<i>The Velvet Underground & Nico</i> - Reprodução

Guerreiros Niilistas

Há 50 anos, The Velvet Underground & Nico, o “disco da banana”, injetava perigo e subversão no rock and roll

Paulo Cavalcanti Publicado em 16/03/2017, às 14h58 - Atualizado às 15h11

Cinco décadas atrás , o mundo do rock and roll foi sacudido por álbuns lendários do calibre de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (The Beatles), The Doors (The Doors) e Are You Experienced (Jimi Hendrix Experience). De todos os discos revolucionários da safra de 1967, The Velvet Underground & Nico é provavelmente o que menos vendeu – foram apenas 30 mil cópias comercializadas à época do lançamento. Mas o “disco da banana” mudou o jogo. Tudo o que hoje é lugar-comum dentro do rock alternativo nasceu aqui. Lou Reed e seus companheiros lançaram as sementes para o punk, pós-punk, glitter, gótico, noise rock e para o som lo-fi . Para completar, a temática niilista do LP quebrava vários tabus. O primeiro trabalho do Velvet Underground definitivamente não era indicado para menores de idade.

Nos anos 1960, Los Angeles era a Meca da música nos Estados Unidos, seguida por São Francisco, berço da contracultura. Lá, tudo era colorido e otimista. Já Nova York era o retrato do caos, um mundo cinzento cheio de clubes esfumaçados, becos e sarjetas. Intelectuais e artistas conviviam com viciados, trafi cantes, travestis e outras pessoas marginalizadas, algo que o Velvet Underground conhecia bem.

Abraçando párias e criadores desse universo, Andy Warhol era o imperador da vanguarda nova-iorquina. O artista plástico, agitador cultural e produtor queria estender seus tentáculos para a seara musical, e precisava de uma banda de rock para integrar a seus projetos multimídia. Em 1965, Warhol achou o Velvet Underground, que tinha em sua formação Lou Reed (vocal, guitarra), Sterling Morrison (guitarra), Maureen Tucker (bateria, percussão) e John Cale (baixo, viola). Ele colocou o quarteto no espetáculo Exploding Plastic Inevitable, e exigiu que a modelo alemã Nico se juntasse à trupe. Os músicos a princípio relutaram, mas o mentor deles estava certo: a voz gutural, gélida e de sotaque teutônico e a imagem misteriosa de Nico acrescentaram muito à banda em termos de som e visual.

Com o grupo formado segundo sua visão, Warhol o colocou em estúdio. O artista não sabia fazer música, mas se arvorou como “produtor” do álbum. E a influência dele foi decisiva. The Velvet Underground & Nico começou a ser gravado em 1966 e Warhol garantiu liberdade criativa à banda. Lançado pela Verve, o LP chegou às lojas no dia 12 de março de 1967, com a icônica capa ostentando uma banana (que podia ser “descascada”) e o nome de Andy Warhol logo embaixo. A inscrição “The Velvet Underground & Nico” estava na parte de trás do encarte do vinil.

“Sunday Morning”, um pop barroco cantado por Reed, abre o disco servindo como a calmaria antes da tempestade – a faixa seguinte, “I’m Waiting for the Man”, é o relato do vocalista sobre esperar o traficante passar e depois pegar com ele um pouco de heroína. Na sequência vem “Femme Fatale”, a primeira com Nico no vocal. Mais pop e melódica, tem como tema a modelo e socialite Edie Sedgwick, trágica musa de Warhol. Com “Venus in Furs”, a banda entra no universo do sadomasoquismo. A hipnótica faixa foi inspirada no livro A Vênus das Peles, de Leopold von Sacher-Masoch. “Sinta o gosto do chicote, agora sangre para mim”, canta Reed. O rock de garagem “Run Run Run” é sobre figuras marginais das ruas de Nova York e a “correria” delas atrás de heroína. O lado A do disco se encerra com “All Tomorrow’s Parties”. Cantada por Nico, é um olhar sobre os excêntricos e baladeiros que transitavam pela Factory, estúdio e quartel-general de Warhol.

O lado B começa com “Heroin”, uma descrição musical realista sobre o uso e o efeito da heroína. Ninguém tinha cantado uma canção tão explícita sobre o submundo das drogas até então – pelo menos ninguém com o respaldo de uma figura como Andy Warhol. Com o ri principal inspirado em “Hitch Hike”, de Marvin Gaye, o R&B “There She Goes Again” trata de prostituição e sexo oral. Nico volta em “I’ll Be Your Mirror”, que Reed escreveu para ela cantar. “The Black Angel’s Death Song” e “European Son”, a sinistra dobradinha que fecha o álbum, é dissonante, repleta de ruído e feedback, reforçando a influência que os integrantes tinham do free jazz e da música erudita atonal.

Warhol, depois de perder dinheiro com o lançamento, os abandonou. Nico investiu na carreira solo e a banda seguiu até sair de cena derrotada pela indiferença do público e da crítica. Mas como um profético grupo de visionários, o Velvet Underground já apontava para um futuro sombrio.

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