Mulher de frente do Pato Fu, cantora lança elogiado trabalho solo, colhe os doces frutos do sucesso e avisa: "o Brasil já tem divas demais"
Por Adriana Alves
Publicado em 09/04/2008, às 15h23 - Atualizado em 15/05/2008, às 17h14Fernanda Takai estreou mês passado a turnê do aclamado disco Onde Brilhem os Olhos Seus, em que canta parte do repertório de Nara Leão. Surpresa com o sucesso, com uma agenda lotada de entrevistas, ela concilia tudo com sua prioridade: o Pato Fu. Nosso encontro aconteceu em São Paulo, um dia antes da estréia do show, dentro de um carro, entre um compromisso e outro...
Como você olha pra toda a repercussão em torno do disco solo?
Onde Brilhem saiu em dezembro e já ganhando prêmio, vendendo bastante, ficamos em primeiro lugar em várias lojas. Foi inesperado. Foram 20 mil cópias em dois meses, de uma forma totalmente independente. Eu e minha empresária abrimos um selo pra fazer este lançamento e não estávamos conseguindo bancar tudo isso. Parece que o mercado independente não está preparado para o sucesso. O disco estava em falta, tinha encomenda, lista de espera. E olha que tenho esse tempo todo de carreira e não calculei que 5 mil cópias, quando as pessoas querem o disco, evaporam nas lojas. Não poderíamos fazer 20 mil cópias de uma vez porque, se acontece de encalhar, o rombo no bolso é enorme.
E este sucesso todo surpreendeu você?
Às vezes você lança um trabalho e tem que ficar contando pra todo mundo, 'olha, tenho um disco novo, você viu?' E o que estava ouvindo desta vez era 'não consigo achar em lugar nenhum, sei que o disco saiu, as rádios tão tocando e não consigo achar'. Nunca tive isso, o Pato Fu já vendeu bastante em alguns momentos, disco de ouro, mas dessa forma... É um público diferente pra mim, que não me escutava. Tem gente que chega e fala 'nossa, tô apaixonado pela Nara e fui atrás dos discos dela'. E é aí que faz sentido este disco de intérprete, você apresenta algumas músicas para o público.
Na prática, o lançamento, os shows de Onde Brilhem os Olhos Seus atrapalham a agenda do Pato Fu?
Meu projeto acabou ficando maior que os outros projetos dos outros integrantes. Da forma como aconteceu, real-mente ocupou mais tempo do que imaginava, mas em abril, por exemplo, tem mais show do Pato Fu, que vai ser sempre a minha prioridade. Este disco que fiz se encaixa perfeitamente na história da banda porque não é um álbum de ruptura. Se fosse, não teria chamado John [Ulhoa] pra produzir, nem o Lulu [Camargo] para participar, porque não estaria satisfeita com o som do Pato Fu, o que não acontece.
E o show?
Quero fazer com que ele tenha o jeito do disco que, a princípio, é bem despretensioso, tem um projeto gráfico lindo, mas o som não é solene. As pessoas precisam assistir e ficar com essa mesma sensação, e, para isso, tem que ter uma boa dose de informalidade. Não chamei ninguém pra me dirigir, vou contar algumas histórias das gravações e vamos colocar outras músicas que gosto de cantar em casa - que não são do repertório da Nara. Não curto show muito roteirizado, quando você sabe que em tal hora a mão vai assim porque o raio de luz vai bater lá, pode até ser cenicamente rico, mas perde um pouco de naturalidade, de quentura, e a idéia deste show é toda construída num clima de bossa nova, de leveza.
Você acha que será eleita a nova diva da MPB?
Acho que o Brasil já tem divas demais e não precisa de mais uma. Sou totalmente antidiva, até na minha postura de palco. Não gosto desse negócio de você ser incomunicável, ser uma pessoa difícil. Eu nesse perfil da problemática, polêmica, de não pode isso, não pode aquilo, acho que não... Nunca tive com o Pato Fu, não vou ter agora. Acho que minha figura também não inspira nada do tipo, ninguém vai me chamar para a Dança dos Famosos, não sei dançar, não sei patinar.
Você esteve no Japão, estuda japonês, vai lançar o disco por lá?
Já saiu! No final de dezembro, e foi bom também, fizeram uma primeira tiragem de mil discos e acabou em 20 dias, agora tá na segunda tiragem de 2 mil cópias. No disco de lá tem uma versão do "Barquinho" em japonês e eles conhecem bastante a bossa nova. Saíram várias matérias legais, dei entrevistas pra algumas rádios e queremos ir pra lá mostrar o disco e também ir com o Pato Fu.