De onde viemos? Cientistas estão reproduzindo o Big Bang

Por Paula Schmitt

Publicado em 12/12/2007, às 00h00 - Atualizado em 17/12/2007, às 12h08
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John Ellis, o cientista que criou a expressão "Teoria de Tudo", em seu escritório - Paula Schmidt

Quem vai para a pequena vila de Cessy, na fronteira da Suíça com a França, corre o risco de achar que entrou em um buraco negro e foi parar em outra dimensão. A paisagem não poderia ser mais bucólica: chalés suíços, vacas, plantações de uva, montanhas maravilhosas e um verde que vai até onde a vista alcança. Mas isso é na superfície. Cerca de 100 metros abaixo do solo, um equipamento conhecido como Grande Colisor de Hadrons (ou LHC) está passando pelos últimos ajustes antes de realizar o maior experimento científico do mundo e reproduzir as condições que existiam no universo quase no exato momento em que o Big Bang aconteceu - menos de um bilionésimo de segundo depois do que se acredita ser o começo do tempo. É uma experiência tão gigantesca e ambiciosa que parece história de ficção científica. Se tudo der certo, o LHC vai criar buracos negros, descobrir partículas novas, entender a matéria escura e desvendar - entre outras coisas - um mistério que vem intrigando cientistas há décadas: por que a matéria tem massa?

Em um túnel circular de 27 quilômetros, partículas subatômicas vão ser lançadas em direções opostas a uma velocidade nunca antes reproduzida pelo homem, bem próxima da velocidade da luz, até que elas se esbarrem em uma colisão. Com esse choque, as partículas vão se quebrar em partes menores e mostrar outras partículas subatômicas até então desconhecidas. É como uma viagem ao mundo infinitamente pequeno - com o uso de um equipamento infinitamente gigante. Para quem se interessa por recordes mundiais, o LHC é matéria farta para o Guinness Book. O equipamento vai reproduzir a temperatura mais alta já vista na Terra, assim como a temperatura mais baixa já registrada pela ciência - mais gelada que a temperatura do universo. O LHC também usa os magnetos mais poderosos do mundo e contém mais ferro do que a Torre Eiffel. O Grande Colisor não é só um triunfo da física quântica, mas também da engenharia. Os detalhes que precisaram ser levados em conta na construção do túnel parecem irrelevantes na engenharia tradicional: ele é subterrâneo, entre outras razões, para proteger o experimento do efeito de raios cósmicos. Realizado com a colaboração de mais de 80 países, esse experimento está popularizando um dos laboratórios mais importantes da atualidade, o Cern - Conselho Europeu de Pesquisa Nuclear.

Criado em 1954 por países europeus que queriam se contrapor ao poder científico dos Estados Unidos - que não só tinha inventado, mas usado a bomba atômica - o Cern virou um dos maiores centros de pesquisa do mundo. Foi ali que nasceu a World Wide Web e foi lá que foram descobertos Z e W, partículas elementares (que não podem ser divididas e não são formadas por nada menor), dando aos cientistas o prêmio Nobel de Física em 1984, entre outros Nobel de Física já concedidos ao laboratório. Com a estréia do LHC prorrogada para maio de 2008, o colisor vai tentar descobrir aquela que é, supostamente, a única peça que falta para confirmar o Modelo Padrão - a explicação mais aceita entre os cientistas para o entendimento das partículas e das forças com as quais elas interagem. Para quem procura respostas para a origem do universo e da vida, é como tentar entender o todo através do exame das partes. Ou como diz John Ellis, cientista com fama de popstar que lidera Física Teórica no Cern, conhecido entre os leigos por ter cunhado a expressão "Teoria de Tudo" (TOE - Theory of Everything), "A matéria que vemos é apenas a ponta do iceberg".

Você lê esta matéria na íntegra em nossa edição 15, dezembro 2007, que está nas bancas

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