Gênero renasce nas beiradas do mercado brasileiro com produção jovem e criativa
Fernando Masini Publicado em 12/05/2014, às 21h18 - Atualizado às 21h25
Há uma movimentação sombria em expansão nas bordas do cinema nacional. Jovens diretores estão cada vez mais se arriscando no terreno do horror, que sempre foi menosprezado no país. Nos últimos cinco anos, filmes como Quando Eu Era Vivo (2014), de Marco Dutra, Mar Negro (2013), de Rodrigo Aragão, e Nervo Craniano Zero (2012), de Paulo Biscaia Filho, tiveram o mérito de tirar o gênero do fosso.
“A produção nacional cresceu e veio junto a diversidade: há filmes para todos os gostos, e o horror também ganha dentro desse cenário”, diz Dutra, 34 anos, que opta em suas obras por um terror psicológico que mais sugere do que mostra.
Colocar atores consagrados em papéis macabros tem sido um trunfo eficaz para ampliar e diversificar o público. Assim como fez Dutra em Quando Eu Era Vivo – que tem Antônio Fagundes, Marat Descartes e Sandy no elenco –, o diretor Rafael Primot também optou por esse caminho em Gata Velha Ainda Mia, que estreia em 15 de maio. Regina Duarte, que interpreta uma escritora decadente, contracena com Bárbara Paz, no papel de uma jornalista, nesse drama que flerta com o horror. “Ver uma atriz como a Regina se entregar a projetos autorais, a um jovem diretor e a um universo mais sombrio foi maravilhoso”, diz o cineasta de 31 anos, que afirma ter misturado em Gata Velha... referências a diversos filmes noir e suspenses dos anos 1990.
Bem mais sanguinários e depravados, os filmes de Rodrigo Aragão e de Paulo Biscaia Filho brincam com o gênero sem pudor. Diretor da companhia de teatro Vigor Mortis em Curitiba, Biscaia enxerga um avanço, mas não esconde os problemas. “No meu caso, o preconceito é gigantesco por parte dos exibidores. São filmes de horror, independentes e feitos fora do eixo Rio-São Paulo”, explica.
Davi de Oliveira Pinheiro, 34 anos, é outro fã do horror que agita a cena em Porto Alegre. Com R$ 300 mil, ele dirigiu Porto dos Mortos (2010), um road movie surreal que mistura zumbis, pistoleiros e duelos de espada. “Quando se fala em mercado, vem a ideia arcaica de que não somos bons com o gênero, que damos vexame”, diz Pinheiro sobre a resistência do público e dos exibidores. Mesmo assim, ele conseguiu abrir a sua própria produtora, a Lockheart Filmes, especializada em horror, e Porto dos Mortos está disponível para ser visto no Netflix.
Com previsão de filmagem para o fim do ano, O Porão, de Felipe Bragança (A Alegria) , é outro sinal de que o horror e o fantástico estão vivos no cinema feito no país. Em seu novo filme, ele pretende narrar, como se fosse um pesadelo, a trajetória de um policial com forte histórico de violência que aceita participar de um golpe. “Do horror ao cinema experimental, passando por filmes de ação e fantasia, todos têm mais dificuldade porque são um território comercial incerto, se pensarmos no cinema apenas como um negócio”, analisa o diretor de 33 anos. “O que acontece no Brasil é que muitas vezes o risco criativo não é incentivado.”
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