Do Lado de Lá

Rico Dalasam busca influência do Oriente no primeiro disco cheio da carreira

André Aloi

Publicado em 14/04/2016, às 02h23 - Atualizado às 02h31
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Timbres indianos e batuques brasileiros compõem o álbum de Dalasam. - João Gabriel Masni

Depois de rodar o brasil com o show do EP Modo Diverso e tornar-se expoente do chamado queer rap, Rico Dalasam está finalmente debruçado sobre os beats de Orgunga, Meus Melhores Orgulhos, seu primeiro álbum cheio (“Orgunga” é um termo criado por ele para descrever a expressão “Orgulho, Negro e Gay”). “O EP tinha muita coisa de R&B, funk e eletrônico. No disco, a gente troca isso por timbres indianos e flautas e percussões bem brasileiras [gravadas por Mahal Pita, do BaianaSystem].”

O rapper assumidamente gay pesquisou referências sonoras da Índia e de outras localidades do Oriente, como Sri Lanka. A influência é perceptível na faixa “Dalasam” e no primeiro single (ainda sem nome), ambas produções de Filiph Neo, que cuidou do EP de estreia. “Por enquanto, chama ‘Esse Close Eu Dei’ e narra as coisas que a gente conquistou no ano passado em tom de deboche.” Alguns dos pontos altos dessas conquistas foram ter tocado em um festival que também tinha Grace Jones no line-up e ter aparecido em publicações internacionais de moda. “Paz, Coroas e Tronos”, que já foi divulgada, é uma das canções mais calmas do álbum, enquanto “Vambora” acelera o ritmo, narrando uma fuga de amor nordestina, cantada em baião, com frevo e sanfona (produção de Duani). “Nortes” (produção de Philip Neo) tem um quê de disco music, assim como “Intercap 89” (produção de Dudu Marote), com rimas e som eletrônico. “Bumbum Pro Ar”, produzida por Rodrigo Gorky (Bonde do Rolê), muda a sintonia para o funk. A ideia é que o disco tenha entre 10 e 11 faixas – todas com letras autorais –, incluindo um remix de “Riquíssima”, produzido por Pita. Apenas uma música destoa do conjunto: “Relógios” (Marcos “Xuxa” Levy), um rock puxado para a new wave.

A maior preocupação de Rico Dalasam é que o disco não bata na tecla do “sambou”, “lacrou” ou outras gírias gay que ele não costuma usar. “Dá para buscar seu próprio modo de contar”, acredita o rapper, que inclusive recebeu obras de outros jovens artistas, incentivados pelo seu trabalho. “Vai enriquecer muito se cada menino desses achar seu jeito de contar. Traduzir a história é diferente para cada um, mas a narrativa é global. Se você conseguir transmitir [através da música] seu comportamento, isso, sim, é universal.”

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