Uma análise dos presidenciáveis do PT e do PSDB sob a ótica de ferrenhos críticos políticos – os principais líderes do governo e da oposição
Por Fernando Vieira e Rodrigo Barros Publicado em 20/07/2010, às 04h04
Distante pouco mais de três meses do embate decisivo nas urnas, o cenário eleitoral brasileiro elimina, por enquanto, quaisquer referências a favoritismos - as pesquisas de intenção de voto mostram um equilíbrio de forças entre PT e PSDB na intensa e precoce campanha já em andamento.
Se os discursos de Dilma Rousseff e José Serra, por vezes, são parecidos - "a melhor continuidade está aqui"; "o 'poder mais' é comigo" -, dificultando saber hoje com certeza de quem seriam tais afirmações em um eventual ato público de campanha, os dois candidatos mais populares à presidência da República são como água e vinho na visão da maioria de seus aliados e inimigos políticos - nem todos concordam com a opinião de Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado: "Individualmente, não há grandes diferenças".
Para os governistas, Serra tem "uma visão equivocada para o país", apresenta "incapacidade gerencial contundente", "incapacidade de conviver e harmonizar contrários" e "inabilidade no enfrentamento de contratempos econômicos". E ainda tem responsabilidade sobre indicadores negativos nas áreas de educação e segurança na gestão do estado de São Paulo, não representa a continuidade do governo Lula e carece de "fator agregador".
Para os oposicionistas, Dilma "mentiu em seu currículo". À ex-ministra "falta bagagem política", já que ela jamais teve "uma biografia testada pelas urnas" . Como "mãe do PAC", ela "não conseguiu cumprir as metas mágicas estabelecidas pelo governo" e em seu "desgoverno" "não soube evitar que um apagão recorde deixasse quase todo o país às escuras". Segundo eles, a candidata "se esforça em desempenhar um papel de 'gerentão', como se o fato de ser a candidata de Lula bastasse para ser presidente do Brasil".
A verdade é que, sob a análise venenosa dos adversários, pouco ou quase nada sobra de edificante na carreira política e na personalidade de José Serra e Dilma Rousseff, como você lerá a seguir.
Por Que Não Votar em Serra?
A longevidade política e administrativa de José Serra é inquestionável. Na década de 1980, ele foi Secretário Estadual de Planejamento de São Paulo e deputado feder al cons tituinte. Depois, foi depu- tado federal, senador e Ministro do Planejamento e da Saúde, além de prefeito e governador de São Paulo nos últimos anos.
Mas os méritos decorrentes da vasta experiência de Serra nes- ses campos são, sim, questionáveis, na visão dos adversários pe- tistas. Tanto é assim que as críticas formuladas ao governo Fer- nando H enrique Cardoso proc uram ser for temente vinc uladas ao atual candidato tucano à presidência. "Es te novo momento vivenciado pelo g overno Lula é muito diferente do momento passado, não tão distante assim, que tem tudo a ver com o Ser- ra, uma pessoa-chave no governo FHC", afirma a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), referindo-se à participação dele, especialmente, como Ministro do Planejamento.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 45, junho/2010
Por Que Não Votar em Dilma?
A falta de luz própria de Dilma Rousseff para estrelar a corrida presidencial gera protestos na oposição, como uma de suas principais deficiências. A trajetória política limitada da ex-ministra chefe da Casa Civil e pré-candidata petista à presidência da República é duramente criticada e chega a ser ridicularizada.
Para a base oposicionista, Dilma foi colocada por Lula para candidatar-se, mesmo sem ter disputado cargos eletivos em toda sua vida, o que causa dúvidas sobre seu potencial desempenho à frente do posto máximo da nação. A crítica é que seu compor ta- mento político jamais pode ser colocado à prova. E é verdade. Ela nunca se submeteu ao crivo popular.
Sob a égide da inexperiência, a oposição considera o despreparo preocupante. "Falta bagagem política." O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), condena a falta de vivência política de Dilma. "Não arriscaria votar em uma pessoa que nunca disputou uma eleição, que nunca se defrontou com a responsabilidade de liderar e que não está neste momento encarando a vida pública como uma carreira", diz.
Nesse sentido, o Brasil alcança um amadurecimento democrático, que já não permite mais "improvisação", com soluções "miraculosas" e "milagrosas", segundo Virgílio. "O que a gente conhece da ministra Dilma é o que o presidente Lula diz." Dilma ainda teria muito a aprender. "Ela ainda está na puberdade política." Ou seja, faltaria café no bule para a ministra.
A mesma restrição faz o senador Álvaro Dias (PSDBPR). Ele lembra que a petista apenas ocupou cargos de confiança em governos ligados à sua sigla partidária. "A pré-candidata não pode exibir uma biografia testada pelas urnas", pontua.
Para ele, a pretensão de ocupar a presidência da República e dirigir os destinos do Brasil em um mundo de extrema complexidade impõe um perfil muito específico. É necessário estar "talhado" para a condução do país. "O comando da nação vai exigir, nessa quadra da história, além de um gestor experiente, um negociador, um articulador, uma figura capaz de galvanizar anseios que estão dispersos nas mais diferentes camadas da sociedade brasileira."
Segundo os tucanos, um exemplo do despreparo de Dilma se traduz na malsucedida gerência como "Mãe do PAC" (Programa de Aceleração do Crescimento). "Ela não soube efetivar o programa, também não soube evitar que um apagão recorde deixasse quase todo o país às escuras", avalia o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, João Almeida (BA), recordando o blecaute de novembro de 2009. E ele vai além: "A pífia execução do PAC não tem foco, objetivo ou resultado. Não é nada mais do que um empacotamento de ações. Por ser fantasioso e megalomaníaco, não conseguiu cumprir as metas mágicas estabelecidas pelo governo". Segundo dados da assessoria técnica do PSDB extraídos do Sistema Integrado de Fiscalização Financeira do Governo Federal (Siafi ), em 2010, por exemplo, o programa tem apenas 4,1% de execução dos R$ 28,6 bilhões destinados ao Orçamento da União. "Até 17 de maio foram efetivamente pagos somente 48,1% dos recursos de 2009 do PAC", explica.
O fato é que Dilma participa da gestão do setor energético desde 1993, quando assumiu a Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Anos depois, ocupou o Ministério de Minas e Energia, no início do governo Lula, e ignorou a notificação da Aneel (2003) sobre a obsolescência dos equipamentos e da urgente necessidade de "[Dilma] Nada fez e ainda solicitou ampliação do prazo de 2006 para 2010, apostando no risco. Deu no que deu: blecaute no país", diz. "Ela culpou a natureza pelo apagão de seu 'desgoverno', quando na verdade foi devido à incompetência administrativa pessoal."
Almeida aponta ainda uma falha de caráter na petista. A falta de sinceridade da ex-ministra da Casa Civil seria mais um dos motivos de sua inviabilidade como presidenciável. "Dilma mentiu em seu currículo, pois disse que era mestra pela Unicamp. E a universidade desmentiu-a, informando que foi jubilada e teve sua
matrícula cancelada em 2000", lembra.
"A candidata do presidente repetiu a farsa postando em seu próprio site foto da atriz Norma Bengell como se fosse a própria", ele conta. "Dilma se esforça em desempenhar um papel de 'gerentão', como se o fato de ser a candidata de Lula bastasse para ser presidente do Brasil." Por sua já comprovada capacidade de mentir e sua provada incapacidade gerencial, afirma Almeida, Dilma denota absoluta incompetência para exercer um cargo de tamanha magnitude. "Ela não consegue andar com as próprias pernas", finaliza.
A postura insegura provoca desconfiança em relação à dependência político-administrativa que Dilma demonstra para com o presidente. "Ela repete o que Lula diz. E Lula diz hoje uma coisa, amanhã outra, de acordo com suas conveniências", diz o deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
Outro tópico crítico relacionado à candidatura governista está na análise superficial do que se propõe para um projeto econômico futuro. A ex-ministra se coloca como a mais capacitada para dar continuidade às políticas monetárias ao final dos oito anos de governo petista. E não há nada que comprove tal situação, segundo Madeira. "É muita presunção achar que antes dele [Lula] nada existia", diz. "É uma mistura de ignorância e falta de respeito à inteligência alheia", ataca.
Para o bloco de oposição, o ciclo de crescimento econômico está se fechando e o Brasil precisa avançar mais. "Daí a importância de alguém preparado, sintonizado com os avanços que o país deve proceder nos próximos anos, ser o próximo presidente da República", explica José Carlos Aleluia (DEM-BA), negando que esse papel possa ser desempenhado por Dilma.
Com a disputa polarizada entre PT e PSDB e comparativa entre os governos Lula e FHC, a temática da corrupção ganha destaque na busca do convencimento do eleitor pelo não voto em Dilma. Apontar os escândalos ocorridos nos últimos oito anos, portanto, passa a ter grande relevância.
"A promiscuidade entre as esferas públicas e privadas revelada nas entranhas do escândalo do Mensalão deve ser banida", assevera o senador Álvaro Dias. Para ele, o episódio deve "mobilizar a sociedade e o próximo governante terá uma cruzada pela restauração da ética e da moralidade".
A lambança envolvendo o primeiro mandato do governo petista é reforçada pelo líder do PSDB no Senado, como argumento contrário à ex-ministra. "Exemplo pior foi a forma como se tratou a questão pública naquele episódio", critica Virgílio.
A ótica tucana também não poupa protestos ao "aparelhamento dos órgãos públicos" para empregar "milhares de militantes do partido". O resultado dessa prática representa o aumento sistemático dos custos do governo, que gasta além dos limites sensatos para o equilíbrio das contas públicas. E, sendo um problema endêmico petista, não poderá Dilma resolvê-lo, segundo a oposição.
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