Martin em janeiro, em Westlake Village, na Califórnia - Peggy Shirota

Em direção à luz

Chris Martin se livrou das dores do coração e dos detratores para trazer o Coldplay de volta ao sol

Josh Eells Publicado em 10/03/2016, às 15h12 - Atualizado em 11/03/2016, às 12h00

Em uma tarde ensolarada no começo do ano, Chris Martin sai de sua SUV com motorista diante de um hotel luxuoso de frente para o mar e para no calçadão de Santa Monica, Los Angeles, inspirando profundamente. “Não é lindo?”, diz, observando a areia dourada e o Oceano Pacífico. “Um dia incrível.” Não por acaso, “Amazing Day” (que, em português, significa “dia incrível”) é o título de uma música do novo álbum do Coldplay, A Head Full of Dreams – a primeira prova de que, em pessoa, Martin é basicamente o que parece ser em suas letras: exuberante, um pouco brega e facilmente impressionável.

O cantor alonga as pernas e aproveita o sol por um minuto. Está descalço e usando um boné com um smiley estampado e, considerando o humor dele, o efeito é quase redundante – um sorriso em cima de um sorriso.

Martin mora ali perto, em Malibu, em uma casa de US$ 14 milhões que comprou com a ex-mulher, Gwyneth Paltrow, pouco antes de o casal se separar, em 2014. O cantor e compositor gosta de se mexer, então partimos para uma caminhada. “Sempre houve uma energia ansiosa circulando nele”, diz o melhor amigo do artista, Phil Harvey, diretor criativo do Coldplay.

Andamos pelo calçadão, passando por turistas, ciclistas e gaivotas. Martin pisa em uma pedrinha e se agacha para pegá-la, conscientemente a jogando na areia para evitar que o próximo pedestre tenha o mesmo destino. Aproveito a oportunidade para perguntar sobre a falta de sapatos. Ele suspira: “Não gosto muito de falar sobre isso, porque me faz parecer grã-fino”, diz, “mas a verdade é que, dois dias antes do Natal, estava fazendo trabalho voluntário em um lugar para moradores de rua e alguém acidentalmente derrubou um painel enorme de madeira sobre o meu pé”. Ele ficou com medo de ter fraturado os dedos do pé – isso não aconteceu, mas ainda é dolorido usar sapatos. Pelo lado positivo, o ferimento foi uma boa desculpa para passar as festas de final de ano com Gwyneth e com os dois filhos, Apple, de 11 anos, e Moses, de 9.

No Réveillon, ele esteve ao lado de algumas pessoas famosas que prefere não nomear. “Lá pelas 23h, fiquei me sentindo ansioso”, conta. “Alguém me disse que, quando você está ansioso, precisa escrever uma lista de todas as coisas pelas quais é grato. Então, tentei isso, e foi incrível. Muito do que os poetas antigos e nomes do sufismo e do budismo diziam era que se você consegue entrar em contato com isso o tempo inteiro, ficará mais feliz. Na minha experiência, isso é verdade. Percebi que quando me lembro de ser grato, tudo parece um pouco melhor.”

Pergunto o que estava na lista. “Muita coisa”, Martin afirma. “Para começo de conversa, simplesmente estar aqui. Até isso é suficiente para olhar feliz para o espelho. Uau, tenho uma nova chance hoje? É sério? Isso estava no topo da lista. E tenho essas duas crianças que amo e um trabalho que amo” (“Ele sempre fala de como é grato”, provoca o ator e amigo Simon Pegg. “É a palavra mais usada por Chris atualmente”).

Chris Martin se mudou para Los Angeles em um momento de transição na vida – ele e Gwyneth estavam tendo problemas no casamento havia mais de um ano. “O Coldplay tinha acabado de sair de uma turnê enorme em estádios para Mylo Xyloto (2011)”, lembra. “Quando se termina uma grande turnê, há um vazio estranho no final. Durante dois anos, você é necessário toda noite, muita energia vem em sua direção, e daí tudo desaparece e você precisa ver o que está acontecendo em sua vida pessoal. Então, muita coisa simplesmente... não estava lá.”

Ele é reservado quanto ao período depois disso, mas os amigos dizem que foi bastante sombrio. “Chris teve uma época bem ruim”, diz Phil Harvey. “Estava sofrendo e lutando para ver a luz no final do túnel. Ficamos preocupados.” Quando o Chris se sente bem, ele se sente muito bem”, acrescenta Jonny Buckland, guitarrista do

Coldplay. “E quando está mal fica muito mal.”

Martin e Gwyneth anunciaram o divórcio em março de 2014. Dois meses depois, o Coldplay lançou o sexto álbum da carreira, Ghost Stories – uma crônica sobre separação, na qual ele canta sobre estar “quebrado por dentro”. As melhores músicas da banda (“Yellow”, “The Scientist”, “Viva la Vida”) sempre tiveram uma espécie de dor épica, misturando tragédia com ânimo, mas Ghost Stories era comedido – só nuvens e nada de arco-íris. A banda não se esforçou para promover o disco, tendo feito poucos shows e evitado entrevistas. “Teria sido um pouco dolorido”, afirma Martin. “Uma relação tremendamente pública havia acabado e ali estava um disco relativamente intimista e triste. Foi meio que autoexplicativo.”

O álbum que se seguiu, o novo A Head Full of Dreams, é o oposto do anterior: um trabalho pop grandioso e otimista, cheio de ritmos animados e de cores. “É quase como se ele tivesse definido para si mesmo um mapa para sair daquele buraco”, afirma Harvey. “Acho que deu uma estrutura para começar a aproveitar

a vida novamente.”

Buckland diz que a banda se sentiu livre para ser mais otimista e dançante. “Exorcizamos a melancolia de dentro de nós.” Para ajudar a supervisionar o novo conjunto de músicas, o Coldplay recrutou o Stargate, duo norueguês de produtores que já fez hits para Beyoncé, Rihanna e Katy Perry. Eles se conheceram há alguns anos, quando Martin compôs uma música chamada “Hook Up” que esperava que Beyoncé gravasse. Na época, entrou em estúdio com o Stargate para testar a canção (não funcionou: “Do jeito mais doce possível, ela me disse: ‘Gosto muito de você – mas isto é horrível’”, conta Martin). Ainda assim, o cantor se deu com o Stargate, então quando chegou a hora de gravar ...Dreams, perguntou separadamente à dupla e ao Coldplay se poderiam trabalhar juntos. Inicialmente, “todos estavam muito céticos – inclusive eu”, afirma Martin (Buckland acrescenta: “Acho que a cozinha estava muito mais cética”. Segundo o baterista, Will Champion, a sensação era mais de curiosidade).

O disco estreou no número 2 das paradas nos Estados Unidos. “É cedo demais para dizer se foi bem-sucedido”, o cantor pondera. “Só sei que realmente amo esse álbum.”

Na noite seguinte, Chris Martin está em Pacific Palisades, depois de deixar Apple na aula de teatro. “Venha”, ele me chama. “Hora da nossa caminhada diária.” Começo a questionar se os passeios a pé também não são um jeito para Martin fugir de perguntas.

Acabamos encontrando um Starbucks e ele se senta com um chai com leite de soja. Pergunto se podemos falar sobre o divórcio. “Manda ver”, ele diz. “Já faz muito tempo.” Quero saber como ele acha que mudou desde a separação. “Além de todas as coisas sobre as quais estivemos conversando?”, questiona, rindo. “É difícil dizer, mas acho que me sinto mais grato. E talvez um pouco mais calmo.

Ele faz uma pausa. “É engraçado. Não penso muito nessa palavra – divórcio. Não vejo dessa maneira. Acho que você conhece alguém, fica um tempo com essa pessoa e as coisas seguem em frente.” Martin e Gwyneth se dão tão bem que ela aparece no novo álbum do Coldplay, fazendo vocal de apoio em uma faixa chamada “Everglow”. Ele afirma que queria a participação dela porque “mostra que essa coisa de continuarmos amigos é realmente de verdade”. No entanto, Martin diz, “esta conversa talvez fosse mais relevante uns dois anos atrás. Entendo, realmente não tenho falado sobre isso – só não quero ser desrespeitoso com novos relacionamentos. Vivi muito desde então”

Por exemplo: Jennifer Lawrence. Martin e a atriz supostamente namoraram no último ano. Ele não fala sobre essa nem outra suposta mulher em sua vida, a não ser para dizer: “Se eu estivesse em outro relacionamento – o que não confirmo nem nego –, poderia ser com alguém realmente maravilhosa e incrível e ótima. Isso, claro, é especulativo”, acrescenta. “Não daria para colocar em um site de fofoca. Só estou dizendo.”

Como um cantor e compositor muito famoso, mas também extremamente privado, Martin está em uma posição engraçada. É inevitável que as pessoas procurem nas músicas do Coldplay pistas da vida amorosa dele. Versos como “Você me faz sentir vivo de novo” em “Adventures of a Lifetime” levaram a rumores de que a canção é sobre Jennifer.

Como se isso não fosse suficientemente inclusivo, o novo álbum também tem vocais de apoio da suposta atual namorada de Martin, a atriz inglesa Annabelle Wallis. Ele, claro, fica mudo. “Só porque alguém está cantando no nosso disco não significa que estamos casados”, diz, levemente irritado. O que é totalmente justo, mas fico um pouco surpreso por ela estar no álbum. Não é um convite a perguntas que ele não quer responder?

A esta altura, Martin parece ter chegado ao limite em relação a perguntas sobre relacionamentos. “Talvez eu tenha ferrado tudo”, afirma. “O que deveria ter feito? Será que precisamos mudar as músicas?” Peço desculpas e digo que só acho curioso. “Não, tudo bem, cara. Também estou interessado nisso. Se sua vida é um pouco pública... mas você lança músicas muito pessoais... mas não quer que sua vida pessoal se torne pública...” Martin ri. “É tipo: ‘O que você está fazendo aqui, filho?’”

Durante a maior parte de sua existência, o Coldplay foi uma banda da qual não havia problema zombar – isso era até encorajado, o que deixava Chris Martin magoado. “Tive alguns anos em meados da década de 2000 em que isso era realmente confuso para mim. Perguntava: ‘Por que nossa banda às vezes vira saco de pancada?’” Mesmo em dezembro, quando a NFL anunciou que o Coldplay se apresentaria no

intervalo do Super Bowl, a internet pegou fogo com piadas sobre cochilos durante o show.

Martin entende. “Somos um alvo fácil”, afirma. “Veja algumas das coisas que te falei. Qualquer pessoa que diga: ‘Ei, por que não nos amamos e nos damos bem...’ Isso é fácil de atacar.” Ele diz que costumava ter pensamentos muito binários sobre a banda, mas isso mudou. “Achava que todos gostavam de nós ou nos odiavam. Mas vamos fazer o que queremos. Se você gostar, maravilha, se não gostar, não me importa. Você pode fazer muitas outras coisas. Pode ter um PlayStation!”

Porção Familiar

Músico tem relação próxima com os dois filhos

Os filhos de Chris Martin estão em uma idade em que podem fazer várias coisas divertidas com o pai. Recentemente, Martin levou Moses a uma partida de basquete entre Lakers e Warriors. “Nunca tinha ido a um jogo dos Lakers. Eu me senti realmente grato.” Em uma frente muito recompensadora para o cantor, ele e os filhos também estão começando a fazer música juntos. Apple está aprendendo a tocar violão e ela e Moses cantam no novo disco do Coldplay. Os dois até inspiram Martin a melhorar a música que faz. “Um lado meu

quer garantir que o Coldplay seja bom só para eles não passarem vergonha na escola. É sério.”

Leia também

Andrea Bocelli ganha documentário sobre carreira e vida pessoal


Janis Joplin no Brasil: Apenas uma Beatnik de Volta à Estrada


Bonecos colecionáveis: 13 opções incríveis para presentear no Natal


Adicionados recentemente: 5 produções para assistir no Prime Video


As últimas confissões de Kurt Cobain [Arquivo RS]


Violões, ukuleles, guitarras e baixos: 12 instrumentos musicais que vão te conquistar