Veja perguntas e respostas que não entraram na edição impressa da entrevista com o diretor de Na Estrada
Stella Rodrigues Publicado em 06/07/2012, às 12h45 - Atualizado às 12h45
Estreia em 13 de julho Na Estrada, o ambicioso e trabalhoso novo projeto de Walter Salles no cinema. No P&R da edição 70 da Rolling Stone Brasil ele falou um pouco sobre a adaptação de On the Road, clássico livro de Jack Kerouac. Veja abaixo as respostas que não entraram na edição impressa, não só sobre o longa, mas a respeito de cinema em geral.
Qual a sua relação com o livro nesses sete anos que ficou investindo no filme? Leu, releu, decorou, aí se encheu e largou em um canto?
O livro é tão rico que, a cada leitura, acabava descobrindo alguma coisa diferente. E se não fosse assim, teria pulado para outro projeto, porque fazer um filme é algo difícil, você tem que ser constantemente alimentado por um desejo, por uma espécie de fogo interno. Se aquilo acaba, melhor ir pra outra coisa.
Você refez a rota percorrida por Kerouac e filmou isso em forma de documentário. Qual será o destino desse material?
Um documentário independente do filme, para passar em canais culturais de TV.
Queria que comentasse a escolha do elenco, que tem uma brasileira (Alice Braga), uma atriz idolatrada por adolescentes (Kristen Stewart) e diversos nomes em ascensão.
Como o casting começou bem cedo, em 2005, entrevistei centenas de atores e escolhi os que me pareceram os mais talentosos e apaixonados pelo livro. Garrett Hedlund é supertalentoso e não tem medo de nada, se precisar o cara pula sem paraquedas para defender o personagem que ele está encarnando. Kristen Stewart foi uma indicação do Gustavo Santaolalla e do Alejandro Iñarritu, que tinham visto a primeira montagem do filme Na Natureza Selvagem, do Sean Penn, e se encantaram com ela. Ela conhecia o livro de cor. Como o filme demorou muito a encontrar financiamento, esses atores ainda desconhecidos foram fazendo outros filmes. Mas assim é a vida, você não controla tudo.
Tem algum outro livro que você esteja se coçando para adaptar? Algo considerado “infilmável” e que você quer levar para as telas?
Geralmente, gosto de alternar projetos originais, como Central do Brasil e Terra Estrangeira, com adaptações, como e Na Estrada. Ou seja, chegou a hora de continuar o trabalho baseado em ideias originais.....
Depois de Central do Brasil, a pressão para alguém trazer um Oscar para o Brasil aumentou. Você sentiu isso fazendo esse filme?
Não, por muitas razões. Primeiro porque quando você está no set, deve pensar na filmagem do dia seguinte, não numa possível premiação. Se fizer o raciocínio inverso, corre o risco de não terminar o filme, tamanha a complexidade do processo. Depois, é bom saber que histórias como a de On the Road são o extremo oposto daquelas que são premiadas pela Academia. Os personagens não são politicamente corretos, o relato não é estruturado como um filme tradicional, etc. Finalmente, acho que chegou a hora de se entender que Oscar não deve ser um parâmetro para uma cinematografia que não seja a da indústria norte-americana. Um exemplo: o Brasil faz hoje alguns dos melhores documentários do mundo. De Eduardo Coutinho a Flavia Castro, você têm gerações de documentaristas extremamente talentosos, que fazem muitas vezes um trabalho mais importante do que aqueles que a Academia premia. Não é preciso do selo da Academia para termos consciência disso.
Você ainda corre? Acompanha esse universo?
Não, só corro atrás de meu filho de cinco anos jogando futebol, e geralmente perco a corrida e o tempo da bola.
O Francis Ford Coppola quis você para diretor depois de ver Diários de Motocicleta (2004). Quais aspectos de road movie desse filme acredita que o fizeram pensar que você seria a pessoa certa? O que tem de Diários... em Na Estrada, já que levou boa parte da equipe de um filme para o outro?
Os dois filmes são sobre a transição entre o fim da adolescência e o início da idade adulta, com todas as descobertas e as dores que isso comporta, e sobretudo sobre as opções de vida que jovens podem e devem tomar nessa idade. E são, claro, dois relatos de estrada, na medida que os personagens descobrem realmente quem são enquanto se distanciam do ponto de partida.
Agora que você passou tanto tempo fora, filmando em outros países, pensa diferente sobre como funcionam as leis de incentivo no Brasil? O que achava antes e o que acha agora?
Não uso as leis de incentivo há mais de dez anos, então seria injusto falar de um sistema que conheço mal. Digamos que elas foram fundamentais para permitir que o cinema brasileiro voltasse a existir. Por outro lado, a recusa fiscal põe nos departamentos de marketing de empresas o poder de decisão sobre uma grande parte do que será ou não filmado no país, e é evidente que esse sistema está longe de ser o ideal. Prefiro um sistema em que o papel do estado é mais presente, como acontece na França.
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