<b>Desacelerando</b><br> Clapton diz que pode mesmo deixar os palcos em 2015. - Brian Rooney

Eric Clapton

Guitarrista comenta a possibilidade de abandonar os palcos definitivamente

David Fricke | Tradução: J.M. Trevisan Publicado em 07/09/2014, às 15h34

Eric Clapton estava pescando no interior da Inglaterra no último verão quando recebeu uma mensagem de texto: o cantor, guitarrista e compositor JJ Cale havia morrido. “Fiquei lá sentado à beira do rio”, relembra Clapton. “Eu me ouvia soltar um gemido baixo e dolorido de quando em quando. Foi difícil.” Depois, no avião rumo aos Estados Unidos para o velório de Cale, ele decidiu que faria um tributo ao amigo e ídolo. Assim nasceu o novo disco dele, The Breeze: An Appreciation of JJ Cale. Nesta entrevista exclusiva, Clapton, de 69 anos, fala sobre Cale, admite que atualmente tem problemas para compor e alega que está pensando seriamente em se aposentar das turnês.

Conheça dez bichos de estimação que inspiraram o rock e o pop.

Muita gente só conhece Cale por causa das versões que você fez das músicas dele.

Quando eu comecei a conversar sobre este álbum com Dave Kaplan, que cuida do Surfdog [selo de Clapton], ele só havia ouvido as músicas de JJ para as quais eu havia feito covers. JJ era muito autocrítico, muito humilde quando se tratava do próprio talento. Ele estava feliz e satisfeito sendo reconhecido apenas como compositor. Mas quando tentei tocar como ele... é algo além do alcance para a maior parte dos músicos. Temos a mão muito pesada. Ele tinha um toque que era ao mesmo tempo sensível e sutil.

Por que você sempre acaba voltando a inspirações mais antigas como Cale, o bluesman Freddie King e Charles Brown, tanto em shows quanto nos discos?

Eles remetem aos meus primeiros contatos com a música, quando eu circulava pelas casas noturnas, só prestando atenção, absorvendo o blues e o folk. Aquelas músicas eram como clássicos para mim. Tinham substância e peso, sabedoria e história.

O que houve com suas composições? Seus álbuns mais recentes são quase todos de covers.

É só preguiça. Quando chego naquela hora em que tenho que pensar “O que eu coloco aqui nessa parte?”, paro e ligo a TV. Me distraio muito fácil. O que tenho feito muito é compor e depois acabar esquecendo. Guardo as composições como gravações de voz no meu celular, e aí perco o arquivo.

A autobiografia de Clapton está na nossa lista das mais polêmicas, absurdas e ultrajantes autobiografias do rock.

Acha que está ficando sem assunto?

Assunto acaba aparecendo. O problema é a música em si. Por isso amo as composições de JJ. Há uma complexidade rolando. Compor é isso. É pensar: “O que posso fazer de interessante e único com esses acordes?”

Você ainda ouve bastante rock?

Ocasionalmente. [Pausa] Não sei mais o que é o rock hoje em dia. Não sei bem quem está tocando rock. Blake Mills [que já tocou com Conor Oberst e com o Avett Brothers] foi o último guitarrista que ouvi e me pareceu fenomenal.

Vai fazer outro festival Crossroads? Toda vez você diz que é o último.

Não, manter desta vez é sério. Não quero mais trabalhar tanto. The Breeze foi uma delícia de fazer. Eu estava planejando compor e gravar outro álbum sozinho quando JJ morreu. Assim, essa pode ser minha próxima decisão. No ano que vem, pode ser que eu faça shows aqui ali e então diga: “Gente, é isso. Parei”. Depois verei o que fazer, se vou me contentar em ficar somente em estúdio e depois ir para casa tocar para a minha família.

Em 2001 você disse a mesma coisa, que estava pronto para se aposentar.

É, bem... [risos]. A luta para continuar saudável – ágil e com energia para shows – fica mais difícil a cada ano que passa. Na maior parte dos dias, quando não estou me apresentando, fico vendo televisão e vou para a cama às 22h.

Como dez mestres da guitarra – entre eles, Eric Clapton – começaram.

Com que frequência toca quando está em casa?

Bastante. Talvez uma vez por dia ou a cada dois dias, e por um bom tempo. Pego um violão e tento criar alguma coisa.

Nessas horas, você toca os mesmos blues antigos que toca no palco?

Não. Sempre tento fazer algo diferente. Não treino o que eu já conheço a menos que esteja para fazer algum trabalho ao vivo. Na maior parte do tempo, o que toco são coisas abstratas, como se eu pegasse um papel e caneta e desenhasse o que está à minha frente. É sempre algo improvisado.

Então você tem músicas originais, novas, que não esqueceu ou perdeu?

Sim [risos]. Elas estão no meu iPhone.

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