<b>MIL TALENTOS</b> A atriz nos bastidores de Pé na Cova - GLOBO/ESTEVAM AVELLAR/DIVULGAÇÃO

Dedicação Inigualável

Artista completa, Marília Pêra deixou marca permanente no teatro, nas telas e na música

Paulo Cavalcanti Publicado em 11/01/2016, às 16h59 - Atualizado às 18h04

Das grandes damas da dramaturgia brasileira, Marília Pêra, de certa forma, foi a mais relutante em relação ao estrelato vazio que a televisão é capaz de conferir a um ator. Ela sempre procurou diversificar suas áreas de trabalho. Ao contrário de outras estrelas que conseguiram e sustentaram a fama basicamente na TV – de modo mais específico no nicho das novelas –, Marília era versátil como poucas: também brilhou no cinema, no teatro dramático e no teatro musical, além de ter tido carreira sólida como diretora, produtora e coreógrafa.

Marília Soares Pêra morreu aos 72 anos, no dia 5 de dezembro, na casa onde morava, no Rio de Janeiro, cerca de dois anos após ter sido diagnosticada com câncer. A carioca nasceu em 22 de janeiro de 1943, no bairro do Rio Comprido. Entrou na vida artística ainda adolescente. Foi bailarina, começou a atuar no teatro e em 1965 estreou na televisão, ganhando papéis secundários em novelas.

Para o grande público, ela começou a existir na primeira metade da década de 1970, quando foi protagonista de vários folhetins na Rede Globo. Marília não tinha um padrão de beleza convencional; também não procurava competir com a fofice de Regina Duarte ou com a pose aristocrática de Dina Sfat, por exemplo. Em compensação, era mais versátil e camaleônica do que a maioria de suas companheiras de profissão, mudando de imagem e de postura em um estalar de dedos. Ela se deu bem interpretando figuras amalucadas ou debochadas, como a taxista Noeli em Bandeira 2 (1971), Shirley Sexy em O Cafona (1971) e a empregada Manoela em Supermanoela (1974). Justamente no momento em que atingiu o ápice como estrela de telenovela, Marília se afastou um pouco do meio para se dedicar a outras esferas de seu interesse, como a música.

Em 1975, gravou o LP A Feiticeira, com canções do espetáculo de mesmo nome. Os ainda desconhecidos Lulu Santos, Ritchie e Lobão tocaram no álbum. Ela seguiu cultivando o lado musical. Em 1989, estreou o espetáculo Elas por Ela, no qual revivia, com perfeição, cantoras como Carmen Miranda e Dalva de Oliveira, entre outras. Mas sua grande paixão foi o teatro, e quem teve a sorte de vê-la ao vivo sabe o quão intensa e inesquecível ela era sobre um tablado. Foram mais de 50 peças e incontáveis premiações.

No cinema, a atriz participou de cerca de 30 filmes. Ela teve participação marcante em Pixote, a Lei do mais Fraco (1980), Bar Esperança (1983), Tieta do Agreste (1996) e Central do Brasil (1998), dentre outros.

Em meio a projetos em tantas frentes, a atriz ficou um bom tempo sem participar de novelas na Globo. O retorno à emissora ocorreu em Brega & Chique (1987), na qual interpretou a refinada Rafaela, personagem que reviveu na regravação de Ti Ti Ti (2010). Além das novelas, Marília também se destacou em minisséries televisivas, como O Primo Basílio (1988), Os Maias (2001) e JK (2006), em que interpretou a ex-primeira-dama Sarah Kubitschek. Nestes últimos anos, atuava ao lado do amigo Miguel Falabella na hilária e nonsense série Pé na Cova, na qual tinha o papel da divertida alcoólatra Darlene.

Pessoa de posições firmes e que gostava de ver tudo feito a seu modo, a atriz às vezes se chocava com colegas de trabalho. Também sempre deixou claros seus pontos de vista políticos. Em 1968, fez parte da peça Roda Viva, obra de Chico Buarque que ironizava o governo militar. Na ocasião, foi humilhada pela polícia, que invadiu o palco e prendeu o elenco. Teve outro embate com a lei tempos depois, acusada de ser esquerdista. Mas longo dos anos ela deixou de ser vinculada à esquerda. Votou em Fernando Collor de Mello em 1989 e foi muito patrulhada por causa disso.

Marília Pêra foi casada com o ator Paulo Graça Mello, com quem teve o filho Ricardo Graça Mello. Nos anos 1970, ela se casou com o jornalista Nelson Motta, com quem teve os filhos Esperança Motta e Nina Morena. O último companheiro dela foi o economista Bruno Faria.

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