Marina Lima chega ao 21º álbum da carreira com mistura de ritmos e visão politizada
Bruna Veloso Publicado em 19/03/2018, às 09h20 - Atualizado às 09h22
A admiração de Marina Lima por São Paulo continua alimentando a ânsia criativa da artista, cerca de oito anos após ela ter trocado o Rio de Janeiro pela megalópole paulista. Depois de ter rendido a canção “#SPfeelings” no disco de estúdio anterior (Clímax, de 2011), a capital serve de inspiração para “Juntas”, uma das nove canções do atual trabalho de Marina, Novas Famílias. “São Paulo me reaproximou do Brasil como um todo e me trouxe a chance de entrar em contato com as pessoas mais variadas”, ela explica. “Fui encontrando uma musicalidade forte em coisas que eram muito novas para mim. E isso me instiga.”
“Juntas”, ao lado do primeiro single do disco, o funk “Só os Coxinhas”, coproduzido por João Brasil, marca o retorno da bem-sucedida colaboração de Marina com o irmão Antonio Cicero (Clímax foi o primeiro álbum dela sem nenhuma música assinada pelos dois). “Só os Coxinhas” chega com uma carga dupla de ironia: é uma provocação à extrema direita política e, curiosamente, uma faixa de gênero popular com assinatura de Cicero, recém-escolhido para integrar a pomposa Academia Brasileira de Letras. “Ele ficou louco de cara com essa música. Tem um lado da nossa parceria que é bastante divertido. Como nos conhecemos demais, temos muita intimidade e muito humor”, conta Marina. O hit atemporal “Fullgás” é apenas um dos exemplos do trabalho conjunto dos irmãos.
“Só os Coxinhas” é a canção que melhor exemplifica a vontade da artista de retratar um panorama político. “O mundo todo está ficando muito reacionário. E o Brasil está nessa. Então, quis, mais do que nunca, me posicionar.” Na mesma linha politizada, está “Mãe Gentil”, parceria com Letrux. Há também típicas canções de desamor/desprendimento de Marina, a exemplo de “Árvores Alheias”, e de amor/apelo sexual, como o tecnobrega “É Sexy, É Gostoso”.
Novas Famílias é, do ponto de vista sonoro, um dos discos mais diversificados da compositora. Além do funk, do tecnobrega e das programações eletrônicas, sempre manipuladas com classe pela carioca, há espaço para samba (“Climática”) e samba-funk (“Juntas”). A parceria de produção entre Marina e Dustan Gallas (Cidadão Instigado), com coprodução de Arthur Kunz (do duo eletrônico paraense Strobo) e os diversos convidados ajudaram a criar esse mosaico de sons.
Gallas, por exemplo, foi uma indicação de Marcelo Jeneci, que toca piano no tema-título. “O Jeneci é de uma delicadeza, um homem tão atual, tão acima de tantos dogmas. Ele tem uma coisa muito diferente”, derrete-se Marina. Outra participação é a de Silva, com quem ela a princípio comporia uma canção para Wanderléa. A parceria acabou, no entanto, dando origem a “Do Mercosul”, que fecha Novas Famílias antes da faixa bônus “Pra Começar” (lançada originalmente no disco Todas ao Vivo, de 1986).
“Do Mercosul” também servirá de trilha para o filme Baleia, com direção de Esmir Filho e roteiro de Ismael Caneppele. Depois de muita insistência, os dois conseguiram convencer a artista a estrelar o longa, previsto para o segundo semestre (a primeira e única experiência dela como atriz ocorreu em 1984, no filme Garota Dourada). “Eles são muito meus amigos, e eu disse logo: ‘Olha, vocês não estão entendendo, vocês vão foder com o filme [me escalando para o elenco]’”, ri. Marina diz que tem “zero curiosidade” de se assistir na tela grande. “Penso em viajar na estreia”, afirma, com um tom que indica iguais partes de brincadeira e seriedade. “Dei o melhor que eu podia, mas acho que não vou querer me ver, não. Ficarei morrendo de vergonha.”
Ela pode até planejar uma fuga dos cinemas, mas não se esquiva do debate sobre política nem no disco nem em entrevistas. Vê como uma possibilidade para a corrida presidencial uma chapa com Ciro Gomes e Fernando Haddad, critica a inexistência de um Estado laico no Brasil (“A evangelização das pessoas tomou o lugar da educação. Falta dinheiro para tudo, mas tem a religião. O povo vira gado, totalmente manipulado”) e faz uma análise sobre o debate esquerda versus direita: “A direita é sempre muito organizada. A esquerda não é. As pessoas que não pensam só em dinheiro, que se preocupam com o próximo e que têm uma consciência mais social querem na realidade tentar compartilhar, e querem se divertir também. Querem viver. Ninguém fica preocupado em fazer artimanhas e criar armadilhas. A gente não é assim. Isso tem um lado ruim, que é o fato de não sermos organizados; então, quem está preocupado em dominar, quem quer dinheiro e poder fica o tempo todo confabulando”. Marina aproveita para contar que, se a sociedade cair em desgraça com uma possível eleição de Jair Bolsonaro, cogita deixar o país. “Pensaria [em me mudar]. Como ele é quase um ditador, eu poderia ser presa. Vai saber o que ele vai fazer. Eu não vou, a essa altura, ser tolhida dos meus direitos individuais”, afirma.
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