Juliette Lewis com o The Licks: distante das telas, mergulhada na música - Yves Bottalico / Divulgação

Ela é do Rock

Longe dos filmes e possuída pela música, ela mostra que é do rock

Nazareno Paulo Publicado em 02/08/2007, às 13h28 - Atualizado em 31/08/2007, às 18h47

São 11h de uma sexta ensolarada, e o ruído de fundo do Café 101, em um hotel na Franklin Avenue, incomoda. Ao mesmo tempo, me recordo de que estamos em Los Angeles, uma cidade onde as pessoas são expansivas e falam alto em locais públicos. A pontualidade também é outra característica da cultura norte-americana, mas tiro o celular do bolso só para me certificar de que Juliette Lewis, a estrela do polêmico Assassinos por Natureza, está a caminho para nossa entrevista. Não dá tempo de achar o número: como um furacão, ela chega correndo, senta e está a ponto de pedir um café. Imploro para irmos ao lobby para conversarmos em paz - se é que seria possível, dada a conjuntura fascinante de sua aparição.

Atriz consagrada, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1991 (por Cabo do Medo), Juliette anda longe das telas. Um dos seus últimos papéis foi uma participação em Catch and Release, no qual atuou apenas por causa do roteiro. Aproveitando-se de sua personalidade decidida, ao chegar aos 30 anos de idade, se questionou: "Que merda, estou ficando velha. O que faço?" A resposta foi a criação de uma banda definida por ela mesma como "hard rock", a Juliette & The Licks, que fez sua estréia em 2004 na Warped Tour. Um ano depois, saiu o primeiro EP, Like a Bolt of Lightning, seguido por um CD, You're Speaking my Language. Seu mais novo álbum, Four on the Floor, conta com a participação especial de Dave Grohl, líder do Foo Fighters, na bateria, e já conta com uma turnê, que segue para a Europa este mês. Mas o que ela quer mesmo é tocar no Brasil.

Como foi estrear tocando em um festival de peso como o Warped Tour?

Quando comecei a banda, meu primeiro objetivo era escrever músicas que fossem energéticas e tivessem um bom ritmo, porque, para mim, o luxo sempre foi e sempre será fazer um show ao vivo. Vim do mundo dos filmes, e já que estava começando na música era importante estar no meio de todos esses grupos na Warped Tour. Foi legal, porque os garotos das bandas tinham uma média de 12 a 18 anos de idade, e a maioria não tinha idéia de quem eu era.

O que dá mais prazer? Atuar em frente às câmeras ou tocar ao vivo?

Sem dúvida é tocar música ao vivo, porque é algo muito elétrico, você lida com a energia das pessoas. É a essência da vida. Eu sinto essa força tocando ao vivo, e tento fazer do público uma só unidade. Em filmes é diferente, é algo mais reflexivo, analítico e solitário: você está no set com sua equipe e contribui para contar uma história. Já a música é uma extensão de quem eu sou.

Você se vê atuando brevemente em um filme?

Para mim, um filme não funciona se não tiver uma boa história e um bom diretor. Atualmente, tem este diretor brasileiro do filme Cidade de Deus [Fernando Meirelles], que é visualmente poderoso, tem um roteiro muito rico e verdadeiro e um estilo todo especial. Com cineastas como esse eu trabalharia.

Quando você achou que era hora de investir na música?

Tudo aconteceu antes que eu completasse 30 anos, porque o tempo não pára. [Risos] Eu estava sempre atuando, e pensei: "Meu Deus, tenho que ser mais criativa de uma outra maneira". Tive que aprender a ser uma líder, a tentar não me estressar e a saber que eu podia mesmo cantar. Quanto mais eu fazia sucesso como atriz, mais não sabia como começar a fazer música, se seria como compositora ou produtora. Percebi que seria através de uma banda, porque eu gosto de grupos, de coletar talentos e energias. Escrevi canções e pensei: "Ok, este é o começo". Sempre digo que comecei tarde, por isso tenho que recuperar o tempo perdido. Por isso farei muitas turnês e lançarei vários discos.

Quais são as influências do Juliette & the Licks?

Todos os rapazes da banda são talentosos, lindos, meus irmãos. É engraçado porque meu guitarrista gosta de coisas épicas como Queen. O outro compartilha do mesmo gosto que eu, e curte Tom Petty, The Clash, Neil Young. O baixista adora rock psicodélico. Com esses elementos e sabores juntos, depende de mim extrair o talento de cada um deles.

Dave Grohl tocou bateria no disco. Que tal a experiência?

Incrível. Ele é muito gentil e superengraçado. Ficamos amigos há três anos e somos muito parecidos no jeito de ser, ambos somos obsessivos por música. Foi ótimo quando ele concordou em gravar o disco, e emocionante vê-lo tocar as músicas que escrevemos. Um verdadeiro presente. Mas agora estou entusiasmada com nosso novo baterista, Ed Davis.

E a turnê, como está?

Acabamos de tocar na Austrália e na Nova Zelândia. Isto é que é bom, né? Viajar para todos os lugares que você nunca esteve. Estamos indo para o Japão daqui a um mês. E desde já vou dizendo um "Hi from The Licks" bem alto para o Brasil. Nós vamos para lá daqui a alguns meses. O Dave [Grohl] me falou bastante sobre o público brasileiro...

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