Terceiro disco do rapper teve hit remixado 75 vezes, inspiração no U2 e vocalista conhecida em lanchonete australiana
Al Shipley Publicado em 11/09/2017, às 18h50 - Atualizado às 19h37
Quando foi lançado, em 11 de setembro de 2007, Graduation, terceiro disco de Kanye West, era um álbum cheio de cores e inspirado em batidas que famosamente derrotou 50 Cent na batalha pelo topo da parada. No entanto, anos depois, podemos ver como ele também abriu caminho para os vocais em AutoTune, influências de EDM e de rock que viriam a definir o rap na década seguinte.
Esta focada coleção de 13 músicas trata da complexa relação dele com a fama, com o pai, com a cidade natal, Chicago (nos Estados Unidos) e com o “irmão mais velho”, Jay-Z. Graduation também foi uma investida no universo da arte experimental por meio da imagem da capa, criada pelo artista japonês Takashi Murakami.
A seguir, veja dez coisas que talvez você não saiba sobre Graduation.
Por Al Shipley
Kanye West criou um volumoso catálogo de faixas demo e de mixtapes nos anos de transição de quando ele era um produtor em ascensão até os três primeiros álbuns. A música reutilizada mais proeminente foi “Homecoming”, com versos de “Home”, uma sobra de College Dropout que apareceu na mixtape Get Well Soon… (2002). O beat original e o gancho de John Legend foram substituídos em uma faixa completamente nova, com participação de Chris Martin, do Coldplay. Mas a letra de West permaneceu mais ou menos intocada.
Quando Graduation e Curtis (de 50 Cent) ganharam a mesma data de lançamento, 11 de setembro de 2007, a mídia atiçou a guerra de vendas. Os dois amigos/inimigos apareceram juntos na capa da Rolling Stone EUA e no VMA daquele ano, e parecia uma batalha perfeita pela alma do hip-hop mainstream: o gangsterismo de Nova York vs. confissões suburbanas emocionais. Ainda que o triunfo decisivo de Kanye West em cima de 50 Cent parecesse inevitável – olhando em retrospectiva –, é fácil se esquecer do quão menos favorecido ele era na época. The College Dropout e Late Registration venderam, juntos, 7 milhões de cópias nos Estados Unidos, mas os dois primeiros discos de 50 Cent, Get Rich or Die Trying e The Massacre, venderam perto de 14 milhões, quase o dobro. West riu por último: Graduation rendeu quase um milhão de cópias em uma semana e o rap abriu espaço para ídolos emocionais como Kid Cudi, Lupe Fiasco, Drake e J. Cole.
T-Pain é coprotagonista no hit “Good Life”, de Kanye West, e Michael Jackson “aparece” via sample, mas outros dois cantores também têm curtas participações. Perto do fim da segunda estrofe, conforme T-Pain responde a cada linha de West com “Welcome to the good life”, Ne-Yo e John Legend assumem os últimos refrães. Foi um dos primeiros exemplos de West usando grandes estrelas em participações quase inaudíveis, uma prática que chegou ao ápice com o coral de astros de “All of the Lights” (2010).
Ainda que Jon Brion e outros produtores tenham contribuído com os dois primeiros discos de Kanye West, Graduation foi um passo significativo no supergrupo de produtores que ele teria contribuindo com beats nos álbuns seguintes. “Stronger”, single que sampleou Daft Punk, foi a primeira coprodução de West com veterano do hip-hop de Houston, Mike Dean, mas mesmo depois de a faixa ter sido lançada e virado hit, West estava insatisfeito com o bumbo da música. Depois de ouvir “Stronger” junto ao hit de Timbaland, “The Way I Are”, West o chamou para o estúdio para uma das sessões finais do LP, dias antes de Graduation ser finalizado. No fim das contas, West acabou mixando “Stronger” 75 vezes no total.
O segundo álbum de Common para o G.O.O.D. Music (de Kanye West), Finding Forever, saiu semanas antes de Graduation, então não era surpresa que houvesse relações significativas entre as sessões dos dois discos, ambos com contribuições de Dwele e DJ Premier. Kanye famosamente trata “Everything I Am” como uma sobra resgatada de Finding Forever, cantando no refrão: “Common passed on this beat, I made it to a jam”. Contudo, ele não foi único. A faixa seguinte, “The Glory”, também foi oferecida a Common antes de Kanye acabar criando a faixa própria.
Kanye West se juntou à Vertigo Tour, do U2, em diversas datas entre 2005 e 2006 e, assistindo à banda abrir os shows com o single de 2005, “City of Blinding Lights”, ele ficou com inveja de como o som grandioso e melódico do quarteto irlandês conseguia preencher todo um estádio. Então a cadência mais lenta, o potencial melódico e a energia crescente de “I Wonder” – assim como de outras canções de Graduation – foi, em parte, resultado de uma tentativa de West em fazer um rap que funcionasse de maneira semelhante em shows.
Um dos sons mais únicos de Graduation é a voz de Connie Mitchell, que pronuncia o título de “Flashing Lights”, canta em “Champion” e aparece em um loop de “Can't Tell Me Nothing”. Estes momentos todos foram resultado de um encontro em uma lanchonete em Sydney, na Austrália. West estava na cidade para a perna da turnê do U2 por lá e engatou uma conversa com dois integrantes da banda Sneaky Sound System, que recomendaram que West convidasse a vocalista deles para o estúdio.
O Steely Dan nunca realmente soube lidar com o hip-hop e tendia a fazer jogo duro quando rappers pediam para samplear alguns dos grooves de jazz-rock impecavelmente produzidos da banda. Mais famosamente, Lord Tariq e Peter Gunz tiveram que dar à banda todo o crédito de composição e um adiantamento de seis dígitos para poder usar o sample do hit “Déjà Vu (Uptown Baby)”, de 1998. Kanye West não teve que doar todos os direitos para usar “Kid Charlemagne”, de 1976, em “Champion”, mas ele fez um apelo pessoal para conseguir a aprovação. “Dissemos ‘não’ no começo”, Donald Fagen contou ao site norte-americano Complex, em 2012. “Então ele nos mandou uma carta escrita à mão que foi meio emocionante, sobre como a música era sobre o pai dele.”
Poucos meses depois do lançamento de Graduation, Kanye West embarcou na Glow in the Dark Tour, que começou a tendência de excursões gradativamente mais ambiciosas e designs de palco criativos. Mas a turnê muito bem sucedida não acabou sem nenhuma curiosidade. West, de maneira infame, tomou o palco oito horas antes do cronograma no festival Bonnaroo. Em Sacramento, nos Estados Unidos, ele se referiu à cidade que estava como “Seattle”, onde havia tocado duas noites antes, o pesadelo dos músicos de turnê imortalizado na famosa cena “Hello, Cleveland”, do filme Spinal Tap.
Durante as sessões de Graduation, em Los Angeles – no Record Plant –, Kanye West e o colaborador de longa data, Rhymefest, começaram a brincar no estúdio com a ideia de uma série no estilo bonecos de marionete para o público adulto, como Crank Yankers. Em pouco tempo, os dois rappers de Chicago estavam linkando Jimmy Kimmel para gravar o piloto de Alligator Boots para o Comedy Central e se encontrando com roteiristas de comédia durante a gravação de “Flashing Lights”. A série nunca fui adquirida e, dentro de um ano, West seguiu em frente com outro projeto de TV, outro piloto de comédia nunca exibido para a HBO.
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