Lee Perry: o destaque internacional da 15ª edição do Abril Pro Rock - Otávio Souza

Debutante de Peso

Aos 15 anos, festival Abril Pro Rock é referência nacional, local e exportadora

Alex Antunes Publicado em 01/08/2007, às 17h27 - Atualizado em 31/08/2007, às 18h30

O Abril Pro Rock, principal festival independente do país, chegou à sua 15ª edição seguida. É uma duração expressiva até em termos internacionais, tanto mais no Brasil. Colecionando mais acertos do que erros, o festival é a espinha dorsal da cena de Recife. Não só sobreviveu à crise da indústria como também à morte de Chico Science, a face mais carismática do movimento mangue beat.

O Abril Pro Rock é referência e parâmetro tanto para desdobramentos, como o evento Porto Musical, como para a concorrência, como o festival Rec Beat. E é uma vitrine importante para bandas, como foi com o Los Hermanos. Tudo graças a Paulo André, o homem que transformou sua lojinha de discos em um fenômeno cultural de repercussão mundial.

Convidado a explicar a trajetória, Paulo André fala durante quase uma hora, sem precisar de pergunta adicional: conta histórias de estrada da Nação Zumbi e dos outros artistas do mangue beat, das agruras de manter em funcionamento um festival sem grandes patrocinadores, do resgate da auto-estima da cultura pernambucana e da influência disso na cena local e estrangeira. Não foge de comentar mazelas e azares, mas o tom final e indisfarçável é de "valeu a pena". "Agora estou em conversa com um pessoal belga, do festival Pukkelpop - que tem mais de 20 anos e credibilidade na Europa -, para um intercâmbio", comemora. "É muito mais fácil do que conversar com os ingleses. Você fala em 'festival no Brasil' e eles pensam que nós nadamos em dinheiro. Os festivais com grandes patrocínios inflacionaram os cachês de uma maneira absurda. Para você ter uma idéia, o Arctic Monkeys tem 11 propostas para tocar no país - como é que eu vou entrar em um leilão desses?" Pergunto se ele também não buscou esses patrocinadores. "Sim, sempre. Telefonia, cervejarias... Mas o perfil do Abril Pro Rock é diferente da expectativa deles. Já ouvi a pergunta 'por que você não coloca bandas mais comerciais, pra vender mais cerveja?'. Já tivemos Rappa, Skank, Paralamas, agora os Mutantes - mas nunca investimos em camarotes, presença de celebridades, marketing agressivo, essa lavagem cerebral. O apoio da Petrobras e do governo do Estado foram fundamentais - mas eles não têm um produto a vender lá dentro, a não ser o próprio conteúdo do festival. Posso dizer com orgulho que o que é investido aqui volta dezenas de vezes, em reconhecimento da nossa cultura. Eu não mamo nas tetas do Estado."

Existe um "esfriamento" da cena mangue, que o levaria a focar atenção em outros públicos, como o da noite dedicada ao rock pesado? "De certa forma, tudo começou com o rock pesado. A primeira banda que conheci, quando abri minha loja, no final de 1989, foram os Devotos do Ódio. Na primeira edição, investi no surgimento do mangue beat, de bandas próximas do mangue e também no resgate daquela maravilhosa cena local dos anos 70. Não convidei os Devotos e o Câmbio Negro HC no primeiro festival porque tive medo de que a galera carente de hardcore se excedesse na emoção [risos]." E continua: "Nunca temi o fim do mangue beat. Quando o Chico [Science] morreu, havia uma outra geração esboçada, com o Cascabulho, o Otto solo... Depois, vieram DJ Dolores, o Mombojó. Mas talvez isso seja mais visível até no exterior do que no Brasil. Na primeira turnê internacional com o DJ Dolores, em 2003, fizemos 26 shows em dez países europeus mais quatro dias nos Estados Unidos. Esse mesmo show eu não consegui nem levar pra Paraíba, que é aqui ao lado".

Outra experiência memorável foi acompanhar a participação da Nação Zumbi no programa de Jools Holland, em 2006, na mesma noite de David Gilmour e Rick Wright, do Pink Floyd, Elvis Costello e Allen Toussaint, Paul Simon e The Streets. "Ver o Gilmour balançando ao som de 'Meu Maracatu Pesa uma Tonelada' é inesquecível [risos]", brinca Paulo André. Paradoxalmente, a edição do evento que trouxe nomes internacionais como Stephen Malkmus e Charlatans (em 2002) deu um prejuízo que levou dois anos para ser coberto. Paulo André é brasileiro, Paulo André não desiste nunca.

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