Kylo Ren, interpretado por Adam Driver, herda o manto de Darth Vader - DAVID JAMS/©2015 LUCASFILM LTD

O novo Star Wars estampa a capa da edição de dezembro da Rolling Stone Brasil

Brian Hiatt Publicado em 11/12/2015, às 16h56 - Atualizado às 21h29

Star Wars, maior fenômeno da cultura pop moderna, estampa a capa da edição de 112 (dezembro/2015) da Rolling Stone Brasil. Na matéria, os novatos de O Despertar da Força (John Boyega, Adam Driver e Daisy Ridley) e o diretor J.J. Abrams (direto da sala de edição do filme, à qual o repórter da Rolling Stone teve acesso) falam sobre os bastidores da aguardada produção, enquanto os veteranos Mark Hamill, Harrison Ford e Carrie Fisher relembram os primeiros dias da épica saga. Além disso, traçamos um panorama exclusivo para retratar a época em que foi possível a criação de George Lucas causar tamanho impacto e mudar os rumos do entretenimento e do cinema. Também nesta edição, Motörhead, Jessica Jones, o ano da política, portfólio Frank Sinatra e muito mais. A revista chega às bancas nesta segunda, 14. Leia abaixo alguns trechos da matéria.

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É um momento sinistro para a República. também é um período de grande luta para todo o planeta – não apenas o lado negro está vencendo como também não está mais claro que exista qualquer outro lado. É sério: a Terra está uma bagunça. Pergunte a um urso-polar, a um fazendeiro ou a um moderador de debates dos candidatos do partido republicano nos Estados Unidos. Ou então pergunte a Luke Skywalker. “O mundo está tão horrível”, diz Mark Hamill, o representante terráqueo mais próximo de Luke, sentado à sombra das árvores em seu agradável jardim, em Malibu.

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Aos 64 anos, Hamill tem a mesma idade que o ator Alec Guinness tinha no primeiro Star Wars (de 1977, lançado no Brasil como Guerra nas Estrelas), e está no processo de cultivar a barba característica de Obi-Wan Kenobi, interpretado por Guinness. “Com o Oriente Médio, a violência à mão armada, o aquecimento global e o racismo, está tudo horrível. E as pessoas precisam disto. É terapêutico.”

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O “disto” em questão é Star Wars: O Despertar da Força, que estreia no Brasil em 17 de dezembro e no dia seguinte nos Estados Unidos, com direção do herói nerd J.J. Abrams, recém-saído da refilmagem da franquia Star Trek. É o sétimo filme da saga Star Wars e o primeiro que não está sob o controle do criador, George Lucas, que abriu mão de tudo em 2012 ao vender a LucasFilm e a franquia para a Disney por US$ 4 bilhões. O Despertar da Força voltará à galáxia de Star Wars três décadas depois dos eventos de O Retorno de Jedi (1983), reiniciando o que a Disney pretende transformar em uma série infinita de filmes.

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O Retorno de Jedi terminou com o que parecia ser uma derrota total para o Império do Mal, comemorada com o que Harrison Ford chamou de “piquenique de ursinhos de pelúcia” de Ewoks dançando, com direito a fantasmas Jedi sorrindo e assistindo a tudo. A Aliança Rebelde deve até ter pendurado uma faixa “Missão Cumprida” em uma árvore no planeta Endor.

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“Quando um filme acaba com um entardecer e um momento de celebração, você pode perguntar: ‘O que aconteceu no dia seguinte?’”, diz Abrams. “Então, décadas se passam. Literalmente, foi o caso de questionar: ‘O que aconteceu com o Império desmembrado? O que aconteceu com a República?’”

É reconfortante saber que, mesmo na galáxia fictícia distante, mesmo com a Força ao lado de seus heróis, a história se recusa a parar. “A trajetória de uma pessoa não termina com o grande triunfo”, afirma o roteirista Lawrence Kasdan, que coescreveu O Império Contra-Ataca (1980) e O Retorno de Jedi com Lucas e voltou para fazer o roteiro de O Despertar da Força junto a J.J. Abrams. “Nestes 30 anos, muita coisa aconteceu na minha vida, então você precisa presumir que algo se sucedeu com esses personagens – e essa foi parte da graça.”

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Pela primeira vez desde o primeiro mandato de Ronald Reagan, O Despertar da Força nos reunirá a Hamill como Luke, Carrie Fisher como a Princesa Leia e Harrison Ford como Han Solo. O papel de Hamill é um mistério guardado a sete chaves – boatos sugerem que a participação é pequena, preparando o terreno para algo mais substancial na sequência, que já está em pré-produção e tem lançamento previsto para 2017. Quem também está de volta: Chewbacca, vivido pelo mesmo ator, Peter Mayhew, de 2,18 m, vestindo a fantasia peluda; C-3PO, mais uma vez representado por Anthony Daniels, e o adorável R2-D2.

Han Solo e Chewbacca ressurgem em teaser do novo Star Wars.

O filme também nos apresentará uma gama de personagens, criaturas e planetas novos. Os principais são os dois protagonistas, Daisy Ridley e John Boyega, ambos jovens atores britânicos. Daisy, uma completa desconhecida, faz Rey, sucateira de um planeta desértico. Boyega, memorável como um líder de gangue adolescente no filme cult de ficção científica Ataque ao Prédio, é o ex-Stormtrooper Finn. Adam Driver, astro de Girls, é Kylo Ren, o vilão obcecado por continuar o legado de Darth Vader. Há também um novo robô superfofo, o esférico BB-8. Todos os envolvidos assinaram o que Hamill chama de “acordo de não divulgação imenso, opressor, uma espada sobre minha cabeça”, então não podem dizer muito sobre a trama sem serem jogados no fosso, metaforicamente falando. Só que há muito para ser debatido além das novidades secretas – lembranças a serem sondadas, mistérios a serem resolvidos. Será que Abrams pode recapturar a magia que o próprio Lucas conseguiu apenas intermitentemente em seu trio de prequels digitalizadas (Episódio I – A Ameaça Fantasma, de 1999, Episódio II – Ataque dos Clones, de 2002, e Episódio III – A Vingança dos Sith, de 2005)? Boyega e Daisy entendem que estão prestes a mandar sua vida, não necessariamente sua carreira, para o hiperespaço? Como os três atores originais se sentiram ao retomar papéis que os assombraram durante décadas? Será que um jornalista da Rolling Stone conseguiria manter a calma ao conviver com versões humanas de seus brinquedos de infância?

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Para descobrir, houve peregrinações à casa de Hamill e de Carrie Fisher e sabedoria a ser adquirida com Harrison Ford. A base secreta de Abrams precisava ser invadida. Então, foi comprada uma passagem aérea para aquele covil deplorável de escória e vilania chamado Los Angeles, onde começaria a busca por sinais de humanidade – e da Força em si.

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Harrison ford olha para meus dois gravadores digitais e dá um reconhecível sorriso de canto de boca. “Dois iguais?”, pergunta. “Bom, usei três com o Bruce Springsteen”, respondo. “Agora estou me sentindo mal”, Ford diz, em um tom sarcástico igualmente familiar, acomodando-se na cadeira em uma suíte de hotel em Beverly Hills. Sentado ali, parece um de seus muitos personagens, dependendo do ângulo.

Decodificando o drama dos roteiristas de Star Wars.

Ele talvez seja o homem de 73 anos mais bonito deste ou de outro planeta, com os traços marcantes de sempre e o corpo em forma. “Nunca soube como seria ter sete décadas”, afirma. “Quer dizer, quando olho no espelho, ainda vejo cabelo castanho.”

O cabelo na verdade está grisalho, combinando perfeitamente com a camisa cinza metálica, com alguns botões abertos no colarinho. Ele mantém um contato visual que é fascinantemente intenso e até J.J. Abrams o considera “intimidador”. A impressão é de que ainda conseguiria quebrar meu nariz com um soco rápido.

Ford passou muito tempo minimizando sua ligação com Han Solo, seu primeiro papel como astro depois de anos batalhando na Hollywood dos anos 1960. Antes ele trabalhava como carpinteiro para não precisar aceitar papéis que não quisesse. O ator queria Solo morto no final de O Retorno de Jedi. “Eu não tinha a imaginação para reconhecer o futuro potencial de Han Solo.Só faria três filmes, então queria usar o personagem para dar alguma profundidade, algum peso. Achei que continuar sendo o cínico sarcástico não seria, talvez...” Faz uma pausa. “Mas, se tivesse matado o personagem na época, eu não teria a experiência que estou tendo agora, que acho válida.” Mark Hamill e Carrie Fisher mencionam conversas com Rian Johnson, que dirigirá o próximo Star Wars. Mas Ford, não. Isso pode ter algum significado ruim para o destino de Solo.

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Na parte da frente da camiseta preta que Hamill usa há o desenho de um Mickey Mouse de dentes pontiagudos parecendo uma fera. Hamill é boa-praça demais para que esse seja um protesto velado, mas levou pelo menos uma bronca da Disney recentemente. Ele disse a um repórter que fãs que esperam que O Despertar da Força seja “a segunda vinda de Cristo” ficarão decepcionados, resultando na manchete “Mark Hamill Diz que Fãs de Star Wars ‘Ficarão Decepcionados’”. “Isso me rendeu uma ligação dos mandachuvas”, conta, aos risos.

Ele também falou para a plateia na Comic Con algo que ela não queria ouvir. “A frase que usei diante de uns 5 mil fãs de Star Wars absurdamente empolgados, prontos para ver o trailer, foi: ‘É só um filme’”, ele gargalha. “É uma pena, porque ouvi isso de George Lucas primeiro, no set, ok? Estava tentando falar para as pessoas racionais e sãs que sabem que filmes não mudam sua vida, e se você tem 38 anos e realmente acha que podemos fazê-lo se sentir como se tivesse 10, você sabe o que vai acontecer. Então, não pense isso e tudo ficará bem!”

Hamill é carismático, mas excêntrico: parece mais o presidente de um fã-clube de Star Wars do que um de seus astros. Na década de 1980, era um ator talentoso com rosto de protagonista, que questionava por que não estava conseguindo mais papéis no cinema. Mas agora está à vontade em uma carreira eclética, especialmente depois de se tornar um reconhecido dublador. Ganhou fama como o Coringa nas cultuadas animações do Batman. “Eu podia fazer minhas dublagens e podia fazer teatro quando quisesse”, conta. “Tenho me divertido, trabalhado em muita coisa interessante.”

Só que ele precisaria de mais do que a voz para reviver Luke Skywalker. Então, Hamill, aos 64 anos, passou os últimos dois anos no que soa como um regime de treinamento brutal. Parece ter perdido uns 22 quilos, mas não quer elogios: “Isso insinua que eu estava péssimo antes!” Hamill e Carrie estavam entre os primeiros a saber que Lucas planejava vender a LucasFilm e que haveria mais filmes. Em 1983, o ator ficou triste pela saga concluir com Luke se tornando um verdadeiro Jedi: “Tinha acabado de chegar onde queria estar – e a história termina?”

A primeira reação dele à notícia de Lucas, dada em um almoço durante uma convenção de Star Wars, foi entrar em um “estado de choque”. Teve sentimentos confusos. “Você precisa pensar em tudo, porque se quiser ter uma vida tranquila, esta não é a melhor maneira!” Ele se viu esperando que Ford não aceitasse. “Falei: ‘Harrison não vai topar. Por que aceitaria?’ Essa é nossa cláusula de escape. Se eu for o único, vai parecer terrível – se ele não fizer, não precisarei fazer.”

No set, foi diferente. Quando Hamill entrou na Millennium Falcon – enfatiza que fez isso como ele mesmo, não como Luke –, ficou estupefato. “Aquilo abriu todas as gavetas na memória”, conta. “A sensação de sentar ali ou simplesmente sentir o cheiro de tudo ou ver onde Chewie jogava xadrez. Você ri muito. Quer dizer, não consegue acreditar que aquilo está acontecendo. Não parece real.”

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Hamill é o único do elenco original que é fã de quadrinhos e ficção científica, além de aficionado por rock dos anos 1960. “Entendo interesses obsessivo-compulsivos por entretenimento. Tenho muitos deles.”

A princesa Leia está resfriada. Pelo menos é o que acha: alguns dias depois, ficará sabendo que, na verdade, está com pneumonia. Carrie Fisher decidiu dar parte da entrevista deitada na cama, com uma colcha cobrindo-a quase até o pescoço. Não importa. “Tenho um quarto ótimo”, diz. A cabeceira detalhadamente trabalhada, encostada em uma parede roxa-rosada, inclui um painel de vidro jateado e cartões verdes com mensagens impressas (uma delas diz: “Sei por que estive no hospital”).

A casa, uma mansão em Beverly Hills que já foi de uma estrela do cinema mudo, tem um clima misterioso e mágico: entre muitos outros artefatos, há uma boneca gigante da Princesa Leia dentro de uma cabine telefônica em estilo antigo. Uma árvore de Natal fica montada na sala de estar o ano inteiro; um dos enfeites é Darth Vader, seu pai na ficção. “Transcendo a fantasia”, Carrie diz.

Ela tem sido honesta sobre seu diagnóstico de transtorno bipolar e sobre os tratamentos de choque pelos quais passou. É uma romancista e escritora prolífica e hilária – escreveu o livro que deu origem ao filme Lembranças de Hollywood. Carrie trata esse assunto com leveza; uma placa no portão da propriedade diz: “Pergunte-me sobre efeitos colaterais de medicamentos” e há um cartaz sinistro de um velho filme sobre eletrochoque em um cômodo.

Ela é possessiva quanto a Leia, considerando-a um “imenso” ícone feminista e se irritando com a sugestão de que era uma “donzela em apuros”. “Ela mandava neles”, diz. “Eu não era nenhuma beldade correndo pela galáxia com os peitos balançando.”

Em uma sala de exibição brilhando de nova, J.J. Abrams, de 48 anos, está falando com suas tropas, compostas de soldados vestindo camiseta e com um visual um tanto nerd. Faltam menos de 60 dias para o lançamento de O Despertar da Força e o filme ainda não está exatamente pronto. A venda dos ingressos tinha começado na noite anterior, assim que o primeiro trailer completo foi disponibilizado online. “Quebramos a internet ontem à noite”, diz Abrams, ao som de aplausos.
Estamos em Santa Monica, em um anexo recém-construído dos escritórios da Bad Robot, a produtora de Abrams, que não está nada mal financeiramente. O edifício principal é uma fantasia geek cuidadosamente decorada. No momento, ele faz um discurso de incentivo para a equipe de efeitos visuais da Bad Robot, que está finalizando o filme com a Industrial Light and Magic, da LucasFilm, trabalhando simultaneamente em Londres e São Francisco.
Abrams tem um jeito meio neurótico e gagueja quando fala em público, mas é sinistramente calmo sob pressão. Filho de um produtor de TV com uma psicóloga, nasceu no meio da Geração X, mas sua completa falta de cinismo remete aos millennials. Relutou um pouco em aceitar o trabalho em Star Wars, principalmente por causa de seu recente envolvimento com Star Trek. Mas Kathleen Kennedy, CEO da LucasFilm, o convenceu com a ideia de uma jovem – presumidamente, a personagem Rey – fazendo a pergunta: “Quem é Luke Skywalker?” Abrams pensou: “Ai, meu Deus, 35 anos depois de O Retorno de Jedi há jovens neste mundo que não sabem nada sobre os Jedi e o Império?” Ele diz que não houve uma determinação corporativa de que uma quantia pré-estipulada de bilhões de dólares deveria ser gasta em merchandising e desenhos animados – mas acrescenta que sabia que essas discussões aconteciam nas salas da diretoria da Disney.
“O que tem sido incrível para mim é a liberdade criativa e o desejo de fazer algo, espero, merecedor do tempo das pessoas – não um comercial de brinquedos”, ele prossegue. “Não quero me envolver em coisas criativas que acabem no lixo. Quero contar uma história: o que aconteceria se você tivesse 20 anos e se encontrasse no universo de Star Wars?”
Abrams cresceu vendo filmes de George Lucas e Steven Spielberg e houve momentos em que não conseguia reprimir a tietagem. “Quando J.J. viu o 3PO pela primeira vez, parecia um menininho empolgado”, conta Anthony Daniels. “Foi tão bom para o meu ego – e, claro, para o do 3PO – ver essa energia e alegria e ter alguém diante de você com a coragem de assumir essa coisa toda.”
N a sala de exibição, Abrams está terminando o discurso. “A ideia de que, tomara, estamos reacendendo a chama da paixão por isso que George Lucas criou é muito empolgante”, ele fala. “Sinto que é uma honra. Sou realmente grato por todo o trabalho.” Todos aplaudem, as luzes se apagam e uma “pequena montagem” do filme começa a rodar – mas só depois que o jornalista visitante é, tragicamente, retirado do lugar.
Tempos depois, estou de volta à Bad Robot. Recebo permissão para ver Abrams editando por exatamente 20 minutos. Isso equivale a menos de dois minutos do filme. Então, posso confirmar que há uma batalha espacial, com caças X-Wing e aviões TIE e algo tipo a Estrela da Morte. Há um duelo de sabres de luz, no qual Kylo Ren está desmascarado, revelando o ator Adam Driver com olhar intenso e rosto sem cicatrizes. Há uma arma a que o cineasta se refere como “Sunsucker”. Vejo um dispositivo de energia no solo de um planeta que envia um feixe enorme, parecido com lava, para cima – com esse nome ou não (Sunsucker pode ser traduzido como “aspirador de sol”), parece assustador.
Abrams está sentado no centro da sala de edição, diante de um computador que lhe permite desenhar com uma caneta stylus sobre as imagens na tela, rabiscando no próprio filme – a certa altura, brinca de desenhar um logotipo da cerveja Coors sobre uma montanha nevada. Kathleen e o supervisor de efeitos, Roger Guyett, estão em uma teleconferência direto de Londres, vendo as imagens e os desenhos de Abrams.
Eles começam revisando uma cena mostrada no trailer, em que dezenas de bandeiras aparecem em um castelo pertencente a Maz Kanata, uma misteriosa criatura de óculos, representada por Lupita Nyong’o (>12 Anos de Escravidão) via captura de movimentos e computação gráfica. As bandeiras são desenhadas para enlouquecer os superfãs com referências aos filmes anteriores, mas Abrams diz a Guyett que há muitas delas aludindo à primeira prequel de Lucas. “Não quero ficar muito em cima dos Podracers. Prefiro mostrar as coisas novas.”,br>Abrams está mais preocupado com alguns trechos entremeados por outras sequências de ação. Um deles inclui uma “batalha no castelo”, o outro une um conflito espacial liderado pelo heroico Poe Dameron (interpretado por Oscar Isaac) com uma luta de sabre de luz na qual Finn e Rey enfrentam Kylo Ren. Diretor e supervisor analisam opções para deixar o entrevero espacial mais desafiador para os heróis. As sugestões debatidas na sala significam bastante trabalho de última hora para Guyett e sua equipe.
“Queremos ver um avião TIE abatido?”, questiona Guyett. “Vamos abater um X-Wing em vez disso ou pensar em eliminar momentos que façam parecer que nossos rapazes estão ganhando fácil? Talvez exista uma versão em que o TIE atinge um X-Wing e o explode.” Tudo isso é um negócio muito sério, potencialmente de bilhões de dólares – e também soa exatamente como meninos de 11 anos negociando suas coleções de brinquedos. Guyett mostra outra cena a Abrams, um close de uma máquina. “Não sei o que estou vendo”, o cineasta diz calmamente. “Eu sabia o que estava olhando na última versão.” Mas nessa hora sou retirado da sala.
Sentado em um bar movimentado em Beverly Hills, John Boyega está usando uma jaqueta de couro e calça que ele mesmo desenhou – preta com algumas tiras e zíperes nas pernas. “É meio Michael Jackson”, ele diz com um forte sotaque do sul de Londres. E um toque de Han Solo? “Isso mesmo!”
O personagem dele, Finn, passa muito tempo no filme com Han Solo, e Boyega aprendeu muito com Harrison Ford – tem a mesma confiança de “macho alfa” do veterano e já se sente possessivo quanto ao personagem. “Falo coisas do tipo: ‘Finn não diria isso’”, afirma.
Boyega e Daisy Ridley estão aproveitando o que pode ser seu último gole do quase anonimato, e até Adam Driver está prestes a ficar muito mais famoso, mas Boyega está estranhamente confortável em ver seu rosto em cartazes e caixas de brinquedos que logo estarão à venda. “Estou surpreso com o jeito como meu cérebro está absorvendo isso – ‘Ah! Ok’.”
A experiência é mais intensa para Daisy, que só tinha feito alguns papéis para a TV britânica. Quando Abrams lhe contou que ela havia conseguido o papel de Rey, sua reação foi contida. “Isso fez com que eu me sentisse melhor”, afirma o diretor. “Porque não era uma menina de 22 anos surtando e empolgada em virar uma protagonista. Era alguém que entendia o que significava aceitar isso, que percebeu que seria uma jornada tanto para ela quanto para a personagem. Sabíamos que quem pegasse esse papel precisava ser engraçada, dura, fisicamente hábil – mas que fosse capaz de se desarmar e ficar apavorada e literalmente fazer tudo, exceto cantar.”
Ela cresceu sem nenhum vínculo em particular com Star Wars – sua família gostava mais de galerias de arte e filmes franceses. Driver e Boyega, por outro lado, eram fãs. “Meu pai tinha um capacete de Stormtrooper e corria atrás de nós pela casa usando aquilo”, conta Driver, de 32 anos. “As pessoas do lado negro eram mais interessantes para mim. Não dá pra competir com a estética delas!”
Daisy entende que pode ser Rey pelo resto da vida. “As pessoas me perguntam como se fosse algo ruim. Digo: ‘Não tenho problema com isso’. Todos serão lembrados por alguma coisa. Daniel Radcliffe será lembrado por Harry Potter, mesmo tendo se saído bem várias vezes em outros papéis.”
Boyega também não está preocupado em ficar preso ao universo Star Wars. Já tem outros papéis em vista: é um poeta do centro-sul de Los Angeles em um filme indie ironicamente intitulado Imperial Dreams, e um CEO tipo Mark Zuckerberg em The Circle, com Tom Hanks e Emma Watson.
Driver, em paralelo, estava determinado a levar o papel de Kylo Ren tão a sério quanto qualquer coisa que já fez. Como seus colegas de elenco lembram, isso às vezes significava manter a caracterização no set e ficar de máscara entre as cenas. “Faça o que quiser, cara”, diz Boyega, que tem uma abordagem menos pautada pelo método. “No meu caso, sigo o que Laurence Olivier ou outra pessoa disse: ‘Simplesmente atue’. Mas foi ótimo vê-lo usar seu próprio processo. Foi intenso.”

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