“Quis pegar punk, hip-hop e rock e enfiar tudo em uma cápsula do tempo de 2018”, diz White sobre Boarding House Reach, álbum mais livre dele até agora
Patrick Doyle Publicado em 06/04/2018, às 12h59 - Atualizado às 13h03
Antes de entrar em um estúdio de gravação, em Nova York, Jack White se propôs um desafio: passar apenas três dias gravando um novo lote de canções com um grupo de músicos com quem nunca tinha tocado. Muitos deles vinham do mundo do hip-hop – ele tinha entrado em contato com instrumentistas que havia visto com Jay-Z, Kanye West, Kendrick Lamar e alguns outros. “Não fazia ideia se conseguiríamos nos comunicar musicalmente”, conta White. “Poderia ter sido um desastre. Acho que isso assustaria a maioria das pessoas, então foi muito atraente para mim.”
Em menos de dez minutos, ele soube que seu plano daria certo. “Muita música incrível estava sendo tocada”, diz. “Várias dessas canções poderiam compor todo o lado de um álbum, como um disco do Miles Davis ou do Funkadelic. Aí, alguém fazia algo e outro clima mudava o ambiente.” White agendou mais três dias com músicos diferentes em Los Angeles e levou as faixas para casa para editar e acrescentar novos elementos, como Davis fez em Bitches Brew. O resultado é Boarding House Reach, o disco mais livre de White até agora, que o mostra liderando a banda por jams estendidas com toques de psicodelia, jazz, fogos de artifício na guitarra e truques digitais. “Quase me doeu condensar algumas dessas músicas, mas quis que fosse identificável em 2018”, diz. “Para mim, todo o disco é incrivelmente moderno. Quis pegar punk, hip-hop e rock e enfiar tudo em uma cápsula do tempo de 2018.”
Depois de realizar turnês intensas apoiando seus dois álbuns solo, Blunderbuss, de 2012, e Lazaretto, de 2014, ele havia tirado dois anos de folga. “Quis ficar com meus filhos o máximo possível enquanto a idade deles era de apenas um dígito”, conta. Para começar a compor as faixas, alugou um apartamento perto da casa onde mora, em Nashville. “A ideia era usar exatamente os mesmos equipamentos que eu tinha aos 14 anos, o mesmo rolo e o mixer, e dizer: ‘Se eu soubesse o que sei agora, o que faria diferente?’” A primeira música que compôs foi “Connected by Love”, uma canção mergulhada em sintetizadores em que um humilde ex-amante pede perdão (White diz que é tudo fictício). Inicialmente, teria o nome de “Infected by Love”. “Achei que as pessoas poderiam transformar em ‘você tem uma DST ou algo assim?’” White ri. “Ainda estou aprendendo sobre essa música. A melodia estava vindo direto das minhas entranhas.”
Quando estava tocando com os grupos que montou, ele decidiu reviver uma favorita sua: a enlouquecida “Over and Over and Over”, que havia composto 13 anos antes e tentado gravar com o White Stripes, Raconteurs e até em um projeto colaborativo com Jay-Z que acabou descartado. “Simplesmente ia entregar essa para meus netos”, brinca. “Foi meio que minha baleia branca. Persegui, persegui e, finalmente, de repente, funcionou.”
Ele tocará as canções ao vivo a partir de maio. Como nos últimos anos, fará duas semanas de shows e duas de pausa para ficar um tempo com os filhos. “Faço turnê como não se deveria fazer. Não é bom para ganhar dinheiro e pagar pelos caminhões”, afirma, acrescentando que quer levar a performance “a um novo lugar com novos músicos”. Desta vez, não planeja colocar duas bandas diferentes na estrada (em 2012, viajou tocando com dois grupos, um formado só por mulheres e o outro só por homens, que se revezavam). A turnê incluirá diversos festivais de verão, como o Governors Ball em Nova York. “Todo músico precisa tocar em festivais, goste ou não”, resmunga.
White reconhece que seu novo processo de gravação não poderia ser mais diferente dos dias do White Stripes, quando “gravávamos e mixávamos todo o álbum em uma semana”, mas ressalta que esses discos têm algo importante em comum com seu novo trabalho. “Sempre assumi a tarefa de me levar para situações desconfortáveis”, diz. “Se você é um artista, seu trabalho não é facilitar sua vida e colocar outras pessoas para executar suas funções. Nunca fui fã de gente que faz isso e não respeito essa forma de abordar a música.”
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