Paula Acioli é mestre em Moda, Cultura e Artes e coordena o curso de Gestão de Negócios em Moda da Fundação Getulio Vargas
Redação
Publicado em 21/06/2015, às 15h08Uma imagem da filha publicada em uma revista fez a mestre em Moda, Cultura e Artes Paula Acioli ter um insight revelador a respeito dos costumes da vestimenta da mulher carioca no século XXI. Passados quase 150 anos do fim de uma mácula da história brasileira, a escravidão, é possível notar que a influência cultural dos povos africanos trazidos forçosamente para essa parte da América segue muito viva.
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“Minha filha foi fotografada para o editorial de moda de uma revista nacional. Assim que a publicação chegou às bancas, comprei um exemplar para ver o resultado. Lá estava ela, cabelos longos, loiríssimos, e cara de gringa, mas vestida como a típica carioca que é: shorts jeans, canga amarrada na cintura, lenço preso no pescoço e nas costas, como frente única, sandálias Havaianas e incontável número de cordinhas e pulseiras nos pulsos”, relata Paula, que também é coordenadora do curso de Gestão de Negócios em Moda da Fundação Getulio Vargas (FGV).
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A especialista conta que se lembrou de ter visto algo semelhante àquela imagem anteriormente em algum dos livros lidos por ela para uma tese de mestrado sobre a moda carioca, tese que será publicada em breve. Folheando uma das obras de Johann Moritz Rugendas, pintor alemão que integrou uma das várias missões artísticas que registraram hábitos e costumes no Brasil do século XIX, ela percebeu.
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“Havia encontrado a tal imagem que tinha cismado já ter visto antes e que tanto se parecia com a foto na revista. Fiquei surpresa ao constatar que não apenas a pose descontraída de minha filha, mas todas as peças de roupas usadas por ela em pleno século XXI – exceto o shorts jeans – eram exatamente iguais às da escrava retratada na gravura de Rugendas, do século XIX".
"Estavam no corpo da bela negra africana o pano amarrado na cintura, como uma canga e um lenço amarrado no pescoço e no torso, exatamente como o lenço que minha filha transformara em frente única. No pulso da escrava, como no da minha filha, muitas pulseiras e cordinhas. Sinais de vaidade da mulher carioca de hoje, que já eram marca registrada da mulher, sobretudo a negra, no Rio de Janeiro de séculos atrás”.
Os estudos na área e uma viagem recente à África reforçaram em Paula a noção de que as referências africanas de fato se arraigaram ao longo dos anos no Brasil, a despeito do preconceito e de todas as dificuldades impostas aos escravos e aos seus descendentes. Não só na moda, mas também na música, na gastronomia e no estilo de vida.