Pablo Miyazawa Publicado em 07/08/2013, às 13h07 - Atualizado em 27/09/2013, às 13h08
A edição da segunda quinzena de julho da Rolling Stone EUA gerou polêmica antes mesmo de chegar aos assinantes e pontos de venda. O motivo não estava relacionado ao conteúdo, mas à embalagem: na capa, a inquietante imagem de Dzhokvar Tsarnaev, um dos suspeitos de executar o atentado que matou três pessoas durante a Maratona de Boston, em 15 de abril.
“Jahar’s World”, escrita por Janet Reitman, é um raio X de Tsarnaev, 19, com entrevistas com colegas, professores e vizinhos, que tenta responder à questão “Como um estudante de futuro se envolveu com o Islã radical e se tornou um monstro”.
A reação à capa na internet foi brutal, antes mesmo da divulgação da íntegra da reportagem. Publicados no site da RS EUA e em redes sociais, milhares de comentários criticavam a escolha do personagem, assim como repudiavam a foto. De fato, com a expressão serena, cabelo desgrenhado e cavanhaque, Jahar (como era conhecido) poderia se passar por líder de uma banda qualquer. Thomas Menino, prefeito de Boston, declarou que a capa “reafirma a terrível mensagem de que a destruição gera fama para assassinos e suas ‘causas’”. Redes de farmácia como CVS e Wallgreens se recusaram a vender a edição em Boston.
A resposta inicial da imprensa também foi agressiva. “Tem uma música que diz: ‘A emoção que nunca sentimos / É a emoção que você tem / Quando sua foto vai para a capa da Rolling Stone’. Quando se pensa na revista, define-se que quem está na capa se torna uma espécie de rockstar”, declarou o jornalista David Folkenflik. Também como forma de retaliação, a revista Boston Magazine publicou imagens da captura de Jahar, vazadas por Sean Murphy, policial que se declarou “enfurecido” com a Rolling Stone por ter “glamurizado a cara do terror” (ele foi afastado do cargo).
Lembrando que temas além da música são comuns na história da RS – Charles Manson, condenado por participação em assassinatos, apareceu na capa em 1970 –, alguns analistas apresentaram visões mais moderadas. “Pessoas ligadas às vítimas ficaram horrorizadas pela decisão da revista. Mas a tristeza de alguns não deveria determinar o valor do todo”, escreveu David Carr no New York Times. Ian Crouch, da New Yorker, foi além: “A ira da web em resposta à capa é o exemplo de duas consequências do terrorismo na opinião pública: a hostilidade à liberdade de expressão; e a autocensura cultural encorajada por uma tragédia, na qual certas reações são consideradas corretas e todo o resto é rotulado como de baixo nível”.
Em meio ao tiroteio de opiniões, restou à RS EUA publicar um editorial em que reafirmou o compromisso da revista com o jornalismo. “Nossos corações e pensamentos estão com as vítimas do atentado e suas famílias. A matéria está dentro do longo comprometimento da RS com a cobertura dos assuntos políticos e culturais mais importantes do nosso tempo. O fato de Tsarnaev ser da mesma idade que muitos leitores torna ainda mais importante examinar as complexidades desse assunto e compreender como uma tragédia ocorre.”
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