Artista pioneira, Joan Jett combate preconceitos e relembra as dificuldades dos primeiros anos da música
Bruna Veloso Publicado em 09/03/2012, às 11h12 - Atualizado em 05/04/2012, às 19h37
Joan Jett está feliz. Aos 53 anos – e a caminho do Brasil para tocar no festival Lollapalooza, em sua primeira vez no país –, ela afirma se orgulhar de servir, ainda hoje, como fonte de inspiração para mulheres que buscam uma carreira no rock and roll. Quando Joan se lançou ao lado da banda The Runaways, em meados da década de 70, o mundo das guitarras era essencialmente masculino – poucas garotas tinham a chance (e a coragem) de se aventurar em uma banda de rock. Embora tenha sido criado nos Estados Unidos, o grupo não teve muito sucesso por aqueles lados, mas acabou se tornando uma das primeiras bandas de rock formada inteiramente por mulheres a ser reconhecida em escala global. “A sociedade não estava preparada para uma banda só de mulheres”, ela afirma, falando de Nova York, onde mora sozinha. “Chocávamos as pessoas sem fazer nada. Não precisávamos fazer nada ultrajante, não tínhamos de nos vestir de forma estranha, não precisávamos xingar”, relembra Joan. “Apenas aparecemos com instrumentos e todo mundo ficou assustado.”
Donita Sparks (L7), Kathleen Hanna (Bikini Kill), Courtney Love (Hole): cada uma dessas artistas teve a vida mudada pelo fato de Joan Jett ter empunhado uma guitarra. “Sinto muito orgulho. É algo que vejo como o ponto alto da minha carreira”, ela conta sobre a influência que exerceu – e exerce – sobre garotas que almejam ter uma banda. Não é possível comparar o nível de preconceito sofrido por Joan e o Runaways na década de 70 ao que acontece hoje, mas ela acredita que ainda não existe igualdade entre gêneros. “Não ficou nem um pouco mais fácil nos últimos 30 anos”, diz.
“O machismo ainda está aí, embora haja muitos homens que apoiam as mulheres. Acho que as garotas sempre vão ter problemas, especialmente no rock, porque é uma música sexual. A começar pelo nome: esse ‘roll’ é a sexualidade na música. Eu cresci ouvindo Led Zeppelin e Rolling Stones: era tudo em volta dos vocalistas e da sexualidade que eles traziam.”
Sexo. Para Joan Jett, é a isso que o rock se resume. “Se você se lembra do Robert Plant com a mão no microfone, a outra mão na virilha, a camisa aberta... ou a capa do disco Sticky Fingers, dos Rolling Stones, a foto de uma virilha. Isso é rock and roll!”, exalta, dando a entender que toda essa carga sexual tenha servido como barreira quando ela começou sua carreira musical. “Sempre foi domínio masculino, um mundo de homens. E de repente as garotas estavam com uma guitarra. Foi uma reação natural dos homens: ‘Não, você não pode tocar’. Para mim, de forma lógica, não fazia sentido”, diz. “Não era que elas não podiam dominar o instrumento, elas não tinham permissão socialmente falando, justamente porque o rock é sexual.” A pior lembrança de preconceito? “Foi uma pergunta muito imbecil. Um cara me questionou se eu me sentia como uma mulher ou um homem quando tocava guitarra no palco. Fiquei maluca.”
Joan Jett acabou tendo seu maior sucesso em carreira solo, com uma versão de “I Love Rock and Roll”, do The Arrows, lançada em 1981. A cover se tornou definitiva. Mas, não fosse o espírito pioneiro de Jett, a música poderia ter passado longe das rádios norte-americanas. Depois de lançar seu primeiro disco solo na Europa, em 1980, ela buscou o mercado dos Estados Unidos – e foi rejeitada por mais de 20 gravadoras. Então, em uma época em que ter um contrato com um grande selo era visto como necessidade básica, Joan montou uma gravadora, a Blackheart Records, que ainda funciona. Olhando para trás, ela admite que ter sido ignorada foi uma das boas coisas que aconteceram na carreira. “Você nunca pode deixar seu ego crescer. Você nunca pode sentar lá e dizer: ‘Uau, estou no número 1’. Porque amanhã você pode não estar.”
“As pessoas têm o sonho de entrar em uma competição, ter um hit... mas aí você perde um monte do trabalho que precisa ser feito para que você se torne um bom performer”, ela continua. “Ir a casas noturnas horríveis em que 15 pessoas assistem a seu show: é assim que você se torna bom.” O sonho da fama instantânea nunca fez parte da cartilha profissional de Joan Jett – sua ambição ao tocar em uma banda era primordialmente mostrar que era possível a ideia da mulher no rock.
Com os cabelos negros como antigamente e ainda apoiada pela banda Blackhearts, formada no início dos anos 80 (curiosamente, composta só por homens: “Eu não queria competir, não queria que parecesse que eu estava tentando formar outro Runaways”, ela explica), Joan Jett não pensa em deixar a música. Pelo menos, não em um futuro próximo. “É meio difícil me imaginar aposentada. Se eu me aposentasse, provavelmente desapareceria, iria viver na floresta. Ou vou tocar até cair no palco”, ela afirma, rindo. “Não tenho certeza de qual será. E até eu tomar essa decisão... mas ainda não estou lá. Estou feliz, amo viajar, amo tocar, amo conhecer pessoas. Ainda estou me divertindo.”
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