Nova York é o símbolo do que pode acontecer às cidades costeiras com o inevitável aumento do nível do mar – e as projeções não são nada animadoras
Jeff Goodell
Publicado em 10/08/2016, às 21h20 - Atualizado em 15/08/2016, às 15h31É um dia claro de primavera em Nova York, com a luz do sol dançando sobre o rio East, em Manhattan. Caminho pelo cais no Lower East Side com Daniel Zarrilli, de 41 anos, chefe do Office of Resilience and Recovery (algo como Departamento de Resiliência e Recuperação) – basicamente, o principal aliado do prefeito da cidade, Bill de Blasio, para preparar a metrópole para as próximas décadas de tempestades e aumento no nível do mar. Zarrilli tem cabelo grisalho curto, olhos escuros e um ar intenso de quem tem um trabalho a fazer. Ele pode ser a única pessoa no mundo que sabe ao certo o tamanho da catástrofe que o aumento no nível das águas e as tempestades cada vez mais violentas acarretariam para a maior cidade dos Estados Unidos. Não é de surpreender que, em vez de falar sobre o lindo dia, ele aponte para o rio East, onde a água bate inocentemente no muro de contenção aproximadamente 1,80 m abaixo de nós. “Durante o furacão Sandy, a ressaca chegou a cerca de 2,70 m acima da maré alta. Você e eu estaríamos sob mais de 1 m de água neste exato momento”, detalha.
Zarrilli sabe melhor do que ninguém: o furacão Sandy, que atingiu Nova York em outubro de 2012, inundando mais de 88 mil edificações na cidade e matando 43 pessoas, foi um evento transformador. Revelou não apenas o quão vulnerável a cidade é a uma forte tempestade mas também deu uma prévia do que a megalópole enfrentará no próximo
século – acredita-se que até lá o nível do mar deve subir 1,80 m ou mais, causando enchentes como as do Sandy (ou muito piores) com frequência cada vez maior. “O problema
para Nova York é que a ciência climática está melhorando e as projeções da intensidade das tempestades e do aumento do nível do mar estão ficando mais alarmantes”, afirma
Chris Ward, ex-diretor executivo da Port Authority of New York and New Jersey (Autoridade Portuária de Nova York e New Jersey), encarregada de aeroportos, túneis e outras
infraestruturas de transporte. “A água está se aproximando e as implicações de longo prazo são gigantescas.”
Zarrilli para de olhar para o rio e então caminhamos em direção ao parque que o separa da região do Lower East Side. “Uma de nossas metas é não apenas proteger a cidade, mas sim melhorá-la”, afirma. No ano que vem, se tudo der certo, Nova York começará a construção do chamado East Side Coastal Resiliency Project (Projeto de Resiliência Costeira do East Side), uma orla reforçada de aço e concreto de 3 m de altura que percorrerá cerca de 3 km ao longo da margem do rio. É a primeira parte de um grande sistema de contenção, conhecido informalmente como “Big U” (Grande U), que um dia poderá contornar toda a parte inferior de Manhattan. Zarrilli gosta de ressaltar que a barreira será coberta por um gramado e árvores em muitos lugares, além de ciclovias. Há planos em andamento para construir mais muros e barreiras em outras partes de Nova York, mas esse projeto em Lower Manhattan é o principal, não somente porque a cidade pode gastar US$ 3 bilhões ou mais em sua construção mas também porque Lower Manhattan é uma das zonas imobiliárias mais valiosas do mundo. Se essa área não puder ser protegida, Nova York estará em apuros.
Falar sobre muros deixa Zarrilli visivelmente desconfortável, em parte porque isso obscurece outras medidas mais democráticas que a cidade está tomando, como exigir que edifícios elevem sua infraestrutura, e também porque a construção de muros é algo politicamente delicado: não dá para amuralhar toda a linha costeira de 837 km da cidade, então como se decide quem vai viver atrás do muro e quem não vai? “Você precisa começar de algum lugar, e começa nos lugares em que obtém o máximo de benefício para o maior número possível de pessoas”, diz.
Na opinião dele, não há tempo a perder. Até 2030, a água no porto de Nova York poderá estar 30 cm acima do nível atual. Pode não parecer muita coisa, mas a cidade não precisa se tornar Atlantis para ficar incapacitada. Com meio metro de elevação no nível do mar, as ruas ficariam intransitáveis na maré alta, complicando o trânsito. O custo dos seguros contra enchentes dispararia, fazendo o preço dos imóveis em bairros de risco cair (quem quer comprar uma casa que logo ficará embaixo de água?).
O que se sabe é que em algum momento a grande tempestade virá. Pode chegar neste ano, ou em 2018, 2029, ou 20-sei-lá-o-quê. Pode ser maior do que o Sandy. Pode até ser mais fraca, mas, se você adiciona 30 ou 60 cm de aumento no nível do mar a uma ressaca de 4 m, tem sérios problemas pela frente. E se isso acontecer antes de o Big U ser concluído em torno de Lower Manhattan o desastre será ainda maior.
É fato que até a cidade mais indomável dos Estados Unidos enfrenta um futuro brutal. Pergunto a Zarrilli, que tem três filhos pequenos, se fica assustado ao pensar no caos
político e econômico que pode estar prestes a se formar. Ele consegue imaginar o fim de Nova York? “Com certeza temos desafios adiante, mas você não pode se permitir ficar paralisado pelo medo”, pondera. “Tem que dar um passo por vez e fazer o melhor possível no momento.”
Praticamente toda cidade costeira no mundo está vulnerável ao aumento do nível do mar, mas em nenhum lugar há tantas coisas em jogo quanto em Nova York. Em termos puramente econômicos, sua área metropolitana é responsável por quase 10% do PIB dos Estados Unidos, além de ser o maior centro financeiro do mundo. A cidade tem um valor simbólico difícil de quantificar, com 8,5 milhões de pessoas do mundo inteiro morando ali. “Para lidar com a mudança climática, precisamos de inspiração”, diz Henk Ovink, enviado especial da Holanda para assuntos internacionais relacionados à água que se envolveu profundamente na reconstrução de Nova York depois do Sandy. “Nova York é o coração do mundo desenvolvido. Se fizer as coisas do jeito certo, poderá irradiar inspiração para outros lugares.”
A quantidade de imóveis em risco na Big Apple é impressionante: 71.500 edificações no valor de mais de US$ 100 bilhões ficam em zonas de alto risco de enchente, sendo que outras milhares de construções também ficarão em risco a cada 30 cm de aumento no nível do mar. Não bastasse isso, Nova York tem uma grande orla industrial, onde materiais tóxicos e comunidades pobres convivem lado a lado, bem como uma quantidade imensa de infraestrutura subterrânea – metrôs, túneis, sistemas elétricos. Por causa das mudanças na dinâmica do oceano, além do fato de que o solo sob a cidade está afundando enquanto o continente se recupera da última era do gelo, os mares agora sobem cerca de 50% mais rápido na região de Nova York do que a média global.
Talvez a comunidade internacional tome uma atitude na próxima década e corte drasticamente a poluição por carbono, o que pode ajudar a desacelerar o aumento no nível do mar, mas a verdade é que já aquecemos a atmosfera da Terra o suficiente para garantir que os mares subam – e que continuem subindo por muito tempo. Estudos recentes demonstraram que, mesmo se estabilizarmos o efeito estufa nos níveis atuais, os oceanos continuarão subindo até 21 m nos próximos séculos e ficarão nesse nível por milhares de anos. Nesse cenário, Nova York se transforma em um arquipélago no litoral, com a parte alta de Upper Manhattan e trechos do Brooklyn e de Staten Island pouco
acima da superfície da água.
Se alguém acha que o aumento no nível do mar é um problema de um futuro distante, as últimas notícias vindas do Ártico não são animadoras. Em meados deste ano, as temperaturas na Groenlândia foram as mais altas já registradas na história. Se apenas um décimo do gelo da Groenlândia derretesse, elevaria os níveis do mar em todo o mundo em 61 cm. O degelo da parte oeste da Antártica, região que vem mostrando sinais de crescente fragilidade, pode elevar esses níveis em 3,6 m.
As melhores pistas para o que vem pela frente, no entanto, podem ser encontradas no passado. “Sou cientista, mas gosto de pensar que sou detetive”, diz Andrea Dutton, de 43 anos, geóloga da Universidade da Flórida. “As rochas podem contar uma história.” Ela está estudando corais de 125 mil anos expostos em uma antiga pedreira para ver se contarão a maior história do nosso tempo: quão rapidamente os mares subirão no próximo século. Se o trabalho de detetive de Andrea estiver correto, as implicações para
Nova York – e para a vida civilizada em geral – serão profundas. Isso significaria que as camadas de gelo estão mais instáveis, capazes de derreter mais rapidamente do que as estimativas atuais preveem e, consequentemente, significaria também que as previsões mais precisas a respeito do aumento no nível dos mares podem estar gravemente subestimadas. Em vez de 1,8 m de acréscimo no final do século, podemos ter 2 m, 2,5 m – ou mais. James Hansen, ex-cientista da Nasa e o todo-poderoso quando o assunto são os estudos sobre o aquecimento global, sugeriu em um artigo polêmico publicado no ano passado que a dinâmica não linear do derretimento das camadas de gelo pode causar um aumento muito maior e mais rápido do que qualquer um está prevendo atualmente. “Temos uma emergência global”, escreveram Hansen e seus parceiros.
Construir muralhas em volta de uma cidade é uma ideia tão antiga quanto as próprias cidades. Na Idade Média, muros eram construídos para bloquear a invasão de exércitos.
Agora, são construídos para manter a mãe natureza afastada. Obviamente, se construídos do jeito certo, funcionam. Mais de um quarto da Holanda fica abaixo do nível do mar; sem muros, diques e barragens, boa parte do país seria um reino de peixes. Nova Orleans só existe hoje graças a suas enormes barragens. Muitas cidades costeiras são defendidas por cais murados de vários tipos, mas até na Holanda os muros estão deixando de ser os queridinhos. “Estamos começando a perceber que não dá para ficar construindo muros para sempre”, afirma Richard Jorissen, um especialista holandês em proteção contra enchentes, enquanto percorremos um dique na Holanda. “Às vezes, são necessários, mas também percebemos que precisamos aprender a conviver com a água. Se não for construído do jeito certo, um muro pode criar problemas tanto quanto solucionar.”
Nesse aspecto, o Big U está projetado para ser um bom muro. É o fruto de uma colaboração chefiada pelo Bjarke Ingels Group, a badalada empresa dinamarquesa que projetou
diversas edificações modernas em todo o mundo (o design da companhia para um incinerador de lixo em Copenhague inclui uma rampa de esqui artificial que funciona o ano inteiro).
Em um vídeo de animação que o Bjarke Ingels Group criou para promover o projeto, o Big U é uma coisa maravilhosa, um espaço público com uma orla gramada e repleta
de árvores e flores, com locais semelhantes a parques para que as pessoas joguem basquete e caminhem em um dia ensolarado. A enorme área sob uma via elevada é transformada em um lugar no qual crianças jogam pingue-pongue e vendedores ambulantes aparecem nos finais de semana. A cidade é protegida da água e o muro é coberto por arte. É tudo muito alegre e inspirador.
O problema é que a barreira real pode ou não ser parecida com a do vídeo. Diversos planejadores urbanos acreditam que, devido a cortes de custos e complexidades de engenharia, ao longo do caminho o muro perderá os planos para suas características agradáveis. “Quando ficar pronta será apenas uma muralha grande e feia”, afirma um arquiteto. Feia ou não, por causa da quantidade de imóveis valiosos em Lower Manhattan alguma espécie de estrutura defensiva será montada ali para manter a água longe.
Construir um muro é algo relativamente simples, rápido e irresistível para políticos que querem comprovar que agiram com ousadia, mas isso não significa que é sempre a solução mais inteligente ou segura. Por exemplo: sempre fica no ar a pergunta sobre o nível de proteção que a barreira está projetada para oferecer. Em partes da Holanda, as barreiras devem proteger contra uma enchente daquelas que só ocorrem a cada 10 mil anos; em Nova York, a maioria das agências governamentais exige proteção apenas para uma grande enchente a cada 100 anos. Uma barreira como o Big U seria, teoricamente, suficiente para proteger a cidade de outro Sandy, mas não muito mais do que isso (e até 2100 eventos como o Sandy deverão ocorrer muito mais frequentemente). Pergunto a Kai-Uwe Bergmann, sócio do Bjarke Ingels Group, por que a barreira não foi projetada
para suportar, digamos, uma enchente do tipo que ocorre a cada 500 anos: “Porque é infinitamente mais caro”, ele responde.
Outro problema óbvio é que as barreiras só protegem os habitantes que estão atrás delas. A primeira fase do Big U, que percorrerá o East Side da 25th Street à Montgomery Street, perto da Manhattan Bridge, terá a virtude de proteger diversos empreendimentos de moradia pública no Lower East Side – e também uma subestação de energia essencial que inundou durante o Sandy, causando um imenso blecaute em Lower Manhattan. “É bastante claro que tem tudo a ver com Wall Street”, diz Klaus Jacob, especialista da Universidade de Columbia. Dada a importância de Wall Street para a economia norte-americana, isso não é surpreendente, mas quanto tempo levará para Red Hook, um bairro economicamente menos favorecido no Brooklyn e que também foi bastante prejudicado pelo Sandy, ter uma barreira? O pior é que um muro em torno de Lower Manhattan pode, na verdade, desviar mais água para Red Hook, afirma Alan Blumburg, um oceanógrafo altamente respeitado do Stevens Institute of Technology, em Hoboken. “Ele pode manter a água longe de Manhattan, mas piorará o problema para as pessoas no Brooklyn, em vez de melhorar.”
Mais uma questão prejudicial: a complacência. Muros, diques e barragens fazem as pessoas se sentirem seguras, mesmo quando não estão. Quando o furacão Katrina atingiu Nova Orleans, parte dos habitantes não evacuou suas casas porque presumiu que as barragens não falhariam – e isso custou vidas. “As barreiras deixam as pessoas burras”, diz Richard Jorissen. “Elas permitem que você ignore o risco de morar em lugares perigosos – se algo der errado, pode ocorrer uma catástrofe.”
Sim, foram analisadas outras ideias para proteger Nova York. Mesmo antes de o Sandy chegar, uma equipe chefiada por Susannah Drake, uma designer urbana conhecida por trabalhar com paisagens naturais para proteção contra enchentes, propôs elevar a linha costeira de Lower Manhattan simulando os contornos originais de 1650 e, então, proteger os sistemas de utilidade pública contra a água em cofres sob as calçadas, redesenhando as ruas para permitir que fossem capazes de conter a água durante enchentes; as margens de Lower Manhattan seriam, então, modificadas com marismas e brejos capazes de absorver a energia das ondas. Mas projetos assim são complexos e caros, o que dificulta vendê-los para a população como uma solução rápida; além disso, exigem que as pessoas reconheçam que o mundo está mudando rapidamente e que
elas viverão de um jeito diferente no futuro. Muito mais fácil é construir um muro e esquecer o resto – “até uma grande tempestade chegar e destruir o muro”, Susannah
rebate.
Talvez o projeto mais ousado sobre como proteger Nova York tenha sido o Blue Dunes (Dunas Azuis): a construção de uma cadeia de mais de 70 km de ilhas nas águas rasas a cerca de 15 km da costa de Nova York. Elas não seriam vistas da cidade, mas, juntas, formariam um colar protetor de areia correndo de Nova Jersey a Long Island. Em um mundo de ideias espetacularmente sem imaginação sobre como lidar com as mudanças climáticas e o aumento no nível do mar, o Blue Dunes foi uma proposta corajosa e inovadora para diminuir o impacto das marés altas e dar à cidade tempo para se reajustar diante do inevitável. A proposta, feita por um grupo chefiado pelo arquiteto paisagista holandês Adriaan Geuze, teria sido polêmica, cara e incômoda para qualquer pessoa com uma ligação sentimental com um litoral “natural”. Não impediria que o aumento do nível das águas ocorresse, mas poderia ter salvado os nova-iorquinos do medo desse aumento, mostrando a eles que sempre há maneiras, como diz Geuze, de “trabalhar com a natureza e se curvar à sua vontade, em vez de tentar puni-la”. A ideia, claro, não foi a lugar algum.
Para nova york, este é só o começo da história”, afirma o holandês Henk Ovink. “A cidade lidará com o aumento no nível do mar durante décadas ou mesmo séculos.” Para sobreviver, a fortificação de Nova York precisará de mais do que simples muros – precisará de uma mudança radical na forma de pensar a relação entre a cidade e quem vive nela. Se o papel central do governo é manter as pessoas seguras, o que acontece quando elas percebem que não estão em segurança? Qual é o papel do governo quando o assunto é proteger as pessoas do perigo? Como o governo poderá compensar o povo cujas propriedades estarão embaixo de água? Adriaan Geuze compara o aumento no nível do mar a outras catástrofes transformadoras, como o Dust Bowl, um desastre natural parcialmente causado pelo homem que mudou profundamente a geografia dos Estados Unidos e também ampliou o papel que o governo desempenha na garantia de bem-estar de longo prazo da população. “Precisaremos de um novo New Deal [o programa
implementado nos anos 1930 para recuperar o país após a Grande Depressão]. O que vem pela frente vai exigir uma reelaboração do contrato social nos Estados Unidos.”
Diferentemente de lugares como Miami ou Bangladesh, cuja própria existência está em risco, Nova York tem dinheiro e terras suficientemente altas para enfrentar o que vier neste século. A questão é: em que tipo de cidade se transformará? Será um lugar seguro, habitável, vivo, com arte e comércio, inspirador para o mundo? “Nova York sempre definiu nossa ideia do que uma cidade é e pode ser”, afirma Guy Nordenson, professor de engenharia estrutural e arquitetura na Universidade de Princeton. Agora, a metrópole pode muito bem definir nossa ideia de sobrevivência urbana em um futuro marcado por mares cada vez mais indomáveis.
“Pensando no período de 100 anos: talvez 2,5 m, 2,8 m de aumento no nível do mar. Podemos lidar com isso. Só que chegará um momento em que, não importa o que você faça, até uma cidade rica como Nova York não conseguirá fazer nada para se proteger”, diz Adriaan Geuze. “Quando chegará esse momento? Não sei, mas está vindo. O que a mãe natureza está nos dizendo agora é que não estamos no controle.”
Mentes Atrasadas
Como a maioria dos governantes, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, não está preocupado com o futuro a longo prazo
Bill de Blasio, prefeito de Nova York, não tem a reputação de ser um líder visionário, mas, quando o assunto é mudança climática, apresenta um histórico forte. Ele merece crédito por pressionar o mercado pela redução da pegada de carbono da cidade e costuma falar de forma convincente sobre as implicações da mudança climática para os pobres e para a classe trabalhadora. De Blasio não parece, no entanto, interessado em questões de longo prazo. “A maneira simples de pensar nisso tudo é que, neste momento, temos de tomar as medidas contra o tipo de tempestades que podemos ter [no futuro próximo]”, ele diz. “Então, simplesmente seguimos adiante e tentamos nos manter à frente do que será um problema crescente. Para mim, é tijolo por tijolo.”
Mas essa abordagem funcionará suficientemente rápido? Quando olhamos para as projeções de aumento de 1,5 m ou 2 m no nível do mar até o fim do século, forma-se um
cenário bem apocalíptico para Nova York. Os netos de De Blasio ainda estarão por aqui, aponto. “Estarão, mas, em questões de políticas públicas, se você está falando de 75, 80 ou mais anos no futuro, acho que é muito, muito responsável dizer: ‘Ok, primeiro vamos lidar com as necessidades do povo no momento’.” É razoável argumentar que o papel dos governantes é não apenas lidar com as necessidades do povo agora mas também com as necessidades nos próximos anos. É isso o que estão fazendo em Londres,
por exemplo, onde a barreira que protege a cidade de inundações está sendo reformulada para protegê-la até 2100, ou na Alemanha, onde partes da cidade de Hamburgo foram elevadas para suportar ressacas de 7,5 m de altura. Infelizmente, países como Inglaterra e Alemanha são exceção: pensar no futuro a longo prazo – e se preparar para ele – não é o que faz boa parte dos líderes mundiais.