Por Gavin Edwards Publicado em 11/02/2008, às 13h42 - Atualizado em 23/05/2012, às 15h05
É isso mesmo: Depp canta na tela pela primeira vez e os críticos o elogiam por enfrentar (com sucesso) a difícil trilha sonora criada pelo compositor Stephen Sondheim. A adaptação desse sucesso da Broadway (de 1979) é o sexto filme que ele faz ao lado do diretor Tim Burton, para quem interpretou somente personagens desajustados, de Edward Mãos de Tesoura a Willie Wonka, passando por Ichabod Crane e Ed Wood. Mas, em um musical completo, esta é a primeira vez de ambos. E a intensidade da interpretação de Depp na pele do barbeiro londrino obcecado por vingança rendeu ao ator o Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical, o que aumentou especulações quanto a um possível Oscar (Sweeney Todd lhe rendeu a terceira indicação em quatro anos). Hoje, Depp me recebe em uma suíte do histórico Chateau Marmont, em Hollywood. Seu jeans está rasgado e sua camisa preta aberta no pescoço revela um colar com o símbolo "Gonzo", uma homenagem ao finado amigo Hunter S. Thompson. Depp observa o bom gosto do quarto reservado especialmente para a entrevista. "Eles realmente arrumaram este lugar", diz. "Morei um tempo no Chateau, anos atrás, e era meio sujo e escuro, e mesmo assim ótimo." O ator passou por muita coisa desde sua infância em Kentucky, o mais novo de quatro filhos. Seus pais - uma garçonete e um engenheiro da prefeitura - mudaram-se mais de 20 vezes durante sua infância, estabelecendo-se em Miramar (Flórida) quando tinha 7 anos e divorciando-se quando Johnny completou 15. Hoje em dia, Depp, 44, e sua família (a cantora-atriz francesa Vanessa Paradis e dois filhos, Lily-Rose, 8, e Jack, de 5 anos) dividem seu tempo entre Los Angeles e o sul da França.
Foram-se 17 anos desde que Depp estreou em Cry-Baby, pastiche musical dirigido por John Waters e ambientado nos anos 50, no qual a voz do ator foi dublada em todas as canções. Já que Depp interpreta todas as suas músicas em Sweeney Todd, pareceu o momento ideal para rever sua carreira musical e como ela, de um jeito improvável, o levou a se tornar um dos mais convincentes e bem-sucedidos atores de sua geração.
A sua família era musical?
Minha mãe e meu pai não eram pessoas particularmente musicais. Mas eu tinha um tio que era pastor e tocava bluegrass no violão. Então, a cerimônia de domingo era algo assim: "Aleluia, irmãos e irmãs", para logo em seguida ele começar a dedilhar [a canção religiosa] "Stepping on the Clouds". Foi aí que eu peguei o vírus: vendo meu tio tocar com seu grupinho de gospel, bem na minha frente.
Qual foi o primeiro disco que você comprou?
Eu não sei se comprei, mas o primeiro disco que me lembro de escutar sem parar, estranhamente, foi Everybody Loves Somebody [1964], do Dean Martin. Daí, veio a trilha sonora de O Fantasma do Barba Negra [Blackbeard's Ghost, 1968], com o [ator] Peter Ustinov. Eu nunca tinha visto o filme - aliás, não o vi até chegar aos meus 40 anos. Mas eu sabia o disco de cor. Levemente irônico. E então virei a esquina da pré-adolescência e lembro de ter escutado o Frampton Comes Alive! [1976] pra caramba. Meu irmão é dez anos mais velho do que eu. Ele tirou a agulha do disco e fez aquele barulho horrível - wrrrraarrrar. E disse: "Escuta, cara, você tá me matando. Ouça isso aqui". E colocou Astral Weeks [1968], do Van Morrison. Aquilo mexeu comigo. Nunca havia escutado nada parecido. E eu respondi: "Ok, talvez Frampton Comes Alive! seja mesmo um pouco cansativo". E então, meu irmão, muito satisfeito consigo mesmo, começou a me ligar em outras coisas, como a trilha de O Último Tango em Paris [1972].
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