Guitarrista estrelou campanha do estilista John Varvatos
Kory Grow
Publicado em 04/03/2013, às 13h11 - Atualizado às 15h03“Eu nunca imaginei que seria requisitado para uma campanha publicitária”, diz à Rolling Stone EUA o artista de rock, soul e blues Gary Clark Jr. sobre ser modelo de roupas para o estilista John Varvatos. “Eu fui à loja dele no Soho no ano passado. Comprei botas e uma jaqueta e saí. Depois disso, eu e meu amigo J.J. Johnson começamos a passar o dia inteiro lá”, brinca. “Fui comprar algumas roupas e acabei ficando na vitrine da loja. É meio estranho.”
A inclusão dele na campanha, que o coloca ao lado de ninguém menos que Jimmy Page, do Led Zeppelin, é apenas a mais recente novidade no redemoinho que têm sido os últimos meses para o músico de 28 anos. Desde o lançamento do LP de estreia Blak and Blu, em outubro, Clark tocou em grandes locais, apareceu como convidado em shows dos Rolling Stones e dividiu palco com Stevie Wonder em Nova Orleans. O ano adiante também reserva emoções, como o tributo a Albert King durante cerimônia do Hall da Fama do Rock e aparições em diversos festivais.
A Rolling Stone EUA falou com Clark, que se apresenta no Lollapalooza Brasil neste mês, sobre a agenda cheia e sobre seu senso fashion antes de uma aparição do músico no programa Jimmy Kimmel Live!, do qual participou com uma jaqueta bege, um lenço pálido, calças escuras e botas, tudo combinando exatamente com sua guitarra cereja Epiphone. Ele escolheu para o programa a canção “Ain't Messin' 'Round”, um blues animado que inclui a frase “Não quero ser sua exibição, não, não quero ninguém por perto”. A julgar pela forma exultante como falou sobre posar ao lado de Page, entretanto, ele parece ter feito uma exceção.
Como foi tirar fotos com Jimmy Page?
Foi um pouco estranho no começo, para ser sincero. Eu nunca tinha encontrado ele antes, e cheguei atrasado. Ele é meio tímido, guarda as coisas para ele. Eu não sabia o que dizer. Então, decidimos falar sobre blues, e ele me perguntou quem eram meus heróis da guitarra. Eu mencionei Elmore James. Ele me olhou e me deu um grande sorriso. Disse algo como “boa, garoto”, e, a partir daí, começamos a conversar. Foi muito legal, surreal.
O que vocês discutiram depois que ambos se abriram?
Falamos sobre Elmore James e Muddy Waters, os caras que influenciaram ele. Eu peguei minha Gibson 330, e ele conferiu. Esperava que ele tocasse um pouco, mas ele não tocou. Sabe, todo mundo estava “oh, Jimmy está com uma guitarra. Será que ele vai tocar?”, mas foi mais como “nah, não para vocês” [risos].
De onde você tirou seu senso de estilo?
Uma antiga namorada foi no meu armário e jogou fora tudo o que ela não achava legal e comprou para mim algumas coisas novas. Eu nunca dei muita atenção para isso antes. Era o tipo de cara “camiseta e jeans”. Então comecei a usar botas. E comecei a usar chapéus, porque nunca sei o que fazer com meu cabelo. Não sei se deixo crescer ou corto, então só cubro [risos].
Os chapéus se tornaram parte importante do seu look. O que te atrai nestes chapéus de abas largas que você sempre usa?
Meu pai me deu este chapéu anos atrás, e nunca usei. Sempre pareceu um pouco formal demais para mim. Esperei anos, cresci um pouco e o chapéu estava pequeno demais, então ajustei para que ele coubesse. Pode ser que tudo isso sejam minhas raízes do Texas, com botas e chapéu.
Além do Jimmy Page, você se encontrou com outras lendas do rock. Como foi tocar com os Rolling Stones em dezembro?
Foi ótimo poder tocar com esses caras. Estava conversando com o Keith Richards e ele disse “viemos da mesma escola de música, amigo”. Acabamos tocando “Going Down”, do Freddie King, que foi uma influência para nós dois. Não conversamos tanto sobre a escolha. Quando estava lá no palco, olhava ao redor e pensava que estava tocando com aqueles caras. Nada mal.
Falando de bluesmen com nome de King, você vai prestar tributo ao Albert King no Hall da Fama do Rock. Qual seu álbum preferido dele?
Born Under a Bad Sign. É simplesmente matador. Eu provavelmente vou tocar “Oh, Pretty Woman” na cerimônia. Mas tem essa canção que ele escreveu sobre a guitarra dele que eu tenho escutado e é ótima. Ele chamava a guitarra de Lucy, então chama “I Love Lucy”. Se algum dia eu sentir que preciso de inspiração vou escutar a introdução dessa música várias vezes.
Você já tocou com muitos ícones. Quando foi a última vez que se sentiu nervoso por tocar com alguém?
Eu tive a oportunidade de me sentar com Stevie Wonder em Nova Orleans há algumas semanas, e aquele cara fez eu me sentir nervoso. Quando estávamos ensaiando, tocando “Superstition”, toquei alguns acordes errados e ele parou tudo. “Alguma coisa está errada”, ele disse, e todo o meu sangue saiu do meu corpo. Pensei: “Droga, o cara está me chamando a atenção”. Então, durante o show, o cabo da minha guitarra não estava funcionando, e ele chamou algumas outras canções que a gente não ensaiou, e estava ficando nervoso. Foram os minutos mais desconfortáveis da minha vida.
Mas você conseguiu
Sim, consegui. Sorrindo, ainda. Agora eu dou risada sobre isso.
Além de aparecer em propagandas e tocar com lendas do rock, o que planeja daqui para frente?
Lavar algumas roupas e ir para o próximo show. Eu lavo a roupa para que as pessoas não me olhem estranho no avião pensando “cara, você cheira como um músico que está na estrada desde sempre”.