo peças de caldeira para máquinas de lavanderias industriais e economizou cada centavo. Íamos jantar na casa dele e ele pegava o molho de salada que não comia e devolvia na embalagem.” Foi Kearns quem deu a Bay um de seus conselhos preferidos, que tem sido muito precioso para ele: a única maneira de ganhar dinheiro, dizia, é vendendo para gente comum, para a classe média.
O avô deu outros conselhos ao neto. “Ele sempre dizia: ‘Você nunca dará certo no cinema’”, Bay lembra, rindo. “E, quando se cansar, entrará para o negócio de lavanderias’.”
Sem Estatueta
Entre os diretores mais lucrativos do mundo, Bay é o único que não tem um Oscar. E, para ele, tudo bem
Michael Bay insiste que não pensa muito a respeito do legado cinematográfico dele. “Acho que é uma palavra tão arrogante”, afirma. “‘Seu legado’. Dá um tempo.” Mesmo assim, dos seis diretores com maior arrecadação nas bilheterias dos Estados Unidos na história – Steven Spielberg, Bay, Peter Jackson, Robert Zemeckis, James Cameron e Ron Howard – todos têm um Oscar de diretor, menos Bay. Ele não quer um? “Bom, você não amaria ter tudo?”, ele responde, rindo. “Não amaria se 100 milhões de pessoas vissem seu filme? Não amaria uma estatueta? Não amaria se todos fossem gentis com você? Só que a vida não é assim. Não perco o sono por causa disso. Você chega a certa altura na vida em que está à vontade com quem é e não precisa provar nada
para ninguém. Faça o que te deixa feliz.”
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