<b>NO TOPO DO MUNDO</b><br> Kate no observatório do Empire State Building, em Nova York, em julho de 2016 - Charles Sykes/Invision/Ap

Esquisitona de Sucesso

Após alcançar o sonho de entrar para o Saturday Night Live (e de levar um Emmy para casa), Kate McKinnon se prepara para voos mais altos

Alex Morris Publicado em 10/12/2016, às 11h42 - Atualizado em 20/01/2017, às 22h12

Em uma recente manhã de domingo, Kate McKinnon se debruça sobre os restos de uma banana fatiada enquanto tenta não chorar. A fruta tem o objetivo de melhorar os hematomas sofridos no set de um filme-de-despedida-de-solteiro-que-deu-errado, provisoriamente chamado Rock That Body. “É com a Scarlett Johansson, já ouviu falar dela?”, brinca Kate. O choro vem por causa do meu comentário inocente de que, se Deus quiser, em janeiro ela poderia ser a primeira atriz da história do Saturday Night Live a interpretar uma mulher presidente dos Estados Unidos (a entrevista foi realizada antes da eleição norte-americana). “É, realmente. Eu não tinha pensado nesses termos até este momento. Não sobre a minha participação, mas – como será esse momento? O quanto vamos chorar? Eu poderia chorar agora só de pensar no quanto todos nós estaremos chorando quando isso acontecer de verdade.” Por um instante, ela faz exatamente isso. E então, sem contexto nenhum, para e tenta equilibrar uma colher no nariz.

É bem por aí. Explorar as emoções de uma personagem se tornou a marca registrada de Kate desde o início da trajetória da artista no SNL, em 2012, com sua voz de Katharine Hepburn, olhos de gato e uma capacidade de ser mais estranha do que qualquer outra pessoa. “Eu tento ser confiante, mas tenho o que meus amigos chamam de mãos de Ratatouille”, afirma, transformando as mãos em garras de rato e esticando seus dedos na minha direção. “Eu sou uma mulher pequena. Consigo me identificar profundamente com essa justaposição de duas características díspares – acho que essa é a essência de qualquer personagem de comédia.”

É também o segredo por trás de algumas das interpretações mais famosas de Kate no SNL, programa pelo qual ela recebeu o Emmy de Melhor Atriz Coadjuvante em setembro: Angela Merkel tentando esconder uma quedinha por Barack Obama por trás da típica sisudez alemã; Justin Bieber como um meninão que parece sempre estar se preparando para uma selfie; e, sim, Hillary Clinton como uma mulher que mal consegue esconder a ambição de fazer tudo dar certo.

Esse também não é um conceito estranho para Kate. Filha mais velha de um arquiteto e de uma assistente social, ela cresceu em Long Island, Nova York. Na 5ª série incorporou um sotaque britânico para o teste para “rainha da semana de leitura”. “Passou pela minha cabeça que isso agregaria à caracterização da rainha”, conta. “Eu acho que a gênese da minha vida inteira, provavelmente, são os sorrisos que consegui evocar fazendo aquele sotaque britânico. Busco esse sentimento desde então.”

Kate começou a assistir ao SNL aos 12 anos, por incentivo do pai. Como tantas outras estrelas do programa de esquetes, se apresentou com o renomado grupo de comédia Upright Citizens Brigade antes de enviar uma fita para o SNL e ser chamada para um teste. “Um amigo foi contratado como roteirista uns dois anos antes e eu fisicamente tremia só de estar próxima de alguém que trabalhava lá. Era meu sonho, mas já tinha aceitado que não rolaria, e tudo bem.” Quando descobriu que havia sido contratada (e que assim se tornaria a primeira mulher do elenco assumidamente lésbica), ela, é claro, chorou.

Aos 32 anos, Kate está na rota de sucesso (da TV para filmes e para a dominação mundial) que se espera dos integrantes mais talentosos do SNL. Atua em Gênios do Crime, comédia policial cujo elenco é um verdadeiro quem é quem da comédia: Zach Galifianakis, Owen Wilson, Jason Sudeikis e Kristen Wiig. “Foi assustador”, diz. “Sabe, estava gravando cenas com o Zach Galifianakis, um dos meus heróis. Eu quero fazer um bom trabalho. E isso requer algum grau de obsessão e um pouco de tortura.” Mas o destino dela provavelmente foi selado com Caça-Fantasmas, de Paul Feig, no qual sua interpretação excêntrica para Holtzman, a inabalável engenheira nuclear da equipe, quase roubou a cena. “Para mim, pareceu algo monumental fazer cenas de ação sem ter que vestir collant”, afirma. E isso nos traz de volta a Hillary. Quando Kate descobriu que tomaria as rédeas de Amy Poehler e assumiria o papel da então candidata à presidência dos Estados Unidos no SNL, surtou “diante da enormidade da tarefa. Tudo fica mais complicado quando envolve política”. Kate não só teve que fazer jus à caracterização “icônica e maravilhosa” de Amy como precisou se diferenciar dela e, ainda, descobrir uma forma de satirizar uma mulher que ela respeita e apoia publicamente. Mas, desta vez, sem lágrimas. “O progresso, o progresso de verdade, me faz chorar mais do que qualquer coisa.”

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