Erik Hedegaard | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 08/01/2014, às 11h38 - Atualizado em 10/01/2014, às 11h55
No San Joaquin Valley, na Califórnia, entre Bakersfield e Fresno, na periferia da cidade cheia de moscas, de vento, de fedor e de ar seco de Corcoran, fica a ampla Corcoran State Prison, onde Charles Manson cumpre o restante da sentença de prisão perpétua pela participação nos assassinatos do caso Tate-LaBianca, que encerraram a era de paz e amor, em 1969. Ele acaba de entrar na sala de visitas. Não tem a mesma aparência de antes, claro, quando aparecia todo resplandecente em roupas de pele de veado com franjas, às vezes usando gravata ou um colete de retalhos, ostentando um cavanhaque sedutor e olhos loucos de Rasputin. Era o tempo em que saltava da cadeira para atacar o juiz que presidiu o julgamento, segurando um lápis, pronto para perfurar a garganta do velho, antes de ser contido, ajudando a concretizar o veredicto de “culpado”. Esses dias se foram. Ele tem 79 anos. É um velho grisalho, com audição e pulmões ruins e dentadura rachada. Anda com uma bengala e a levanta saudando os visitantes, um deles uma morena esguia que ele chama de Star. “Star!”, diz. “Não é uma mulher. É uma estrela na Via Láctea!” Ele abre os braços, sorrindo, e ela flutua na direção dele.
Charles Manson: o homem mais perigoso do mundo.
De uma plataforma elevada no centro da sala, dois guardas armados com spray de pimenta e cassetetes ficam de olho no casal. Star tem 25 anos, vem de uma cidade à beira do rio Mississippi, foi criada como batista, veste-se muito bem e tem senso de humor. Já Manson é o assassino mais infame de todos os tempos. Foi chamado de “diabo” pela maneira como influenciou os seguidores a matar em seu nome. Passou os últimos 44 anos na prisão e quase 60 anos encarcerado, o que significa que foi um homem livre por menos de duas décadas de vida. Nunca sairá de lá. Star, que não divulga o nome verdadeiro, vive em Corcoran há sete anos. Não foi a reputação assassina de Manson que a atraiu até aqui, mas sim a postura ambiental dele, pró-Terra, em favor das árvores, água e animais. Ela ficou para se tornar a defensora mais ardente do criminoso, para comandar diversos websites “Dê uma chance a Manson” e para visitá-lo todo sábado e domingo, por até cinco horas por dia, desde que ele não esteja na solitária. “As pessoas acham que sou louca”, ela diz. “Mas não sabem. Eu nasci para isso.”
As regras da sala permitem um beijo no começo e no final de cada visita. É o que eles fazem. Depois, sentam-se um de frente para o outro a uma mesa. A primeira coisa que se nota em Manson é o X (mais tarde alterado para uma suástica) que ele marcou na testa durante o julgamento, para protestar contra o tratamento pela lei, um ato logo copiado por seus colegas de quadrilha – e tantos anos depois, pela garota sentada diante de si, Star, que recentemente também cortou um X na testa. A segunda coisa é que a aparência dele é ótima. Apesar da idade, não há nada de velho nojento nele, nenhum pelo saindo das orelhas nem do nariz, ou baba nos cantos da boca. A camisa azul aprovada pela penitenciária não tem um único amassado, nem manchas de comida. Ele fala suavemente, muito diferente das entrevistas na TV nos anos 80 e 90, quando, por exemplo, inclinou-se em direção à jornalista Diane Sawyer, urrando: “Sou um gângster, mulher, eu roubo dinheiro!”.
Manson suspira e senta, parecendo confuso. No entanto, antes que eu note, ele se aproxima e dá um peteleco na ponta do meu nariz, rápido como a língua de um sapo. Ele se inclina para a frente. Posso sentir a respiração dele na minha orelha. “Já toquei todo mundo no nariz, cara”, diz baixinho. “Não há ninguém que não possa tocar no nariz.” Pende para um lado e fala: “Sei o que você está pensando. Relaxe”. Um tempo depois, afirma: “Se posso encostar em você, eu posso te matar”.
Ele coloca a mão no meu braço e começa a esfregá-lo. Uma hora depois, estamos conversando sobre sexo no rancho nos velhos tempos, como era, com todas aquelas garotas ali, rapazes também, a coisa do sexo grupal. “Foi tudo assim”, ele diz, colocando a mão no meu braço novamente, deslizando-a na dobra do cotovelo. “Era daquele jeito. Todo mundo fazia. Não existe dizer ‘não’. Se eu te puxo, você tem de remar com a maré. Você estava com alguém que todos querem.” Concordo. Por um momento, com a mão dele na minha pele, vejo como era. A sensação de ir com a maré é boa, mesmo se é a maré de Charles Manson e mesmo se, já que ele pode encostar em mim, ele conseguiria me matar, como provavelmente era também naquela época.
Enquanto isso, Star está organizando uma pequena comilança: doces, torta de abóbora, batata frita, bolo de morango, doces de manteiga de amendoim. Manson pega um doce e toma um refrigerante. É assim que ele passa o tempo hoje. É assim que ele espera a vida acabar.
O que a maioria das pessoas sabe e acredita sobre Manson deriva quase totalmente do relato de 600 páginas feito pelo promotor público Vincent Bugliosi sobre os crimes, a investigação e o julgamento, Helter Skelter (no Brasil, lançado como Manson, Retrato de um Crime Repugnante), com mais de 7 milhões de cópias vendidas desde 1974, mais do que qualquer livro sobre um crime na história. Ainda hoje, é uma obra assustadora, de fritar o cérebro.
Bugliosi descreveu assim: em 21 de março de 1967, depois de cumprir uma pena de seis anos por violar a condicional de uma prisão por falsificar um cheque de US$ 37, o criminoso de carteirinha Charles Milles Manson, de 32 anos, saiu de trás das grades e foi para o mundo de psicodelia, paz e amor de São Francisco. Era o Verão do Amor. Ele nunca tinha visto algo parecido – amor livre, comida de graça, muitos abraços, maconha e ácido, garotas, tantas garotas, muitas delas perdidas, simplesmente procurando alguém que lhes dissesse que elas tinham sido encontradas. Charles Manson era seu homem. Ele tocava violão, tinha a aura de ex-prisioneiro, um bom discurso metafísico de liberdade. As mulheres o adoravam, começando com a bibliotecária Mary Brunner, seguida pela bonitinha Lynette Fromme (chamada de Squeaky), pela ninfomaníaca Susan Atkins e pela ricaça Sandra Good. Esse foi o começo do que o advogado mais tarde chamaria de “Família” – e também o início do fim para Manson.
O grupo se mudou para Los Angeles. Manson queria ser um astro do rock. Ficou amigo de Dennis Wilson, do Beach Boys, e do produtor musical Terry Melcher. Estava chegando lá. Todo mundo transava com todo mundo. Era assim, exceto quando, como algumas das garotas testemunharam mais tarde, Manson as agredia. Eles moravam no Spahn Ranch, um antigo cenário para filmes de faroeste. Lá, Manson declarava ser Jesus e todos o tratavam como tal, o que levou à crença de que ele tinha uma atração hipnótica e enigmática sobre as pessoas. Por um tempo, foi tudo bom. Jovens que nunca haviam tido um lar de verdade agora tinham um. Só que algo mudou em 1969. Os Beatles haviam lançado o “Álbum Branco” e Manson desenvolveu uma ligação bizarra com a faixa “Helter Skelter”. Ele a idealizou em uma guerra apocalíptica futura entre negros e brancos, durante a qual ele e sua gangue viveriam no deserto, no subsolo, em uma terra mágica de leite e mel depois da qual os negros, que a haviam vencido, implorariam para que ele fosse seu líder, porque não conseguiriam liderar a si mesmos.
Segundo o relato de Bugliosi, Manson se cansou de esperar a guerra começar. Então, em 9 de agosto de 1969, decidiu iniciá-la enviando o ex-atleta escolar Tex Watson, a ex-estudante de faculdade católica Patricia Krenwinkel, a ex-cantora de coral de igreja Susan Atkins e a recém-chegada Linda Kasabian a uma casa em que alguns ricos viviam na Cielo Drive, em Los Angeles, com a ordem de “destruir totalmente todo mundo dentro [dela], da forma mais nojenta possível”. Eles deveriam deixar sinais de bruxaria e profecias que fariam parecer o trabalho do grupo Panteras Negras. Não havia como dizer “não” – pelo menos ninguém disse “não”. “Sou o diabo e estou aqui para fazer o trabalho do diabo”, anunciou Watson ao entrar na casa. Vinte e cinco minutos e 102 facadas depois, tudo acabou, pelo menos por aquela noite.
Entre os assassinados estavam a atriz Sharon Tate, de 26 anos, grávida do diretor Roman Polanski; o cabeleireiro de celebridades Jay Sebring, 35; o roteirista Voytek Frykowski, 32; e a herdeira da fortuna dos cafés Folger’s, Abigail Folger, 25. Na noite seguinte, os assassinos atacaram novamente, de novo sob orientação de Manson, com a ex-rainha de formatura Leslie van Houten incorporada ao grupo, adicionando outras 67 facadas ao total e matando um casal aparentemente aleatório, o dono de supermercado Leno LaBianca, de 44 anos, e a esposa, Rosemary, de 38 anos, enquanto descansavam em casa. Nos dois casos, deixaram palavras como “porco” e “morte aos porcos” escritas com sangue nas paredes, em uma porta e na geladeira.
Na opinião de Bugliosi, essas coisas deveriam conectar os crimes aos negros. Os brancos perseguiriam os negros, estes se defenderiam, e a revolução começaria. Ele afirmou que Manson chamou isso de “Helter Skelter”, como a música dos Beatles. Era um cenário absurdo, maluco, que os colegas da lei de Bugliosi queriam que ele trocasse por algo mais comum, como roubo ou tráfico de drogas que deu errado. No entanto, não dava para deter Bug, como Manson o chama. Ele deu imunidade a Linda Kasabian – aparentemente ela estava do lado de fora quando os assassinatos aconteceram – e, tendo-a como principal testemunha, conseguiu vender “Helter Skelter” não apenas para o júri mas também para o resto do país. Em 1971, todos os réus foram declarados culpados e sentenciados à pena de morte, que foi transformada em perpétua quando o Estado cancelou esse tipo de sentença. Atkins morreu de câncer em 2009, aos 61 anos. Krenwinkel, de 65 anos, e Van Houten, de 64, estão na penitenciária California Institution for Women em Chino, onde são prisioneiras-modelo e continuam esperando liberdade condicional. Watson, hoje com 67 anos, está encarcerado na Mule Creek State Prison em Ione (Califórnia). Ele confessou ter realizado todos os assassinatos, com as garotas basicamente só esfaqueando as vítimas quando estas já estavam mortas, se é que isso faz alguma diferença. Hoje, todos repudiam Manson. Bugliosi, de 79 anos, depois de uma longa carreira como promotor e autor de best-sellers, agora passa o tempo descansando em casa na Califórnia, lutando contra um câncer e dando poucas entrevistas.
“Há milhares de condenados ruins, refinados por aí, e tivemos assassinatos mais brutais do que os cometidos por Manson, então por que ainda falamos de Charles Manson?”, pergunta Bugliosi. “Ele tinha uma qualidade que um milésimo de um por cento das pessoas têm. Uma aura. ‘Vibração’, os jovens chamavam nos anos 60. Aonde quer que ia, as pessoas gravitavam em sua direção. Isso não é normal.”
Falei pela primeira vez com Star em setembro de 2012, e com Manson pelo telefone em novembro; depois disso, ele hesitou em me ver, alguns dias concordando, outros dizendo “não”. Outras vezes me repreendia por ser um fantoche da mídia. “Você é um cara distante, viu”, disse uma vez. “Só encontro pessoas como você quando vou roubá-las. Você é um esnobe, não falo com gente esnobe”, rosnou. Quando visitei Star em setembro deste ano, Manson mais uma vez deixou claro que não me veria, mas mudou de ideia na última hora e, então, depois de nossa conversa inicial, pediu que eu voltasse no dia seguinte.
Ao longo dos anos, o rosto e o nome de Manson conseguiram permanecer firmemente na imaginação do público, independentemente do que ele próprio queira. Você pode ver seu olhar de buraco negro em camisetas e reprises do episódio “Feliz Natal, Charlie Manson!” do seriado South Park. Ele inspirou filmes e um musical. Em uma entrevista com Manson para a TV em 1988, o apresentador Geraldo Rivera o chamou de “pesadelo de uma nação” e Manson se esforça para confirmar essa noção. Isso também explica por que o caso nunca desapareceu. Na internet, cada detalhe está aberto para reavaliação e reinterpretação.
Agora, eis Manson na cadeia, onde está há tanto tempo, insistindo na mesma coisa que vem falando basicamente desde o começo. Ele não disse para Tex ir matar alguém (“Não orientei ninguém a fazer porcaria nenhuma”); fala que é inocente (“Nunca matei ninguém!”); não havia nenhuma Família (“Bug inventou isso!”); desmente ser o líder (“somos todos livres aqui. Não sou o chefe de ninguém!”), “Helter Skelter” não era o que Bugliosi disse que era (“Cara, isso não faz sentido maluco algum!”). Fala que seu direito de atuar como o próprio advogado foi incorretamente negado durante o julgamento (“Queria meus direitos!”), e que o governo lhe deve US$ 50 milhões “por 45 anos de baboseiras”. No final, diz que nada é importante se pensarmos no que estamos fazendo com nosso ar, nossas árvores, nossa água, nossos animais.
“Olha, é assim que funciona”, ele diz. “Você pega um bebê e” – aqui ele diz algo horrível mesmo sobre o que se poderia fazer com esse bebê, muito pior do que qualquer coisa que você poderia imaginar – “e ele morre”. Em seguida, ele fala algo igualmente horrendo. E continua: “Sei o que você está pensando. Consigo ver seu cérebro remoendo e funcionando, mas o que acontece quando aquele bebê morre?” Ele inspira e expira, inspira e expira. “Um cachorro teria feito isso, matar para respirar de novo. Então, foi errado fazer isso com aquelas pessoas?” É em momentos como esse que você percebe que a prisão é o único lugar para Manson e espera desesperadamente que ele nunca mais coloque a mão sobre sua pele.
As visitas a Manson são exaustivas para Star, e ela dirige com calma pelos 3 km que separam a casa dela da penitenciária. Antes, ela fazia o caminho com um homem alto, magro, assustador, chamado Gray Wolf, de 64 anos, que acredita em Manson desde os dias do Spahn Ranch. Ele fez um X na testa ao mesmo tempo que Star, mas foi preso neste ano por tentar contrabandear um celular para Manson, e lá se foram os direitos de visitação dele, deixando essa pequena e delicada moça como a única companhia do prisioneiro no fim de semana.
A forma como Star chegou aqui é basicamente a mesma como muitas garotas do Spahn Ranch chegaram aonde iam – como uma reação ao mundo ao seu redor e como ele as fazia sentir. Star cresceu à beira do rio Mississippi, perto de St. Louis, gostava de I Love Lucy na infância, teve pais religiosos que detestavam todos os seus amigos. “Eles achavam que eu estava me transformando em uma hippie”, conta. “Fumava maconha, comia cogumelos, não queria ir para a igreja aos domingos. Eles são batistas e queriam que eu fosse uma esposa de pastor.” Para mantê-la longe de encrencas, eles a trancavam no quarto, onde passou boa parte da adolescência. Como Manson, encontrou uma maneira de conviver com esse confinamento e solidão. Um dia, um amigo lhe deu um papel com algumas palavras de Charles Manson sobre o meio ambiente. Ela nunca tinha ouvido falar dele, mas gostou do que tinha a dizer – “O ar é Deus, porque sem ar não existimos” – e começou a escrever para ele. Depois que a correspondência engrenou, ela arriscou. Economizou US$ 2.000 enquanto trabalhava na cozinha de um asilo e, em 2007, enfiou tudo o que conseguiu em uma mochila e pegou um trem para Corcoran. Manson a apelidou de Star, como havia apelidado Squeaky (Red) e Sandy (Blue).
O apartamento dela não é grande, nem bem iluminado, e tem móveis baratos, com um quarto bagunçado demais para que ela me deixe entrar. Um violão e um estojo de violino ficam em um canto. Nada de TV. Em uma parede está a grande, evocativa foto em preto e branco de Manson no Spahn Ranch, usando um chapéu velho, pendendo para o lado, com um corvo no braço, o homem rústico que conseguia domar pássaros. Em uma mesa está o computador onde Star passa boa parte do tempo tentando reabilitar a imagem de Manson perante o público. Ela fica especialmente irritada com a antiga crença de que ele tem apenas 1,58 m de altura – diz que ele tem pelo menos 7 cm a mais – e acha que Bugliosi publicou intencionalmente essa mentira em Helter Skelter para diminuir ainda mais a estatura de Manson. Ele é baixinho, mas não tanto.
Das garotas originais da família, presumidamente apenas as duas principais ainda acreditam em Manson – Sandra Good, agora com 69 anos, e Lynette Fromme, de 65. O atual paradeiro de Sandy é desconhecido, embora ela tenha sido fotografada recentemente sorrindo e cavalgando uma mula no Grand Canyon. Em 1975, Lynette (ou Squeaky) foi condenada por tentar assassinar o presidente norte-americano Gerald Ford e só foi libertada em 2009. Há muito tempo, é a favorita de Manson. “Aquela garotinha, Lynette”, ele diz, “nunca conheci uma tão verdadeira como ela. Nunca virou a casaca. Ficou 34 anos na prisão e nunca quebrou seu voto. Um homem não consegue fazer isso.” Só que Star está na parada agora, fazendo algumas pessoas que acompanham Manson na internet se perguntar se ela substituiu Squeaky no coração dele.
Star passa o tempo todo online, encomendando coisas para a caixa de presentes permitida todo trimestre para Charles Manson. O pacote tem amendoim torrado, sementes de girassol e abóbora, barras de proteína, mistura para sopa de legumes, vitaminas, biscoitos, pastilhas para garganta, chás, regatas, meias, shorts, um barbeador elétrico e cordas de violão.
Manson acorda cedo, deixa a cela cinza de concreto, toma café da manhã, pega uma marmita de almoço, volta, tira um cochilo, almoça, tira outro cochilo e caminha. Às vezes, joga uma partida de xadrez, depois vai jantar e tem de voltar à cela às 20h45. Não tem horário específico para apagar a luz. “Gosto da minha cela”, diz. “É meu céu na Terra. Sabe, meu melhor amigo está naquela cela. Estou lá. Gosto disso.”
Mesmo assim, ele se preocupa constantemente com o sistema de ventilação do presídio e jura que o ar o está matando. Tem medo de que os guardas coloquem lixo em seus sapatos só para zoar. Diz que sempre tem de estar em alerta máximo. Nunca ficou junto com outros presos, está sempre em algum tipo de unidade de abrigo protetor, onde supostamente é mais difícil os outros entrarem em contato com ele. Ainda assim, em 1984, em uma outra penitenciária, um homem o encharcou de removedor de tinta e botou fogo em sua cabeça. Agora, ele tem apenas 15 prisioneiros com os quais convive, entre eles Juan Corona, que matou 25 pessoas em 1971; Dana Ewell, que encomendou o assassinato da própria família, em 1992; Phillip Garrido, estuprador que raptou Jaycee Lee Dugard, na época com 11 anos, e a manteve refém por 18 anos; e Mikhail Markhasev, condenado por matar o filho de Bill Cosby, Ennis. Até o momento, parecem se dar bem.
Manson não vê muita TV. Toca violão e, às vezes, oferece dicas musicais ao colega violonista Corona, também um assassino em série. Ouviria um disco antigo do Doors ou do Jefferson Airplane se conseguisse descobrir como o CD player funciona. Às vezes, tem de deixar a cela enquanto cães farejadores procuram contrabando; durante uma visita recente, eles não encontraram nada, mas deixaram um “presentinho” no chão, divertindo Manson. Ele recebe milhares de cartas por ano, mais do que qualquer outro prisioneiro. De vez em quando, manda autógrafos assinados com a frase “O líder do culto hippie me fez fazer isto”. Durante o tempo atrás das grades, cometeu 108 infrações. Na última, em 2011, foi flagrado com uma “arma fabricada por presidiário” – neste caso, uma haste de óculos afiada – e jogado na solitária por um ano.
No final da tarde, Manson vai até a parede onde ficam os telefones. Suas ligações são gravadas, mas ele pode ligar à vontade, somente a cobrar, 15 minutos por vez. E ele faz muitas. Sei disso, porque as recebo há meses. Ele me liga quando estou no cinema, quando estou dirigindo, quando estou em festas, quando ando com meus cachorros no parque, quando estou em qualquer lugar onde ele nunca mais estará. Quer discutir o meio ambiente – “o fim está a caminho, garotão” – e o que deve ser feito com relação a isso. Uma vez, enquanto me falava sobre o bem de matar para conseguir mais ar, disse: “Quem é morto, esta é a vontade de Deus. Sem matar, não temos chance”. Fez uma pausa, e continuou: “Você pode querer não escrever isso e falar para si mesmo ‘Como isso pode funcionar para mim?’.” Na época, não dei bola. Demorei um tempo para absorver o que ele estava sugerindo.
Às vezes, Manson parece solitário. Depois, tenta me atrair. Mudo de assunto, como é necessário fazer de vez em quando com ele, rispidamente, sem gentilezas, e digo que estou com urticária. Ele se anima e me aconselha a lavar as bolhas com vinagre de maçã. Depois, fica irritado com algo e grita: “Sou um fora-da-lei, um gângster, um rebelde e não dou tiro de advertência”. Isso me faz sorrir, porque é uma coisa bastante cômica para dizer sobre si mesmo.
Você pode não querer saber sobre a vida sexual dele, mas ele conta mesmo assim. “Você acha que sou velho demais para me masturbar. Pensa: ‘É velho demais para transar com o travesseiro’, só que não sou. Ainda sou ativo com meu cano. Eu ainda sou eu.”
Ele reserva uma boa dose de veneno para Bugliosi. “Ele sabe que sou estúpido demais para me envolver em algo da magnitude de ‘Helter Skelter’. Então, como conseguiu se convencer disso por todos estes anos? Ganhou dinheiro, ganhou o caso. É um vencedor! Um gênio! Tomou 45 anos da vida de um homem para satisfazer a ganância, e vai para o leito de morte com isso na consciência? Não há nenhuma honra nele?”
Fala novamente sobre como não tem pena nenhuma das vítimas dos casos Tate e LaBianca, especialmente de Sharon Tate. “Era uma estrela de Hollywood. Quantas pessoas ela matou nos filmes? Era tão bonita assim? Comprometeu o corpo por tudo o que fez. E, se era tão bonita, o que estava fazendo na cama de outro homem quando aquilo aconteceu? Que merda é esta?” Finalmente, ele recorre à velha alegoria de Jesus e diz: “Acho que você não entende a gravidade da situação, cara. Como pode entrevistar Jesus quando Ele está morrendo na cruz?”
Depois de 44 anos, os fatos no caso de Charles Manson não são mais fatos propriamente ditos – são crenças e conclusões formadas por pedaços de luz desviada e redirecionada ou, como Manson gosta de chamá-las, são “perspectivas”. “‘Helter Skelter’ não foi uma mentira”, diz. “Só não foi a perspectiva de Bugliosi. Todos contam como querem lembrar. Mais cedo ou mais tarde, temos de nos submeter ao ponto de vista do outro. Claro, estava acontecendo, mas era só parte da parte. Os motivos foram todo tipo de coisas diferentes que estavam acontecendo na mente de Tex e na mente de todos nós, e há muitas discrepâncias diferentes ali que não se correlacionam de fato. Houve muitos motivos, cara, você tem um motivo para cada pessoa ali. Foi uma ideia coletiva. Um episódio psicótico, e você quer me culpar por aquilo?”
Manson sempre diz que o tempo não significa nada para ele, que “nos corredores da eternidade... vivo mil anos em um segundo, cara”, então, acreditando na palavra dele, hoje é o dia em 1934 no qual ele nasceu, filho de uma adolescente de 16 anos em Cincinnati. Nunca teve um pai que conhecesse e a única mãe que conhecia era uma bêbada irresponsável. Foi criado em centros de detenção e escolas reformatórias e recebeu uma educação adulta, embora não muito boa, de presidiário. Virou um péssimo criminoso, um cafetão incompetente, um péssimo ladrão de carros, um gatuno de mão pesada, um cara que foi pego toda vez que infringiu a lei. Antes dos assassinatos, tudo era patético e risível. Se você diz isso a Manson hoje, até ele, depois de um momento de silêncio ponderado, afirma: “Ok, tá bom, é, é. Tudo bem, você está certo nesta”, para depois dizer: “Só que não sou uma pessoa, nunca fui uma pessoa. Sou um animal criado a vida inteira em gaiolas”. Esse é o início da história dele, tudo o que você precisa saber. Dá para imaginar o restante. Pense no pior. Só duas décadas de uma longa vida passadas como um homem livre.
Ele se gaba de ser tão livre na prisão quanto em qualquer outro lugar. “Você é único no presídio, cara.” No entanto, no 79º aniversário dele, ele me liga, com a voz baixa e distante, e diz: “O que você acha? Acha que esta matéria me ajudará a sair daqui, mesmo que por pouco tempo, antes que eu vá?” E aí está a cicatriz humana em Manson, aberta e vazando, e ela meio que comove o coração.
Só que Manson sempre entendeu que não pertence ao mundo lá fora. Antes de ser libertado da prisão, em 1967, disse a um dos guardas que não queria ir. No entanto, em 1971, ao final do julgamento, com uma sentença de morte pairando no ar, ainda queria se defender perante o júri, montar o tipo de defesa que só ele poderia, e sente que Bugliosi de alguma forma não lhe deu essa chance ao fazer o tribunal negar sua solicitação para ser o próprio advogado, e essa é uma das coisas que até hoje ainda o deixam possesso.
Hoje, dentro da sala de visita de Corcoran, Star está usando um vestido xadrez. Está muito bonita, muito feliz, enquanto se ocupa com um papel-toalha, limpando da mesa o desinfetante roxo pegajoso e fedido que a penitenciária usa. Estou feliz por Gray Wolf ter perdido os privilégios de visitação. Ele é um maníaco por controle, fitando Star com olhos fundos sempre que ela diz algo de que ele não gosta. Eu também não sei se gosto de estar perto dos dois ao mesmo tempo. Eles fazem qualquer coisa que Manson diga, incluindo marcar a própria testa com um X.
Star é uma versão muito mais bonita de Susan Atkins, também conhecida como Sexy Sadie, a verdadeira louca da Família Manson. Durante seu julgamento, Susan depôs: “[Sharon Tate] ficava pedindo e implorando. Fiquei cansada de ouvir aquilo, então a esfaqueei... Como isso pode não ser correto quando é feito com amor?” Ao falar sobre os assassinatos, Star diz: “Sharon Tate não era uma estrela de cinema. Mesmo agora, ninguém ouviu falar dela pra valer, embora supostamente tenha sido morta por Charles Manson, o homem mais famoso do mundo. E esse é o único motivo pelo qual qualquer um saiba quem é, e mesmo assim ninguém sabe quem diabos ela é”.
Star olha para cima e eis Manson novamente, sorrindo. Ele empurra uma cadeira de rodas à sua frente, usando-a para apoio, mas é tudo um show, parte de algum protesto contra o sistema. Dois minutos depois ele está de pé, fazendo a dança do dragão do kung fu que historicamente reserva para quando as câmeras de TV estão ligadas. Fez isso para Charlie Rose em 1986, Penny Daniels em 1987 e Geraldo Rivera em 1988. Esses foram os anos dourados de sua exposição na mídia na meia-idade. Em entrevistas, era uma imensa força cinética, constantemente mexendo no longo cabelo que estava ficando grisalho e brincando com a barba, olhar penetrante, enrolando e dominando alguns de seus adversários, sendo bonzinho e atencioso com outros, e sempre vociferando com indignação justa. Sempre foi maravilhoso vê-lo na TV, mas depois de uma conversa explosiva, quase sexualmente agressiva com Diane Sawyer em 1994, o estado da Califórnia baniu o uso de dispositivos de gravação durante entrevistas com prisioneiros. Isso deixa Manson irritado. É o motivo pelo qual você não ouviu falar dele ultimamente. Manson tende a ficar chateado com isso. A principal razão é a dança, a grande apresentação em tantas aparições diante das câmeras.
Ele usa a manga da camisa para limpar a remela que resta nos olhos, então coloca a mão sobre a minha, desliza os dedos sobre os meus, até o punho e o braço. Aperta-o algumas vezes e diz: “Cara, você é macio”. Faço piada com isso, falando que não sou desses. Ele encolhe os ombros. “Sexo para mim é como ir ao banheiro. Seja com uma garota ou não, não importa. Não caio nessa de homem-mulher.”
Então, acena para Star e diz: “Posso penetrá-la daqui, só tenho de ir devagar”. Balança a cabeça e se inclina em minha direção, chegando mais perto. “Bom, sabe o que eu gostaria mesmo de ter? Uma boceta de verdade. Algo para fumar. Uma boa guitarra. Um bom lugar para cagar. Gostaria de ter o que você tem.” Ele não está me ameaçando, só falando. Isso provoca lembranças. “Todas as pessoas chupando e transando no rancho, eu não podia recusar nenhuma delas. Só queria uma boceta, tocar música e dançar. Tirei Susie do fundo do poço. Diziam que ela era feia, parecia um homem. Falei que era um belo exemplar de humanidade. Ela me recompensou, colocou a faca sangrenta em minhas mãos e disse: ‘Eu te amo tanto, dou minha vida para você’. E Leslie, bom, transei com ela algumas vezes. A dela era grande, gorda e feia, era como colocar o pau na janela. Não que isso a torne uma má pessoa, mas não é o que se quer.”
Ele faz uma careta, de mau humor, sentado com as pernas abertas, com a barriga redonda de presidiário entre elas. “Todos foram lá e mataram, mas, claro, eu não faria nada”, continua. “Você pensa que eu mataria todas aquelas pessoas? Estava com medo, não queria voltar para a prisão. As baratas têm mais vida do que eu. Não faço... nada.” Ele se levanta. “Que vida, cara. Uma grande merda.”
Novamente, Manson fala da conversa que teve com Tex, que queria saber o que fazer. Ele ainda está de pé, ombros para trás, sangue e raiva subindo para seu rosto. “Não me pergunte o que fazer!”, grita, socando o ar. “Uma coisa que você não quer fazer é pisar em mim. Não queira fazer isso. Cara, você sabe o que fazer. Faça!” Os guardas olham, esperam que ele se acalme e voltam a ver TV.
“Viu”, diz, “não há conspiração aí.” Talvez, mas agora consigo ver como ele pode ter convencido Tex e dito a ele o que fazer sem ter de falar exatamente. Está na fúria repentina, no rugido explosivo e perturbado da voz, na linguagem silenciosa e provocadora do corpo expressivo, naquela dança que pode dizer mais a respeito dele do que as palavras.
Ele se senta novamente. Pergunto onde ocorreu a conversa com Tex. Manson fica em silêncio. No passado, falou que não estava no Spahn quando Tex e as garotas saíram, que estava em San Diego e falou com Tex pelo telefone, só retornando ao rancho mais tarde. Como um lembrete, Star se aproxima e diz: “Você estava ao telefone”. Manson olha para ela, depois para mim, depois para a parede e fala: “Eu não sei – que é o que falo quando estou tentando escapar de algo”.
Um instante se passa. Ele dá aquele sorriso de meio homem, meio demônio. “Sou preguiçoso”, continua. “Faço todo possível para não fazer nada. Assim, sobrevivo. Não quero assumir responsabilidade. O erro que cometi foi não ter ido com eles. Tex estava com medo. Filhinho da mamãe. A segunda noite correu melhor, porque tive uma participação nela. Na situação, não nos assassinatos. Não, cara, eu não estava lá para aquilo. Eles fizeram uma bagunça na primeira noite. Se eu estivesse lá, teria sido muito melhor. Teria feito do jeito certo.”
Ele balança a cabeça. “Tex sempre fez o que falei. Não precisava. Podia ter saltado na estrada e abandonado, mas, quando veio ao rancho, fez o que falei. Eu o tinha visto pela primeira vez na vida e queria falar como ele, andar como ele. Lá estava eu, na sarjeta, cara, e ele veio junto. Ele tinha um carro legal, e meu erro foi deixá-lo entrar no meu mundo por causa disso. Eu era muito inteligente. Isso me custou 45 anos, por causa de uma maldita picape Dodge.”
Um dia, falo ao telefone com Bugliosi. Nos 40 anos desde que Helter Skelter fez dele um autor de best-seller, ele escreveu outros 12 livros, o mais recente sendo Divinity of Doubt: The God Question [A Divindade da Dúvida: A Questão de Deus]. Ele começou atacando Manson, o Anticristo, e agora argumenta que a existência de Deus não pode ser provada. Como Manson diz, Bugliosi é um vencedor. E ele continua afiado. Como Manson, tende a sair pela tangente, principalmente com relação a questões médicas desagradáveis, mas, diferentemente de Manson, sempre volta para o aqui e agora.
Ele continua: “Acho que todos os que participaram dos assassinatos caíram direitinho na teoria de Helter Skelter. Será que o próprio Manson acreditava em todas as coisas ridículas e absurdas sobre todos eles morando em um buraco sem fundo no deserto enquanto uma guerra mundial acontecia fora dali? Penso, sem saber, que ele não acreditava”. Faz uma pausa. “Acho que um motivo para ele não ter participado dos assassinatos é ter pensado que isso o imunizaria ou isolaria de responsabilidade criminal. Mas se você é culpado de conspiração para cometer assassinato e ele ocorre, então também é culpado. É a lei básica.”
Mais tarde, quando estou deitado na cama assistindo a The Big Bang Theory na TV, Manson liga novamente. Às vezes o ignoro. Talvez eu não queira escutar mais um de seus discursos lunáticos elaborados, sem dúvida, para me levar a algum lugar aonde não quero ir. Star e Gray Wolf me imploraram para ir com a maré e ver aonde isso leva. Nem pensar.
Só que hoje atendo. “Inspire e expire, inspire e expire”, ele diz. “Sou o último suspiro sobre a Terra, cara. Algumas pessoas aqui querem que eu assine uma ordem de não reanimação. Escrevi no papel: ‘Por que deveria?’ Muita gente quer que eu morra. Bugliosi quer que eu morra antes dele, caso contrário serei vencedor.” Assim a batalha deles continua, pelo menos na cabeça de Manson.
Depois da visita a Manson em um domingo, Star e eu dirigimos pela desolada Corcoran, paramos para tomar um milk-shake e vamos até o grande parque comunitário, a única área verde na região, e encontramos um banco para sentar. “Não dou a mínima para o que aconteceu em 1969”, ela diz no caminho. Fala de Susan Atkins. “Aquela vadia era maluca. ‘Ah, Charlie, fiz isso por você’. Não, ela não sabia o que estava fazendo. Aquela garota era uma vadia, totalmente psicótica.” Ela diz isso com tanta veemência que fico até espantado. Não achava que Star era capaz de falar essas coisas.
Então, ela inclina e fala algo chocante, “uma revelação”, como diz. “Vou te contar de uma vez, Charlie e eu vamos nos casar. Não sabemos quando, mas levo isso a sério. Charlie é meu marido. Ele me disse para te falar isso. Não contamos a ninguém.”
Uma coisa é estar aqui, visitando Manson, comprando a cota trimestral de presentes, levando vinagre de maçã para os fungos nos pés dele. De certa forma, consigo entender tudo isso. Senti a mão dele na minha pele, eu o ouvi falar, vi que falava mais com o corpo do que com as palavras. Eu sei. Mas casar com ele?
“Você vai adotar o sobrenome dele?”, eu pergunto. “Sim”, ela responde. “Meus pais gostam de Charlie. Estávamos conversando e eles falaram: ‘Se Charlie sair, vocês podem ficar aqui. Podem ficar no porão por um tempo e talvez construir sua casinha perto do riacho’. ” Haverá visitas conjugais? “Não, quem está em prisão perpétua na Califórnia não tem mais isso”, diz. “Se houvesse, já estaríamos casados. Sabe, essa é a única coisa que quero. Não quero sempre estar naquela sala de visita com as pessoas me olhando. Mas esse é o único momento que tenho para vê-lo. É difícil, mas as coisas mudam. Quem sabe o que pode acontecer?”
Mais um dia, mais uma ligação de Manson. “Star, Star, o bebê está no chão”, ele diz. “Começamos de novo com ela. As outras sabem de tudo agora. Não preciso dizer nada.” Pergunto se as “outras” são Squeaky e Sandy. “Sim”, ele responde.
Isso não soa bem. Manson enxerga Star como uma espécie de projeto, um bebê no chão que ele está ensinando desde o início. Parece ter planos para ela e, historicamente, os planos dele nunca terminaram bem.
E quanto ao casamento? Ele bufa. “Ah, isso”, diz. “É um monte de bobagem. Você sabe, cara. É lixo.
É para o consumo público.”
Não é exatamente uma surpresa ouvi-lo dizer isso. É o tipo de coisa que Manson faz. E Star também, eu percebo, o que é mais surpreendente. Só que até isso faz sentido, assim que você entende que ela é o bebê no chão de Manson. Não vai ser a futura esposa dele, e sim mais uma de suas “filhas”, como Squeaky e Sandy eram, dando os primeiros passos, com ele segurando a mão e mostrando o caminho. Pelo menos, essa é minha percepção.
“Sempre fui muito verdadeiro comigo mesmo, o máximo que posso ser sob as circunstâncias”, Manson diz mais tarde, “mas nunca deduro ninguém, nem a mim mesmo, cara, então é por isso que nunca contei a alguém o que realmente aconteceu na época. Não posso contar agora. Não funcionaria se eu fizesse isso, porque mudaria no dia seguinte. Tudo está mudando constantemente, cara. A mente é uma coisa universal. Charles Manson e Beethoven”, ele diz antes de desligar desta vez. “É só uma ideiazinha.”
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