O ex-ministro joga a carreira política para o alto e, com a voz curada, se dedica aos negócios
Por Otávio Rodrigues Publicado em 14/10/2008, às 15h02
Na sala de reuniões da Gegê Produções, a cúpula da empresa recebe as representantes da gravadora Warner e senta para tratar dos passos seguintes da carreira de seu principal artista - o chefe. Mais que uma conferência de rotina, trata-se do day after da renúncia de Gilberto Gil ao cargo de ministro da Cultura, depois de cinco anos e meio na função. Com o entusiasmo de quem põe lenha no fogo mantido em brasa, as cinco mulheres abrem suas planilhas e blocos de anotações e começam a definir a agenda dos dias e meses que estão por vir. Virtude do gênero, por vezes falam todas ao mesmo tempo, embora ali não se perca uma vírgula.
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Há shows em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro, e também em Curitiba. Entre Rio e São Paulo, avaliam-se participações nos programas do Jô, Faustão, Luciano Huck, Serginho Groismann e Hebe, várias gravações na MTV, entrevistas e promoções em grandes emissoras de rádio... Tudo isso tendo em vista mais um capítulo da turnê internacional, um mês depois, com uma apresentação na Itália e uma série de outras no Japão. Não é bolinho. "Viagem de ônibus pra Curitiba?", interrompe Flora Gil, voz de trompete. "E a segurança?" Faz-se o silêncio. "Até na Europa, de ônibus, tem assalto."
Foi do lado de lá do Atlântico que, em julho de 2007, durante sua tradicional turnê anual, Gil teve certeza de que o estresse vinha consumindo seus cabelos de Sansão - no caso, as cordas vocais. Os discursos, os seminários e as discussões comuns à vida de ministro estavam para calar o rouxinol que ele traz na garganta. "Eu especializei a minha voz para cantar e, ultimamente, vinha usando mais para falar", diz ele. Pouco depois, em outubro, passou por uma cirurgia para retirar a calosidade, algo que já lhe havia acontecido dez anos antes. "Levando em conta que prezo muito esse dom, que gosto muito dessa condição que a vida me deu, de poder cantar, eu vinha percebendo essa necessidade de uma nova economia pra voz e pra tudo."
Aos 66 anos, o trato nas cordas vocais corresponde também a uma afinação mais acurada na vida como um todo - como bem provou sua saída do ministério. "Tenho tentado também fazer com que a vida corresponda a essa economia. Acho que é natural, é do envelhecimento mesmo. Venho de uma tradição pessoal de muita atividade, de atividades variadas e com uma capacidade de entrega, de energia física e mental muito grande pra essas tantas muitas coisas. E agora eu tô precisando entrar numa outra economia. É algo que estou tendo de aprender aos poucos, enfim, porque é melhor que seja assim, que tudo se dê de uma forma gradual, não é? Sem cortes bruscos. Preciso adaptar minha vida toda a essa nova situação de idade avançada."
Naquela quinta-feira de manhã, com as mulheres ao redor da mesa de tampo de vidro, o novo destino de Gil vai, pouco a pouco, tomando forma. Mas ele não está presente. Embora seja o rei da cocada, seu papel na organização é como o de um curador. "No que diz respeito a coisas que eu tenho relação direta, como no caso de banda, músicos, essas coisas, eu participo", afirma. "Agora, as coisas de administração, a prestação de serviço, a empresa, essas coisas eu não... Essas coisas a Flora que toma conta." E em casa não é diferente. "Ela compra praticamente tudo pra mim. Todas as coisas que eu preciso da minha vida pessoal - roupas, pequenos utensílios pra trabalho, pra higiene pessoal -, ela é que cuida. Uma vez ou outra eu compro uma coisa, mas é muito raro. Ela se acostumou a fazer isso, conhece meu gosto, conhece meus tamanhos. Ela compra, compra sapato, compra roupa, compra tudo."
Flora Nair Giordano Gil, 19 anos mais nova que ele, é a diretora-geral da companhia, ou melhor, da holding, já que há um punhado de empresas formando o negócio da Gegê. Quarta esposa de Gil (depois de Belina Aguiar, Nana Caymmi e Sandra Gadelha), ela o conheceu em 1980, aos 19 anos, durante uma viagem-prêmio a Salvador oferecida pela loja na qual trabalhava como gerente, em São Paulo. Embora já fosse artista consagrado, até então Gil não estava garantido, como se diz.
Você lê esta matéria na íntegra na RS Brasil 25, outubro/2008
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