Conhecido pelo trabalho junto a ícones do rock, o fotógrafo Jim Marshall também se notabilizou por sua faceta jazzística, menos alardeada, mas igualmente intensa
Paulo Cavalcanti
Publicado em 11/01/2017, às 23h52 - Atualizado em 13/01/2017, às 00h41O fotógrafo James Joseph Marshall (1936-2010), mais conhecido como Jim Marshall, esteve presente em diversos momentos que marcaram a história da música. Uma lenda, ele registrou de forma definitiva alguns dos maiores nomes do rock: imortalizou Jimi Hendrix colocando fogo na guitarra no Monterey Pop
Festival (1967), fotografou o derradeiro show dos Beatles, no ano de 1966, no Candlestick Park, em São Francisco, e também foi o principal fotógrafo no Festival de Woodstock (1969). A famosa imagem de Johnny Cash desafiadoramente mostrando o dedo do meio para a câmera na prisão de San Quentin, em 1969, antes da emblemática performance dele no local, também é de autoria de Marshall.
Combativo e profissional ao extremo, Jim Marshall era considerado o mais roqueiro dos fotógrafos. Ele buscava acesso total quando recebia a missão de retratar algum músico ou celebridade. No entanto, apesar de sua história com o rock, uma das grandes paixões dele era o jazz. Marshall também trabalhou nos maiores festivais do gênero na época, como os que aconteciam nas cidades norte-americanas de Newport (Rhode Island) e Monterey (Califórnia). Parte do precioso material colhido nesses eventos, entre os anos de 1960 e 1966, está compilada em Jazz Festival. O livro não mostra apenas imagens icônicas de gigantes do jazz dentro e fora do palco mas também recorda uma época em que os Estados Unidos clamavam por integração racial e justiça social.
É necessário lembrar que o rock, apesar de naqueles tempos já ser a música mais popular e de maior vendagem nos Estados Unidos, ainda não estava na vanguarda das mudanças sociais. Naquele tempo de luta pelos direitos civis dos afro-americanos, intelectuais, ativistas e liberais se concentravam junto às comunidades da música folk e do jazz. Nos festivais de jazz que ocorreram durante e posteriormente à era de prosperidade econômica instaurada pelo presidente John F. Kennedy, beatniks, estudantes, amantes da música e celebridades, brancos e negros, conviviam pacificamente, o que era carregado de simbolismo. Marshall clicou as plateias racialmente integradas.
Como os ventos da cultura mudaram em 1966, o fotógrafo passou a concentrar seu tempo e energia no mundo do rock. Mas morreu como um autêntico devoto
do jazz. As fotos que fez de ícones como Miles Davis, Dave Brubeck e John Coltrane seguem como ponto de referência.
Como Nenhum Outro
Com prefácio de Bill Clinton, livro mostra acesso profundo de Jim Marshall à cena
Além das fotos de Jim Marshall, Jazz Festival (Reel Art Press, sem edição brasileira) traz textos e ensaios elaborados por críticos e estudiosos, contextualizando
as imagens do fotógrafo dentro do panorama musical e social do período. O prefácio da obra ficou a cargo de Bill Clinton. Segundo o ex-presidente norteamericano, que é saxofonista amador, “as fotografias de Marshall exalam autenticidade e oferecem uma visão sem filtros d do mundo do jazz”.
P.C.