<b>Pé de Valsa</b><br> Tulipa fez um disco para se esquecer dos problemas e cair na dança - Rodrigo Schmidt/Divulgação

Guinada Dançante

Aos 34 anos, Tulipa Ruiz chega ao terceiro disco da carreira com nova sonoridade

Luciana Rabassallo Publicado em 17/04/2015, às 16h41 - Atualizado em 04/05/2015, às 17h27

Quando EFÊMERA, o elogiado disco de estreia da cantora Tulipa Ruiz, chegou às lojas, em 2010, o país atravessava um momento de grandes expectativas e um otimismo exacerbado. Dilma Rousseff havia sido eleita a primeira presidente mulher do Brasil e a economia fechou o ano com crescimento de 7,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em pouco tempo, Tulipa, ao lado de Marcelo Jeneci e Tiê, foi apontada como a líder da “geração solar”. As canções sobre o cotidiano — em sua maioria alegres, espontâneas e leves — estavam em perfeita harmonia com a fase iluminada pelo “novo milagre econômico”. Cinco anos depois, contudo, o cenário é completamente diferente. O Brasil flerta com uma possível recessão, manifestações varrem as ruas das principais capitais do país e a intolerância, recheada de discursos raivosos, toma conta na internet.

Neste contexto adverso, a cantora paulista volta aos holofotes com o terceiro álbum da carreira, batizado como Dancê. O sucessor de Tudo Tanto (2012) tem a missão de romper o pessimismo e “simplesmente fazer o ouvinte dançar”, como conta Tulipa. Com produção de Gustavo Ruiz, irmão da artista, o registro conta com 11 faixas e “foi feito para chacoalhar o esqueleto”. “São canções para os seus braços e pernas. Algumas para dançar sozinho e outras para dançar a dois”, ela afirma.

A guinada dançante de Tulipa Ruiz, contudo, não é uma grande surpresa para quem acompanha de perto a carreira dela. A nova sonoridade é perceptível na canção “Megalomania”, lançada poucos dias antes do Carnaval de 2014. Feito na estrada, durante a extensa turnê de Tudo Tanto, o single é resultado de uma “piada interna” e da sintonia entre a cantora e a banda que a acompanha, formada por Luiz Chagas, guitarrista e pai de Tulipa, pelo baixista Márcio Arantes e o baterista Caio Lopes, além do já citado Gustavo, também nas guitarras.

O álbum Dancê é fruto da cumplicidade e do amadurecimento musical da “família Ruiz”. Buscando um distanciamento das redes sociais e tranquilidade para trabalhar, o grupo se isolou em uma casa localizada perto de Campinas, interior de São Paulo, para conceber o disco. “Os celulares não funcionavam e não tínhamos acesso à internet. Isso fez com que estivéssemos concentrados apenas no processo de composição. Nunca tínhamos feito isso e foi uma experiência maravilhosa”, afirma Tulipa.

Durante aquela semana surgiu “Reclame”, um dos destaques do álbum. Com um trompete suingado, a faixa rompe os padrões da obra produzida por Tulipa e companhia até aqui. “A canção nasceu durante uma jam session. Na hora, pensei em uma letra que falasse sobre os lambe-lambes que vemos espalhados pelas grandes cidades com promessas de ‘Trago o seu amor de volta em cinco dias’. Eu queria procurar alguns exemplos na internet, mas, como não tínhamos acesso, fiz uma busca no meu Google interno e deu tudo certo”, explica, gargalhando. O naipe de metais, introduzido por Gustavo Ruiz na maioria das músicas do disco, faz parte da tentativa de deixar a sonoridade mais dançante. “Os sopros preenchem as canções e as deixam mais para cima”, acredita a cantora.

De volta a São Paulo, a trupe se internou no estúdio Red Bull Station para as gravações, que duraram aproximadamente um mês. À época, surgiram parcerias com o grupo Metá Metá, de Thiago França, Juçara Marçal e Kiko Dinucci, além do guitarrista paraense Felipe Cordeiro. “No momento em que fizemos as canções, decidimos quem convidaríamos. Nada foi planejado e tudo funcionou de forma mágica.”

A participação mais marcante do registro, porém, é de João Donato, cultuado pianista reconhecido por, entre outras coisas, ter feito a fusão do jazz com a música brasileira. “A canção ‘Tafetá’, na verdade, é uma homenagem a ele. Fizemos a faixa e o convidamos para participar, ele topou na hora”, relembra, antes de acrescentar: “Inclusive, o nome do disco surgiu durante a sessão de estúdio com ele”. “Estávamos todos reunidos, repassando a música e decidindo se teríamos uma inserção instrumental. Então, alguém disse ‘Aqui cabe um dancê’. Ele concordou com a expressão que criamos ali no momento. Nós a repetimos diversas vezes durante as gravações e, na hora de escolher o título, não tive dúvidas. É um verdadeiro Dancê.”

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