Histórico Sangrento

Líder do System of a Down fala sobre shows que marcam o centenário do genocídio armênio

Kory Grow | Tradução: Ana Ban Publicado em 19/03/2015, às 12h23 - Atualizado em 24/03/2015, às 11h16

Entre os ritmos espasmódicos e as melodias truncadas, o System of a Down sempre se dedicou a uma causa justa: conscientizar o público sobre o genocídio armênio de 1915. Agora, o grupo, formado unicamente por filhos de sobreviventes, está trazendo à tona o centenário do genocídio – em que os turcos otomanos prenderam e executaram cerca de 1,5 milhão de armênios, fato que a Turquia e outros países até hoje não reconhecem oficialmente – com uma turnê internacional chamada Wake Up the Souls. O último show acontecerá no dia 23 de abril, véspera da data em que a Armênia relembra o aniversário do genocídio, e será a primeira apresentação da banda no país de seus ancestrais. O SOAD tem planos para transmitir a performance ao vivo pela internet para que pessoas no mundo todo possam assistir.

Por que vocês resolveram lembrar o centenário do genocídio com uma turnê?

Esta é uma forma de renovar nosso compromisso e expandir uma parte do trabalho que fazemos com o genocídio armênio há anos. É algo em que todos acreditamos por sermos filhos de sobreviventes do genocídio. É importante para o reconhecimento do genocídio e para a obtenção de justiça.

Quais são os passos no sentido de obter justiça?

Para nós é importante que a Turquia conheça sua própria história de maneira verdadeira. Não estamos falando apenas do genocídio de armênios, gregos e assírios, mas do que está acontecendo agora também. Não existem acordos internacionais executáveis que estejam relacionados ao fim do genocídio. Independentemente de diversos ótimos organismos da ONU e até organismos com sede nos Estados Unidos em termos de prevenção, não existe nenhuma resolução efetiva em relação a qualquer genocídio ou holocausto que esteja ocorrendo. Li no jornal hoje que descobriram uma cova comum em Deir Ezzor, na Síria, para os massacres do ISIS de uma tribo de lá, e isso me lembrou de todos os ossos que estão embaixo daquelas areias em Deir Ezzor, do primeiro genocídio do século 20, naquele mesmo lugar. Se isso não é simbolismo, não sei o que é.

Seus avós viveram o genocídio armênio. O que contaram a respeito dele?

Eles tinham histórias assombrosas de como sobreviveram. Os dois eram criancinhas, bem pequenos. Minha avó e a avó dela foram salvas por um prefeito de uma cidadezinha turca, quando estavam sendo obrigadas a atravessar a Turquia, na direção da Síria, indo para Deir Ezzor. Meu avô perdeu a maior parte da família no massacre. Ele passou por diversos orfanatos e acabou no Líbano, onde foi criado. São histórias de partir o coração.

Quando meu avô ainda era vivo, fizemos um registro dos dois para um filme de que participamos chamado Screamers. Foi um relato parcial e belo da história dele.

Por que o SOAD nunca tocou na Armênia antes?

Sabe, essa é uma boa pergunta. Não tenho uma resposta direta. Já fomos convidados para tocar, mas nunca deu certo ou por causa de datas ou pela dificuldade com infraestrutura.

Acha que a Turquia algum dia vai reconhecer o genocídio?

Acho que é muito possível. Acabei de ler que uma resolução para haja o reconhecimento de todos os crimes do passado, inclusive os genocídios armênios – que são especificamente citados – foi proposta no Parlamento Turco por uma representante de minoria curda, Sebahat Tuncel. Apesar de eu ter certeza de que eles não têm a maioria para que seja aprovada, é um sinal fantástico, não apenas da coragem dela de tocar nesse assunto, mas de que as coisas podem estar mudando.

Falando de coisas que estão mudando, há celebridades armênias chamando a atenção para o tema ultimamente.

Claro que sim. Por tudo que falam mal da Kim Kardashian, posso dizer que só pelo fato de ela anualmente relembrar o genocídio armênio e divulgar essa informação ela já foi valiosa. Ela tem sido ótima.

Ela consegue conscientizar muita gente.

Com certeza. Ela tem mais seguidores no Twitter do que eu, isso é certo [risos].

Mudando de assunto, faz dez anos que saiu o último disco do System of a Down. Já estão considerando fazer um novo?

Nós temos conversado. Vamos fazer esta turnê, voltar e ver como estamos. Se temos músicas que funcionam para o System, se eu as tenho e se Daron [Malakian, guitarrista] as tem. Há abertura para trabalharmos juntos, mas não fizemos nenhum plano específico.

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