Juliano Cazarré

Ator mescla papéis populares na TV e escolhas artísticas no cinema, caso de Boi Neon

Lucas Borges

Publicado em 07/01/2016, às 14h21 - Atualizado em 19/02/2016, às 20h56
COMPARTILHE
<b>VERSÁTIL</b> Cazarré faz televisão, mas não abre mão da sétima arte - BETO GATTI/DIVULGAÇÃO

Juliano Cazarré, o homem que apareceu cantando e rebolando cercado de mulheres na pele do funkeiro Merlô, na novela A Regra do Jogo, da Rede Globo, em breve protagonizará momentos radicalmente opostos na tela do cinema. Este mês, estreia em circuito comercial Boi Neon, do ousado diretor pernambucano Gabriel Mascaro (de Os Ventos de Agosto).

O ator gaúcho, que trabalhou em Tropa de Elite, Serra Pelada e Febre do Rato, se afastou dos grande centros urbanos durante semanas, viajando para o interior de Pernambuco e da Paraíba (onde ? cou sem acesso à internet e ao telefone) para virar Iremar. “É um personagem muito bom: o vaqueiro que quer costurar. É um roteiro que não aparece toda hora”, explica o artista, de 35 anos. Por pouco ele não se arrependeu. Além do desgaste da intensa experiência com a vaquejada, espécie de rodeio típico das cidades do Nordeste, Cazarré foi “sorteado” com uma atribuição sem precedentes no cinema nacional: masturbar um cavalo, além de fazer uma cena de sexo com uma mulher grávida.

A aguçada sensibilidade estética e social de Mascaro e o talento dos atores Maeve Jinkings (O Som ao Redor) e Vinícius de Oliveira (famoso por ter interpretado o garoto Josué, de (Central do Brasil) transformaram Boi Neon em “um dos ?lmes mais bonitos” que Cazarré já fez, segundo o próprio. O longa foi premiado em festivais nacionais e de outros países, entre eles Austrália, Alemanha, Itália e Canadá.

Você tinha alguma familiaridade com o universo das vaquejadas?

Zero. Moramos por duas ou três semanas em um sítio, nos preparando, tirando leite de vaca, lavando os animais, trocando os bois de curral. Tudo isso foi me deixando bastante à vontade para a vida do campo. A convivência com funcionários de fazenda e vaquejada que trabalham no ? lme como atores foi muito intensa, acabei ? cando bem amigo do pessoal. Para mim, foi a coisa mais rica da experiência do ?lme.

O que fez para conseguir assumir um papel difícil como esse, com sotaque e trejeitos intensos, de forma tão natural?

Eu gosto muito de trabalhar com sotaque, mudar minha maneira de usar o corpo, de me mexer e encontrar uma voz. Pelo fato de o Brasil ser um país muito grande, com regiões diferentes, quando você acerta o sotaque do cara com expressões que ele usa já consegue passar para o espectador a noção clara de quem é aquela pessoa. Quando chego em um lugar para fazer um ?lme, começo a criar um glossário, um caderno de anotações de expressões que acho engraçadas, ricas. E eu tenho uma facilidade porque sou um gaúcho criado em Brasília.

Como foi ? lmar a famigerada cena da masturbação do cavalo?

Porra, cara, eu não queria fazer de jeito nenhum! Esse sacana do Gabriel me mandou um roteiro em que tinha outro personagem que masturbava o cavalo. Eu vi aquilo e pensei: ‘Ainda bem que não sou eu que vou fazer isso’. Mas ele mudou e me pôs na cena. Desci em Pernambuco bufando: ‘Não tem jeito de eu fazer isso!’ Ele insistiu e foi ele mesmo simular o ato, quase perdeu a cabeça tomando um coice do cavalo. Acabou que eu fui lá e ? z a primeira cena de masturbação animal do cinema brasileiro. O que me acalmou foi conversar com os veterinários e saber que eles fazem aquilo todo dia com cavalos reprodutores.

E tem também a cena de sexo com uma mulher grávida.

Foi superdelicado, uma mulher grávida te desperta respeito no instante em que você olha para ela. Pedia licença, desculpa, mas foi tranquilo. Eu morro de orgulho dessa cena, achei que ?cou linda e que o Gabriel foi muito corajoso de deixar tudo na tela, quase dez minutos de imagens. Foi feito com tanto realismo que parece que rolou de fato. Tem muito do empoderamento feminino ali, o ?lme em si tem muito disso, acho bacana.

Como é fazer essa transição de um ? lme de arte para uma novela popular?

Eu gosto muito de sair de um público que gosta de tomadas mais longas, com uma preocupação maior com a fotogra?a – de sair de um drama, como é Boi Neon, apesar de o ?lme também ter cenas com humor –, para uma comédia em uma novela, que é vista no Brasil por 30, 40 milhões de pessoas. Gosto desse desa?o.

TAGS: