Após 31 anos na ativa, os reis do rock alternativo norte-americano fi nalmente penduram a coroa
David Fricke Publicado em 18/10/2011, às 17h47 - Atualizado em 25/11/2011, às 12h25
“ Há uma porção grande de tristeza, mas na verdade é de se celebrar”, diz Mike Mills, baixista do R.E.M., descrevendo os sentimentos conflitantes no dia seguinte ao anúncio feito por ele, pelo guitarrista, Peter Buck, e pelo vocalista, Michael Stipe, de que estão se separando depois de 31 anos tocando juntos.
“Há tristeza porque nunca mais tocarei no mesmo palco que Peter e Michael.” Ainda assim, insiste Mills, “estamos fazendo isso pelas razões certas, e terminamos com a lembrança de todo o divertimento, alegria e oportunidades que tivemos”. Então, por que o R.E.M. está chegando ao fim? “Não é porque precisamos ou porque não aguentamos mais ficar um perto do outro, ou porque somos ruins”, comenta Mills. “Estamos felizes. Mas achamos que já chega.”
Mills, Buck e Stipe divulgaram a notícia em 21 de setembro, em uma declaração postada no site do R.E.M. “Um sábio certa vez disse: ‘O talento quando se vai a uma festa está em saber quando é a hora certa de ir embora’”, escreveu Stipe. “Construímos algo extraordinário juntos... Agora vamos deixar isso para trás.”
“Foi inesperado”, diz Rob Cavallo, diretor da Warner Bros. Records, gravadora da banda. Ele soube “na mesma manhã em que o release entrou no site”, por meio de um telefonema do empresário do R.E.M., Bertis Downs. “Não acredito que estão terminando, mas entendo”, diz Cavallo. “Eles são muito puros, respeitadores de suas próprias coisas.”
O R.E.M. na verdade tomou a decisão há alguns meses, antes de se encontrar para gravar três músicas para um CD duplo contendo seus maiores sucessos, R.E.M., Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage, 1982-2011, previsto para 15 de novembro. A banda adiou o anúncio porque “muita gente seria afetada por essa decisão de um modo muito sério”, diz Mills, se referindo aos funcionários da banda e à equipe. “Queríamos tudo preparado do jeito que deveria ser.”
“E ficamos empolgados ao encontrar três músicas muito boas para nossa despedida”, ele acrescenta. Duas delas, “Hallelujah” e “A Month of Saturdays”, saíram de demos do álbum Collapse Into Now, lançado em março. A terceira, “We All Go Back to Where We Belong”, sai como single em 18 de outubro.
Mills não se lembra de quando os três começaram a conversar sobre o fim. “Mas foi um assunto discutido na turnê de 2008”, diz ele, e durante as gravações de Collapse Into Now. O contrato com a Warner estava chegando ao fim e o grupo decidiu não fazer turnê. Há “indicações” no álbum, aponta Mills, citando o “conteúdo da letra” de Stipe em “All the Best”. “Há alguns ‘até logo’ bem diretos ali”, diz.
“Talvez tenhamos falado em termos mais gerais antes disso”, prossegue Mills. “Dizíamos: ‘Temos X discos no contrato. Quando terminarmos, estaremos X anos mais velhos. Será que ainda vamos querer ficar dando duro por aí?’” Ironicamente, o desapontador Around the Sun, de 2004, fez com que os três decidissem continuar na ativa por mais tempo. O suficiente para se redimirem.
“Precisávamos provar, não só para fãs e críticos, mas para nós mesmos, que éramos capazes de fazer grandes álbuns”, diz Mills. “E fizemos dois”, ele acrescenta: Accelerate, de 2008, e Collapse Into Now. “Pensamos: ‘Conseguimos. Agora vamos fazer algo que nenhuma banda fez: apertar as mãos e sair dessa como amigos’.”
O R.E.M. foi formado em 1980, com o baterista Bill Berry, e lançou seu single de estreia, “Radio Free Europe”, em julho de 1981. Entre turnês, músicas nas rádios e uma impressionante evolução criativa, o R.E.M. tornou-se o maior sucesso da história do rock alternativo norte-americano. Berry deixou o grupo em 1997, após sofrer um aneurisma cerebral durante uma turnê dois anos antes. Os outros continuaram com a banda ao mesmo tempo que tocavam projetos paralelos, aos quais devem se dedicar em tempo integral a partir de agora.
Os 15 álbuns do R.E.M. venderam mais de 85 milhões de cópias, mas Mills diz que o maior feito do R.E.M. foi o fato de que “conduzimos nossa carreira com a maior integridade possível. Mostramos que é possível agir em seus próprios termos e alcançar o sucesso”.
“Na verdade”, ele acrescenta, “você terá uma vida muito melhor e um sono bem mais tranquilo”.
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