Será que a ciência e a verdade vão se impor aos vendedores de veneno?
Al Gore Publicado em 05/01/2012, às 12h12 - Atualizado às 16h31
A primeira vez que me lembro de ouvir a pergunta “Mas é mesmo verdade?”, foi quando eu era menino e assisti a um espetáculo itinerante de lutadores profissionais no ginásio da escola Forks River, em Elmwood, Tennessee. A evidência de que era real era palpável: “Eles estão mesmo machucando um ao outro! Aquilo é sangue de verdade! Olhe só! Não dá para fingir isso!” Mas obviamente havia ali um roteiro, com mocinhos por quem torcer e bandidos para vaiar. O personagem mais fora do comum – e em alguns aspectos mais interessante – desse drama era o árbitro: sempre que o bandido cometia um desrespeito grosseiro e óbvio das “regras”, como usar uma cadeira de metal para acertar a cabeça do mocinho, o árbitro sempre parecia preocupado com algum dos homens fora das cordas ou estava olhando para o outro lado. No entanto, sempre que o mocinho – depois de absorver mais violência e injustiça do que qualquer pessoa razoável poderia tolerar – cometia a menor das infrações, o árbitro não o deixava em paz. A resposta à pergunta “Mas é mesmo verdade?” parecia conectada à questão de se o árbitro estava de algum modo confuso a respeito de seu papel: será que ele também estava lá para entreter?
Esse é mais ou menos o papel desempenhado por boa parte da imprensa em sua função de árbitro na atual disputa relativa ao aquecimento global ser “real” e se tem alguma conexão com o despejamento de 90 milhões de toneladas de emissões, a cada 24 horas, que prendem o calor na casca fina que é a atmosfera da Terra.
A disputa relativa ao aquecimento global é um desafio para o árbitro porque é uma zona em que vale tudo. Em um canto do ringue estão a Ciência e a Razão. No outro canto: Poluidores Venenosos e Ideólogos de Direita. O árbitro – nesta analogia, a imprensa – parece confuso em relação a seu papel de fornecer informações ou de divertir o público. Será que ele é responsável por garantir um jogo justo? Ou será que faz parte do espetáculo, vendendo entradas e animando a plateia? O árbitro certamente parece distraído – por Donald Trump, por Charlie Sheen, ou por um novo reality show: a lista de obsessões é longa demais para ser enumerada aqui.
Mas, seja qual for a causa, o árbitro parece não notar que os Poluidores e Ideólogos estão pisoteando todas as “regras” do discurso democrático. Eles estão financiando pseudocientistas cujo trabalho é fabricar dúvidas a respeito do que é verdade e do que é falso; comprando representantes públicos eleitos por atacado com propinas que os próprios políticos “legalizaram” e que agora podem ser dadas em segredo; gastando centenas de milhões de dólares a cada ano em anúncios distorcidos na mídia de massa; contratando lobistas anticlima para cada membro do Senado e da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
O roteiro não é novo. Meio século atrás, quando a Ciência e a Razão estabeleceram a conexão entre o fumo e as doenças de pulmão, a indústria do tabaco contratou atores, vestiu-os de médicos e os pagou para olharem para câmeras de televisão e dizer às pessoas que a conexão revelada pelo relatório do Ministério da Saúde não era verdadeira. O espetáculo se estendeu durante décadas, enquanto mais pessoas morriam todos os anos por causa do cigarro do que todos os soldados dos Estados Unidos mortos durante a Segunda Guerra Mundial.
Desta vez, o consenso científico é ainda mais forte. Foi endossado por toda Academia Nacional de Ciências de todos os países de peso do planeta, todo profissional de renome da sociedade científica relacionado ao estudo do aquecimento global e 98% dos pesquisadores de clima do mundo. No último e mais confiável estudo, realizado por três mil dos maiores especialistas científicos do mundo, as evidências foram consideradas “inequívocas”.
Mas espere! Os mocinhos desrespeitaram as regras do decoro, como evidenciado por e-mails roubados e colocados na internet. O árbitro está em cima: falta! Vá para o seu canto! E, em seu relatório de três mil páginas, os cientistas cometeram alguns erros! Outra falta! E se uma porção maior do público ficar confusa a respeito do fato de a crise do clima ser real ou não? Bom, o show tem de continuar. Afinal, é só diversão. Há entradas a serem vendidas, olhos a serem colados à tela.
Parte do roteiro deste show vazou para o The New York Times já em 1991. Em um documento interno, um consórcio dos maiores poluidores ligados ao aquecimento global delineava sua estratégia: “Reposicionar o aquecimento global como teoria, não fato”. Desde então, eles têm semeado dúvidas de maneira mais eficiente do que a indústria do tabaco.
Para vender sua falsa narrativa, os Poluidores e os Ideólogos descobriram que era essencial minar o respeito do público pela Ciência e pela Razão ao atacar a integridade dos estudiosos do clima. É por isso que os cientistas são regularmente acusados de falsificar evidências e exagerar suas implicações, em um esforço mesquinho de conquistar mais bolsas de pesquisa ou de tramar em segredo uma estratégia política para expandir o poder do governo. Insultos assim tão derrogatórios são irônicos: ideólogos extremistas – muitos deles financiados ou empregados por poluidores do carbono – acusam cientistas de serem ideólogos mesquinhos e extremistas.
Depois da Segunda Guerra, um filósofo que estudava o impacto da propaganda política organizada sobre a qualidade do debate democrático escreveu: “A conversão de todas as questões de verdade em questões de poder atacou o cerne da distinção entre o verdadeiro e o falso”.
Será que a crise do clima é real? Sim, claro que é. Faça uma pausa para repassar os seguintes acontecimentos dos últimos meses:
• Calor. De acordo com a NASA, 2010 empatou com 2005 como o ano mais quente desde que os instrumentos passaram a ser usados sistematicamente na década de 1880. Dezenove países registraram altas temperaturas recordes na história. Uma cidade no Paquistão, Mohenjo-Daro, atingiu 53,5oC, a temperatura mais alta já documentada em uma cidade da Ásia. Nove dos dez anos mais quentes da história ocorreram nos últimos 13 anos. A década passada foi a mais quente já registrada, apesar de metade dessa década ter representado um “mínimo solar” – o grau mais baixo no ciclo natural da energia solar que emana do sol.
• Enchentes. Megaenchentes provocaram o deslocamento de 20 milhões de pessoas no Paquistão, desestabilizando ainda mais um país que é detentor de armas nucleares; inundaram uma área da Austrália maior do que a Alemanha e a França juntas; alagaram 28 dos 32 distritos que formam a Colômbia, onde choveu quase sem parar em 2010; causaram uma “enchente de mil anos” na minha cidade natal, Nashville; e levaram ao maior recorde de níveis de enchente no vale do rio Mississippi. Muitos lugares ao redor do mundo hoje experimentam temporais e tempestades de neve maiores e mais frequentes; o “Armagedom da neve” no nordeste dos Estados Unidos no ano retrasado faz parte do mesmo padrão, apesar das risadas das pessoas que negam o fato.
• Seca. Secas e incêndios históricos na Rússia mataram 56 mil pessoas, segundo as estimativas, e fizeram com que as colheitas de trigo e outros alimentos da Rússia, da Ucrânia e do Cazaquistão fossem removidas do mercado global, assim contribuindo para uma alta recorde dos preços de alimentos. “Praticamente tudo está pegando fogo”, o presidente russo Dmitry Medvedev declarou. “O que está acontecendo com o clima do planeta neste momento tem que ser um toque de despertar para todos nós.” O nível de seca na maior parte do Texas foi elevado de “extremo” para “excepcional”, a categoria mais alta. No final do primeiro semestre de 2011, a maioria dos condados do Texas sofreu com incêndios, e o governador Rick Perry requisitou declaração de desastre de grandes proporções para todos menos dois dos 254 condados do estado. O Arizona no momento luta contra o maior incêndio de sua história. Desde 1970, a temporada dos incêndios no oeste norte-americano aumentou em 78 dias. Secas extremas na região central da China e no norte da França no momento secam reservatórios e matam plantações.
• Gelo derretido. Uma enorme massa de gelo, com quatro vezes o tamanho da ilha de Manhattan, desprendeu-se do norte da Groenlândia em 2010 e saiu para o mar. A aceleração da perda de gelo, tanto na Groenlândia quanto na Antártida, causou mais uma revisão para mais da elevação do nível global dos oceanos e do número de refugiados previstos para as áreas costeiras de baixas altitudes. A calota polar Ártica, que atingiu seu volume mais baixo de todos os tempos, perdeu 40% de sua área no verão em apenas 30 anos.
Estes fatos extremos estão acontecendo em tempo real. Não é incomum o noticiário televisivo se parecer com um passeio pelo Livro do Apocalipse. No entanto, a maior parte da imprensa ignora como tais eventos se conectam com a crise do clima ou despreza a conexão como controversa; afinal, os cientistas estão de um lado do debate, e as pessoas que os contentam, do outro. Um executivo da emissora Fox News, em um e-mail interno para os repórteres e para os editores da rede de televisão que depois iria se tornar público, questionou a “veracidade dos dados sobre as mudanças do clima” e ordenou aos jornalistas que “evitassem afirmar que o planeta se aqueceu (ou se resfriou) em qualquer período sem observar imediatamente que tais teorias se baseiam em dados que são questionados por críticos”.
Mas, no mundo “real”, as secas, os incêndios, as enchentes e os deslizamentos de terra recordes continuam a aumentar em gravidade e frequência. Estudiosos de renome como Jim Hansen e Kevin Trenberth agora dizem que esses acontecimentos provavelmente não ocorreriam sem a influência do aquecimento global provocado pelo homem. E essa é uma mudança na maneira como eles classificam tais impactos. Os cientistas costumavam alertar que estávamos elevando a probabilidade de eventos tão extremos ao “viciar o dado” – colocando mais carbono na atmosfera. As maiores temporadas não só estão se tornando mais frequentes como também estão cada vez maiores, mais fortes e mais destrutivas.
Muitos dos acontecimentos extremos e destrutivos são resultado do rápido crescimento da energia de calor do sol que fica presa na atmosfera, que desequilibra o ciclo de água do planeta. Mais energia de calor faz com que mais água evapore para o ar, e o ar mais quente segura muito mais umidade. Isso acarreta enormes consequências, que agora vemos por todo o mundo.
Quando uma tempestade causa chuva ou neve forte, a precipitação não se origina apenas na parte do céu diretamente acima de onde cai. As tempestades se estendem – às vezes mais de 3 mil quilômetros – para sugar o vapor da água de grandes áreas do céu, incluindo partes que se localizam acima dos oceanos, onde o vapor de água aumentou 4% apenas nos últimos 30 anos. Os pesquisadores comparam esse fenômeno ao que acontece em uma banheira quando se abre o ralo; a água que sai vem da banheira toda, não apenas da parte que fica bem em cima do ralo. E, quando a banheira é enchida com mais água, mais vai para o ralo. Da mesma maneira, quando o céu mais quente se enche com muito mais vapor de água, há tempestades maiores quando uma célula de tempestade abre o “ralo”.
Em muitas áreas, essas tempestades maiores também significam períodos mais longos entre tempestades – ao mesmo tempo em que o calor extra no ar também seca o solo. Isso é parte da razão por que tantas áreas têm passado tanto por enchentes recordes e secas mais profundas e que duram mais.
Já faz um bom tempo que os cientistas vêm nos alertando que as coisas vão ficar muito piores se continuarmos a lançar mais e mais poluição que retém calor na atmosfera. Como o mapa da página seguinte mostra, as projeções são que as secas se espalharão por áreas importantes, de alta concentração demográfica, em todo o globo, ao longo deste século. Veja o que os cientistas esperam para as nações do Mediterrâneo. Será que devemos nos importar com a perda da Espanha, da França, da Itália, da Turquia, da Tunísia? Olhe para o que preveem para o México. Será que devemos nos importar?
Talvez seja mais fácil, do ponto de vista psicológico, engolir a mentira de que esses cientistas que dedicam a vida a seu trabalho são, na verdade, enganadores mesquinhos e extremistas de esquerda – e que devemos, em vez disso, confiar nos pseudocientistas financiados por grandes poluidores de carbono cujos planos de negócios dependem do uso do espaço atmosférico como lugar para despejar seu lixo gasoso que retém o calor sem limite nem restrição, sem ter que pagar nada por isso.
A verdade é esta: o que estamos fazendo é insano do ponto de vista funcional. Se não modificarmos este padrão, vamos condenar nossos filhos e as gerações futuras a lutar contra maldições ecológicas durante vários milênios. Vinte por cento da poluição que contribui para o aquecimento global e que despejamos no céu todos os dias ainda vai estar lá daqui a 20 mil anos.
Nós temos outra escolha. Fontes de energia renovável estão se destacando. Tanto a energia solar quanto a eólica logo vão produzir força a custos competitivos com os dos combustíveis fósseis. Há indicações de que o dobro de instalações solares foram erguidas no mundo todo no ano passado. As reduções em custo e as melhorias em eficiência das células fotovoltaicas ao longo da última década parecem seguir uma curva exponencial que se assemelha a uma versão menos acentuada do que aconteceu com os chips de computador ao longo dos últimos 50 anos.
A energia geotérmica aprimorada tem potencial para ser uma fonte quase ilimitada de eletricidade. O aumento da eficiência de energia já está economizando dinheiro para empresas e reduzindo as emissões de maneira significativa. Novas gerações de energia de biomassa – que não dependem de plantações de alimentos, diferentemente da estratégia equivocada de produzir etanol a partir do milho – são extremamente promissoras. Manejo florestal e agrícola pode fazer sentido do ponto de vista econômico e também ambiental. E todas essas opções iriam se disseminar com ainda mais rapidez se parássemos de dar subsídios ao Grande Petróleo e Carvão e colocássemos um preço no carbono que refletisse o verdadeiro custo da energia fóssil – ou por meio dos incentivos para a diminuição das emissões, estratégia tão criticada, ou por meio de um incentivo fiscal para a neutralização das emissões.
Em todo o mundo, o movimento de grupos independentes a favor das mudanças das políticas públicas para confrontar a crise do clima e construir um futuro mais próspero e sustentável está crescendo com rapidez. Mas a maior parte dos governos continua paralisada, mesmo depois de anos de preços voláteis da gasolina, várias guerras no golfo Pérsico, um desastre ligado à energia atrás do outro e um fluxo aparentemente infinito de desastres letais e sem precedentes ligados ao clima.
O surgimento da crise do clima parece repentino apenas por causa de uma descontinuidade recente no relacionamento entre a civilização humana e o sistema ecológico do planeta. No último século, nós quadruplicamos a população global ao mesmo tempo em que dependemos da queima de combustíveis de carbono – carvão, petróleo e gás – para 85% da energia do mundo. Também estamos derrubando e queimando florestas que de outro modo ajudariam a remover uma parte do CO2 que é adicionado à atmosfera, e convertemos a agricultura em um modelo industrial que também funciona com combustíveis de carbono e destrói solos ricos em carbono.
O resultado cumulativo é uma realidade radicalmente nova – e, como a natureza humana nos torna vulneráveis a confundir o que não tem precedentes com o que é improvável, naturalmente parece difícil de aceitar. Além do mais, como esta nova realidade é difícil de contemplar e requer grandes mudanças de política e comportamento, que estão além da nossa capacidade, é fácil demais cair em um estado psicológico de negação. Assim como acontece com questões financeiras – como a concessão de financiamento imobiliário e o não pagamento de dívidas–, a crise do clima pode parecer complexa demais para que nos preocupemos com ela, principalmente quando os paus-mandados dos poluidores afirmam constantemente que a coisa não passa de alarde. E, como os impactos iniciais do desequilíbrio do clima se distribuem por todo o globo, eles os fantasiam como uma abstração que pode ser ignorada com segurança.
Essas vulnerabilidades, enraizadas na nossa natureza humana, estão sendo manipuladas pelo time de pega-pega dos Poluidores e Ideólogos que tentam nos enganar. E o árbitro – a imprensa – está distraído mais uma vez. Da mesma maneira que ocorreu com a invasão do Iraque, alguns são animadores de torcida hiperativos para o lado do engano, enquanto outros são achacados à cumplicidade, timidez e silêncio pelas ameaças inacreditáveis que pairam sobre a cabeça daqueles que ousam apresentar as melhores evidências disponíveis de maneira profissional. Da mesma maneira que as redes de televisão que fizeram alarde com a guerra antes da invasão do Iraque foram recompensadas com maiores índices de audiência, as redes de televisão hoje parecem relutantes em apresentar a verdade a respeito da ligação entre a poluição por carbono e o aquecimento global, por medo de que os telespectadores conservadores mudem de canal – e por medo de que venham a receber uma enxurrada de e-mails daqueles que negam os fatos. Muitos políticos também caem nas mesmas duas categorias: os que torcem para aqueles que negam o que vem acontecendo e os que se acovardam diante deles.
Eis aqui o cerne de toda a questão: estamos destruindo o equilíbrio do clima que é essencial para a nossa sobrevivência. Não é uma ameaça distante nem abstrata; está acontecendo agora. Os Estados Unidos são a única nação que pode promover uma iniciativa global para salvar o futuro. E o presidente norte-americano Barack Obama é a única pessoa que pode fazer o país se unir ao redor da ideia.
Muitos assessores acham que Obama precisa lidar com o mundo da política como bem entender, e que é imprudente arriscar capital político na iniciativa de conduzir o país a uma nova compreensão das ameaças reais e das oportunidades verdadeiras que se apresentam. Dizem que o melhor é se concentrar na reeleição.
Tudo isso pode ser completamente compreensível e fazer perfeito sentido em um mundo em que a crise do clima não era “real”. Aqueles entre nós que apoiam e admiram o presidente Obama compreendem como a política relativa a esta questão é difícil, no contexto da oposição enorme, para conseguir fazer qualquer coisa – ou até mesmo admitir que a crise de fato existe. E, partindo do princípio de que os republicanos vão se conscientizar e vão evitar a indicação de um palhaço para um candidato a presidente, é provável que a reeleição dele inclua uma dura batalha com altas implicações para o país. Todas as pessoas que o apoiam têm a compreensão de que seria prejudicial enfraquecer Obama e elevar o risco de dar mais um passo para trás. Até mesmo escrever um artigo como este acarreta riscos; oponentes do presidente vão extrair as críticas e tirá-las do contexto.
Mas o presidente tem a realidade a seu lado. Está na hora de agir. Aqueles que se beneficiam da poluição irrestrita, que é a principal causa das mudanças climáticas, estão determinados a bloquear a nossa percepção dessa realidade. Eles contam com ajuda de vários lados: do setor privado, que agora tem liberdade para fazer contribuições de campanha secretas e ilimitadas; de políticos que comprometeram seus mandatos com a promessa de não defender os melhores interesses do povo; e – de maneira trágica – da imprensa em si, que trata os enganos e as falsidades do mesmo jeito que trata os fatos científicos, e chama de relato objetivo de opiniões alternativas.
Nem todas as coisas são verdade na mesma medida. Está na hora de encarar a realidade. Nós ignoramos a realidade do mercado e quase destruímos o sistema econômico mundial. Estamos ignorando a realidade do meio ambiente, e as consequências podem ser piores – em várias ordens de magnitude. Determinar o que é real pode ser um desafio na nossa cultura, mas, para fazer escolhas pudentes perante riscos tão graves, é necessário usar o bom senso e a razão para chegar a um acordo a respeito do que é verdade.
Como nós, enquanto indivíduos, podemos fazer diferença? De cinco maneiras básicas: primeiro, agindo como defensor dedicado da resolução da crise. Defenda a sua opinião sempre que o tema do clima surgir. Quando um amigo ou conhecido expressar dúvida em relação à crise ser real ou não, ou se disser que é algum tipo de engodo, deixe bem clara a sua opinião. Em segundo lugar, aprofunde o seu compromisso por meio de escolhas de consumo que ajudem a reduzir o impacto ambiental. A demanda individual por mudanças no mercado já fez com que muitas empresas tomassem medidas impactantes de verdade para reduzir a poluição ligada ao aquecimento global. O Walmart, para dar um exemplo, está tomando medidas para reduzir suas emissões de carbono em 20 milhões de toneladas, em parte por meio da pressão a seus fornecedores que eliminem embalagens desnecessárias e usem alternativas de transporte com baixa emissão de carbono. Dê preferência às empresas que demonstram esse tipo de liderança.
Em terceiro, associe-se a uma organização dedicada a agir em relação à questão. A Alliance for Climate Protection (Aliança para a Proteção do Clima – climateprotect.org), da qual eu sou diretor, tem planos de ação em nível comunitário que vão abranger várias maneiras de lutar com eficiência para as mudanças de política de que precisamos.
Quarto: entre em contato com os jornais e os canais de televisão locais quando dão notícias inverossímeis a respeito do problema do clima – e deixe bem claro que você está cansado da resistência teimosa e covarde em noticiar os fatos a respeito da questão. Uma das principais razões pelas quais eles se mostram tão temerosos e irresponsáveis perante o aquecimento global é por terem medo da reação das pessoas que negam os fatos quando prestam informações científicas objetivas. Então, passe o recado de que as pessoas que defendem os fatos científicos também estão no jogo. É verdade que alguns veículos de imprensa recebem instruções dos proprietários em relação à questão, e que outros são influenciados por grandes anunciantes, mas muitos deles reagem bem ao recebimento de opiniões genuínas de seus telespectadores e leitores. Já está na hora de o árbitro cumprir o seu papel.
Finalmente, não desista do sistema político. Apesar de ele estar carregado de interesses próprios, não está assim tão perdido a ponto de os representantes eleitos não terem de prestar atenção a indivíduos persistentes, engajados e dedicados. O presidente norte-americano Franklin Roosevelt certa vez declarou a líderes de direitos civis que o pressionavam para a realização de mudanças que ele concordava com eles em relação à necessidade de mais igualdade para os negros norte-americanos. Então, como conta a história, com um sorriso maroto, ele completou: “Agora, vão lá e me obriguem a fazer isso”.
Para obrigar nossos líderes eleitos a tomar atitudes para solucionar a crise do clima, precisamos comunicar com toda a força a seguinte mensagem: “Eu estou preocupado com o aquecimento global; eu presto muita atenção à maneira como você vota e ao que você diz sobre a questão; se estiver do lado errado da questão, além de votar contra você, eu também vou me esforçar muito para derrotá-lo – independentemente do seu partido. Se estiver do lado certo, vou me esforçar para reelegê-lo”.
Quando um número suficiente de pessoas tiver preocupação para martelar a mensagem sobre a crise ambiental, os políticos vão olhar para seus cartões de ponto, e um número suficiente deles vai mudar o jogo para fazer toda a diferença de que precisamos. Pode ser que hoje seja necessário um número maior de eleitores individuais para vencer os Poluidores e os Ideólogos – mais do que quando o dinheiro dos interesses próprios era menos prevalente. Mas quando um número suficiente de pessoas falar assim com seus candidatos, e convencê-los de que estamos falando muito sério, a mudança vai acontecer .
O que está em risco agora no debate do clima não é nada menos do que a nossa capacidade de nos comunicarmos a respeito de um protocolo que una todos os participantes em busca da razão e da avaliação honesta dos fatos. Tem a ver com a nossa capacidade ou não de perceber realidades complexas e importantes com clareza suficiente para promover e proteger o bem-estar sustentável de muitos – apesar do estado insalubre da nossa democracia e da atual prevalência da riqueza sobre a razão. O que está na balança é o futuro da civilização como a conhecemos.
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