<b>Transformador</b><br> Personagem difícil ajudou Deborah a refletir sobre a própria vida. - Alê de Sousa/ Divulgação

Deborah Secco

Atriz encara novo desafio com Boa Sorte, em que interpreta jovem com HIV

Stella Rodrigues Publicado em 24/11/2014, às 13h24 - Atualizado em 26/11/2014, às 13h25

Às vésperas do Dia Mundial da Luta contra a Aids, 1º de dezembro, Deborah Secco chega aos cinemas com o filme Boa Sorte, adaptação do conto Frontal com Fanta, de Jorge Furtado. O longa dirigido por Carolina Jabor tem emocionado plateias (e a atriz, que invariavelmente chora ao ver o filme) no circuitos de festivais com o romance de Judite, uma jovem HIV positivo, com o garoto João, que ela conhece em uma clínica de reabilitação.

O que chama mais a atenção no filme foi o quanto você emagreceu.

E emagrecer foi o mais fácil! Tem receita médica, exames, dieta. É matemático. Mas compor a Judite foi muito difícil, tinha que ter a vida e a morte presentes nela o tempo inteiro, a alegria e a tristeza, sentimentos opostos. Tinha que fazer dela a mulher mais apaixonante do mundo, a ponto de esse menino querer arriscar a vida por ela.

O longa mudou sua perspectiva sobre o HIV? Que tipo de pesquisa você fez?

Me reuni com o infectologista David Uip e a primeira coisa que ele me falou foi da força que os pacientes têm quando se deparam com a finitude. Quando veem que vão morrer, ganham uma força completamente diferente da que conhecemos, uma serenidade, um contentamento. Esse foi o primeiro passo, construir essa aceitação.

E como foi lidar com essa realidade tão pesada?

Mudei a minha vida! Fiz uma lista do que eu estava fazendo por fazer. Essa frase é banal, mas faz todo sentido: que quando a morte me pegue, me pegue viva. Às vezes a gente esquece, deixa o dia passar, mas um dia é tão precioso. Eu sabia que vou morrer um dia, mas ao mesmo tempo não sabia. Esse papel

mudou minha personalidade.

Lembra de outros papéis que foram assim?

O melhor de fazer cinema é que a entrega é intensa, como foi no Bruna Surfistinha também. Então, o personagem vai embora, mas deixa grandes lições, me faz ter uma vida melhor.

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Temos tido vários bons filmes que contam casos reais e fictícios de pessoas com HIV (Minha Vida com Liberace, Clube de Compras Dallas), que ainda é uma doença relativamente nova. Você acha que a forma de pensar sobre o vírus mudou?

Foi uma doença que veio muito rapidamente, levou as pessoas e ninguém sabia direito como se transmitia, o que gerou um preconceito em relação ao que temos de mais precioso, o amor. É muito triste tirar da pessoa a oportunidade de amar, e ela achar que não terá mais esse momento em que dois seres humanos viram um só, em que se gera a vida.

Você sempre fala que tem dificuldade de ficar nua em cena e, neste filme, fez isso com um corpo que modificou em prol da personagem. Como foi?

Tudo que envolver a Deborah sendo diferente da personagem será um desafio. Tenho muito medo de altura e tive que trabalhar bastante esse medo por causa de papéis. O importante é que nenhuma característica minha se sobressaia. Sou tímida, não tenho essa liberdade física, ficar nua na frente de uma equipe de 100 pessoas é muito difícil para mim. Mas isso não pode ficar acima da ética e da moral da personagem. Só no camarim posso voltar a ser eu, ter meus pudores. E isso é bem válido para mim, vou vencendo barreiras.

Você foi citada no elenco de filmes sobre a banda Calypso e sobre a Irmã Dulce. Qual seu próximo trabalho no cinema?

Não consegui encaixar esses projetos na minha agenda, já tinha me comprometido com o [diretor] André Moraes [para fazer A Estrada do Diabo]. É um filme em que eu teria que engordar. Consegui ganhar 14 quilos, as pessoas não acreditam que sou eu!

Do que se trata?

São atores que foram roubados por um amigo e um deles resolve se vingar. É tudo uma farsa de um filme de baixo orçamento em que eles atuam como bandidos. Minha personagem, achando que está em cena, mata uma pessoa de verdade. É bem diferente de tudo que o Brasil já fez, o André tem uma linguagem muito pop e o longa tem uma fotografia linda.

Na sua entrevista para a capa da Rolling Stone Brasil (fevereiro/2011), o mote foi sua tentativa de proteger a vida pessoal da imprensa. Isso ainda é uma questão?

Isso é um cuidado que tento ter cada vez mais, buscar o limite. Você tem que se expor para divulgar seu trabalho, é uma pessoa pública e quer levar as pessoas ao cinema, ao teatro. Você tem que ser alguém que as pessoas conheçam e queiram ver. Fico sempre andando nessa linha entre o que me faz bem e o que me faz mal. Não sei se consegui – acho que ainda não. Mas já caminho conscientemente.

Dupla face: o perfil da reservada Deborah Secco.

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