<b>O Rei Humilde</b> - Mark Seliger

Entrevista RS | Kendrick Lamar: O Rei Humilde

“Sempre digo que os melhores artistas precisam ter o senso de humor mais perverso para conseguir pegar a dor e transformar em risadas”, fala o maior rapper em atividade no mundo

Brian Hiatt Publicado em 20/12/2017, às 20h31 - Atualizado em 16/01/2018, às 22h15

Há muita coisa acontecendo com Kendrick Lamar atualmente, mas não parece. No camarim de um show em Duluth, na Geórgia, ele irradia níveis incomuns de serenidade consciente, sentado no canto de um sofá. Está usando um conjunto de moletom cor de pêssego e tênis Nike brancos e segura um copo plástico com suco verde – “Um pouco de couve, maçã, espinafre. Esta merda é boa”. O combustível deve funcionar: ele alcançou o topo das paradas com “HUMBLE.”, acabou de lançar um videoclipe com Rihanna e tem algumas dezenas de shows agendados pela frente.

Coisas esquisitas estão acontecendo em 2017, a maioria delas horrível, mas pelo menos uma anomalia é do lado positivo. O mais empolgante e inovador artista jovem da música popular – o melhor rapper de sua geração – conseguiu ser reconhecido como tal. Lamar chegou a essa posição sem concessões, depois de lançar três álbuns matadores em sequência.

Sua estreia por uma grande gravadora, good kid, m.A.A.d city (2012), foi uma autobiografia vívida, uma desconstrução virtuosística do gangsta rap centrada em torno de histórias de uma infância na cidade californiana de Compton, onde muitos de seus amigos eram membros de gangues e o assédio policial era uma ameaça constante. O sucessor, To Pimp a Butterfly (2015), foi uma meditação densa, cerebral, jazzística e impressionante sobre raças nos Estados Unidos, da qual derivou um das canções mais importantes da década, o hino do movimento Black Lives Matter, “Alright”. Mas, até então, não havia sido nenhum estouro nas rádios. Em seu mais recente trabalho, DAMN., deste ano, ele mudou de tom, conseguindo fazer um LP igualmente inteligente e conceitual, mas mais coeso, contagiante e acessível.

Lamar, de 30 anos, está feliz com os recentes triunfos comerciais que obteve, mas diz que essa não é a meta: “Se eu conseguir fazer uma pessoa – ou 10 milhões – sentir um tipo de euforia com minha música, cheguei ao meu objetivo”.

Você fez rap sobre sonhos adolescentes de “viver a vida como os rappers” – mas sua própria vida como rapper acabou se tornando bem tranquila. Quais são seus defeitos a esta altura?

Meu maior defeito é ser viciado em correr atrás do que estou fazendo. Isso vira um defeito quando afasto pessoas que realmente se importam comigo, porque estou envolvido demais na disseminação dessa palavra. Estar naquele palco e saber que você está mudando a vida das pessoas é viciante. Às vezes, quando está fazendo muito esforço para mostrar algo a um estranho, esquece das pessoas mais próximas. Esse é um defeito.

Você sente que deveria estar se divertindo mais?

Todo mundo tem um conceito diferente de diversão. O meu é não beber. Bebo socialmente, de vez em quando. Gosto de pegar pessoas do meu bairro, alguém que acabou de sair da prisão após cinco anos, e ver o rosto delas quando vão a Nova York, quando saem do país. Porra, isso é divertido para mim. Você enxerga aquilo pelos olhos delas e vê o rosto delas se iluminar.

As pessoas te tratam como um santo ou monge, o que deve ser estranho.

Só que as pessoas mais próximas a mim realmente sabem quem sou. Elas têm todas as versões.

Existe, talvez, algo de monge em você?

Acho que isso pode remeter à minha infância. Sempre fui de pensar muito. Ainda tenho essa característica. Sempre estou meditando sobre o presente ou futuro.

Havia uma sensação de que você era uma criança especial?

Pelo que minha família conta, sempre me portei como homem – é por isso que me chamavam de “Man Man”. Isso colocou um estigma sobre a ideia de reagir como uma criança às vezes – eu me machucava e esperavam que eu não chorasse. Foi algo que colocou muita responsabilidade sobre minhas costas e me deixou pronto para as responsabilidades que meus fãs depositam sobre mim. Acabei também criando uma couraça, até com as críticas.

De onde veio toda essa maturidade?

Veio simplesmente de conviver com filhos da puta mais velhos, cara. Eu tinha 7 anos e jogava futebol americano com moleques de 14. Qualquer pessoa com quem meus primos mais velhos andavam, eu também queria andar. Sempre fui baixinho [risos]. Todos sempre foram maiores e mais velhos do que eu. Isso me deu uma visão sobre as pessoas.

Você disse que era um dos poucos entre seus amigos a ter o pai por perto. Como isso fez a diferença?

Isso me ensinou a lidar com [faz uma pausa]... emoções. Melhor do que muitos dos meus amigos. Quando você vê garotos fazendo coisas que o mundo chama de danosas ou ameaçadoras, é porque eles não sabem como lidar com as próprias emoções. Quando você tem um pai em sua vida e faz algo, ele te olha e pergunta: “Que diabos está fazendo?” Ele te põe no seu lugar, faz com que você se sinta pequeno. Isso foi um privilégio para mim. As mães e as avós dos meus amigos podem ter ensinado amor e cuidado, mas não conseguiram ensinar isso.

O que te faz perder a calma?

Pessoas que sugam energia ou alguém que não é motivado da mesma forma do que eu. Não dá para ter isso por perto. A vida é curta demais.

Há algum trauma implícito nas histórias que você conta – você testemunhou assassinatos, mesmo quando era pequeno. Como lutou com isso depois de adulto?

Bom, sabe, simplesmente com uma porrada de festas e muito humor, o que às vezes bloqueia as merdas sinistras que vi. Todas as coisas engraçadas com meus tios doidos e meu pai – ele é engraçado pra caralho. Minha mãe é uma pessoa maluca, divertida, amorosa. Essas coisas serviam para contrabalançar as merdas negativas e me ajudaram a conseguir entender a tragédia, mas não me separaram dela.

O que te faz rir agora?

Porra, tudo me faz rir. Tudo. Este cara aqui [aponta para o cinegrafista dele]? Ele tem alguma coisa embaixo do boné que me faz chorar de rir toda vez que o tira. Nem sabia que Deus inventava estilos de cabelo como aquele. Aquela merda é horrível [risos]! Sempre digo que os melhores artistas precisam ter o senso de humor mais perverso para conseguir pegar a dor e transformar em risadas.

Tirando poucas letras, você não fala muito sobre Donald Trump. Por quê?

Porque é como chutar cachorro morto. Já sabemos o que é. Vamos continuar falando sobre isso ou vamos agir? Você chega a um ponto em que se cansa de falar. Quando fala sobre algo ou alguém completamente ridículo, isso pesa e acaba com sua energia. Então, dentro e fora do disco, decidi agir em minha própria comunidade. No álbum, tomei a atitude de não falar sobre o que está acontecendo no mundo ou sobre as categorias em que nos colocam. Fale a respeito de reflexão sobre si mesmo primeiro. É daí que a mudança começará.

Quando você simula uma entrevista com Tupac em “Mortal Man”, pergunta como ele manteve a sanidade após o sucesso. Qual é sua resposta a essa pergunta?

As coisas poderiam ser piores. É como vejo. Sempre volto a isso: vales para obter comida, assistência social e ser despejado. Ainda tenho parentes passando por dificuldades e preciso cuidar deles. Pense da seguinte forma: este meu estilo de vida atual só tem, tipo, cinco anos. Desde 2012. Antes disso, foram duas décadas de não saber o que viria a seguir. Ainda tenho isso marcado em mim. Então, não posso deixar minha carreira me derrotar.

Em “ELEMENT.”, você faz esta distinção engraçada entre “artistas negros e artistas malucos”. O que, na sua opinião, define um artista maluco?

Amo essa pergunta. Como eu definiria um artista maluco? Um artista maluco usa música de outras pessoas para sua aprovação. Estamos falando de alguém com medo de assumir a própria voz, que corre atrás do sucesso de outra pessoa e do que ela tem de especial, mas foge do que é seu. É isso que mantém o jogo diluído. Nem todos conseguirão ser um Kendrick Lamar. Não estou dizendo para você fazer rap como eu. Seja você mesmo. É simples assim. Vejo muitos artistas bons se ferrarem porque estão tão focados em quais números tal cara atingiu que abafam a própria criatividade. O que essencialmente abafa o ouvinte.

É aceitável um rapper ter um compositor-fantasma? Você obviamente já escreveu versos para Dr. Dre.

Depende da área na qual você se coloca. Disse que sou o melhor rapper. Não posso dizer isso se tiver um compositor-fantasma. Se você está dizendo que é um tipo de artista diferente e não se importa muito com a forma de arte para ser o melhor rapper, tudo bem. Faça música muito boa. Mas o título não estará ali.

Toda vez que abre a boca para rimar, tem de manter essa reputação, fazer jus ao que você mesmo proclamou. Como lida com isso?

Bom, este é o desafio que me faz seguir em frente. Posso me superar novamente? Posso fazer uma rima melhor do que a que fiz da última vez? Essa é a busca. Se não fosse, eu teria parado depois de good kid, depois de ganhar o primeiro álbum de platina. Só que, tipo, você vê o Jay-Z [risos]. É um bilionário. Vê o Dr. Dre. Jay ainda está escrevendo, porque é sempre uma corrida para ver se você não apenas ainda é leal à cultura mas também se consegue gerar um processo criativo orgânico, se consegue se desafiar.

Você se preocupa em ficar sem palavras?

Não, cara. Nem consigo pensar nisso. Não agora, não neste momento. Definitivamente, não.

Como o Bono foi parar na música “XXX.”?

Tínhamos uma outra gravação que deveríamos fazer juntos. Ele mandou, dei algumas ideias e não sabíamos para onde ia. Por acaso meu álbum estava para ser lançado, então simplesmente perguntei, tipo: “Ei, você me daria a honra de usar esta gravação, usar esta ideia que quis executar, porque estou ouvindo um tipo de bateria eletrônica, uma certa batida nela”. E ele foi aberto quanto a isso.

Então você meio que canibalizou uma música existente, algo que faz de vez em quando.

Posso fazer isso. Só precisa fazer sentido. Há muitos discos ótimos e coisas ótimas que o mundo provavelmente nunca ouvirá porque não parecia certo, independentemente do tamanho do nome envolvido. Mas o Bono tem muita sabedoria e muito conhecimento, na música e na vida. Poderia falar horas ao telefone com ele. As coisas que faz no mundo inteiro, para ajudar as pessoas, são inspiradoras.

Você disse que sua viagem à África foi realmente importante. Por quê?

A sensação foi a de pertencer àquele lugar. Foi simples assim. Você ouve sobre o lugar e escuta verdades não ditas sobre ele e, agora, tem idade sufi ciente para ver com os próprios olhos. Isso me deu uma perspectiva totalmente diferente sobre o lugar de onde vim, sobre o que estamos fazendo em Compton e como o mundo é tão maior. Isso me acompanhou na volta ao estúdio. A sensação de precisar ir embora foi estranha. Todos dissemos a mesma coisa, tipo: “Droga, temos de voltar. Aqui é o nosso lar, de verdade”.

Na África do Sul, você foi ao presídio em que Nelson Mandela ficou, certo?

Sentamos dentro da cela onde ele ficou. Aquilo foi maluco. Dava para sentir os espíritos dos presos ali, basicamente dizendo: “Leve um pedaço da história de volta à sua comunidade”. Foi exatamente o que fiz: To Pimp a Butterfly, que sou eu falando para meus amigos com o conhecimento e a sabedoria que ganhei.

O que passou pela sua cabeça quando estava sentado na cela?

Como Mandela era forte. Se você pudesse ver a cela, cara. E ficavam deitados no chão frio. Você precisa ser um indivíduo forte para ainda ser capaz de transmitir uma mensagem e movimentar socialmente seu povo de dentro daquela cela.

Com quem fala no refrão de “HUMBLE.”, com você mesmo?

Com certeza. É o ego. Quando você olha para os títulos das faixas neste álbum, são todas as minhas emoções e minhas autoexpressões de quem sou. É por isso que fiz uma música assim, em que não dou a mínima, ou digo ao ouvinte: “Você não pode foder comigo”. Mas, essencialmente, estou olhando no espelho.

Você tem um disco no Número 1, o que significa, de certa forma, que é um artista pop.

É complicado, porque você pode ter um grande disco, mas ter integridade ao mesmo tempo. Poucos conseguem fazer isso... né? [risos] Ainda ter raps enlouquecidos neste álbum e ter um disco no Número 1? Chame do que quiser. Desde que o artista permaneça fiel ao ofício do hip-hop e à cultura dele, é o que é.

Você estava conscientemente tentando fazer de DAMN. um álbum mais acessível do que Butterfly?

A meta inicial era fazer um híbrido dos meus dois primeiros discos comerciais. Esse era nosso foco total, como fazer isso sonoramente, liricamente, através da melodia – e saiu exatamente como ouvi na minha cabeça... são pedaços de mim. Minha musicalidade me move desde os 4 anos. Só são pedaços de mim, cara, e como executo isso é o desafio maior. Passando de To Pimp a Butterfly para DAMN., essa merda poderia ter se espatifado se não fosse executada direito. Então, precisei ser muito cuidadoso.

Quando você fez “Bad Blood” com Taylor Swift, estava ciente de que tinha tomando partido em uma briga pop – já que, aparentemente, ela falava de Katy Perry?

[Gargalhando] Não, não sabia disso, mano. É uma ótima pergunta. Não! No disco, não. O que deixa isso ainda mais engraçado, com certeza. Isso está muito além das minhas preocupações. Tenho de ficar longe disso, com certeza. É uma briga boa [risos].

O que você aprendeu ao trabalhar com Beyoncé em “Lemonade”?

Como ser detalhista com sua música. Ela é perfeccionista. Pense na apresentação na premiação do BET. Ela foi muito detalhista – a iluminação, o bloqueio de câmera, a transição da música para a dança. Foi a confirmação de algo que eu já sabia.

Seus videoclipes estão cada vez mais ambiciosos – já recebeu convites para atuar?

Já, mas teria de estar 110 mil por cento dentro dessa. É uma habilidade, um talento que as pessoas aperfeiçoam com anos de ensaio. Não vou simplesmente entrar nessa porque sou Kendrick Lamar. Vou esperar até conseguir parar por um tempo e estudar o ofício. Neste momento, estou pendendo mais para o lado da direção.

Na música, você parece pensar como um produtor, mesmo que não dê esses créditos a si mesmo.

Vou te contar: não dá para fazer estes tipos de álbuns só com produtores te mandando batidas. Você precisa estar na lida com eles. Tem de estar ali em cada vibração, cada batida, cada transição, cada arranjo. Tem de estudar e estar em cada cantinho daquilo. Estou ali durante o processo inteiro. É um dos motivos pelos quais consigo chegar a essa coesão.

Só que alguém como Future basicamente faz rap sobre as batidas que recebe – e ele é ótimo do jeito dele. Vocês são muito diferentes, então foi interessante te ouvir no remix de “Mask Off”.

Ele é genial do jeito dele. Eu o observei no estúdio. A maneira como cria as melodias [estala os dedos] assim, sabe. Você precisa falar uma certa linguagem e também ter um bom estudo na música – como tenho – para fazer o que ele faz. Tenho certeza de que cresceu ouvindo muito R&B.

Qual é sua música preferida do Drake?

Música preferida do Drake [risos]. Tenho muitas músicas preferidas do Drake. Não dá para falar de uma assim, na lata... ele tem muitas.

Em sua primeira mixtape, de quando tinha 16 anos, há momentos e que você soa como Jay-Z.

Ah, sim. Era meu ídolo. Ainda é. Ainda sou fã. Foi algo que peguei dele, conseguir levar uma letra através da conversa e dar a sensação de que estou bem aqui falando com você.

Quando realmente encontrou o próprio estilo?

Acho que foi no dia em que falei que usaria meu nome real, Kendrick Lamar.

Em vez de K-Dot?

É. E realmente só contar minha história. Quando fiz isso, foi mais fácil encontrar minha própria voz, porque ninguém pode contar minha história do meu jeito.

Em 2010, você gravou “The Heart Pt. 2”, que foi inovadora em termos de honestidade emocional. Como isso aconteceu?

Lembro que falei a mim mesmo: “Só quero mostrar um jorro de emoções em uma gravação. Não me importa o tamanho dos compassos, mas as pessoas vão ter de me sentir mesmo”. Disse a mim mesmo que, se não conseguisse me conectar dessa forma, não adiantaria só juntar um monte de palavras boas. Então, aquela emoção perto do fim, quando engasgo e fico sem fôlego – quero manter tudo isso.

Você pode ficar bem alterado no estúdio. Já se assustou consigo mesmo?

A ironia é que realmente me assusto comigo, porque você vai para um ponto emocionalmente e, então, quase vira um robô da emoção. Quer continuar gravando takes várias e várias vezes. É quando você realmente se desliga e se conecta com o público. Os produtores podem perceber isso na cabine de gravação, como em “The Way I Am”, do Eminem, “Song Cry”, do Jay-Z, “Dear Mama”, do Tupac. Você consegue ouvir que essas histórias e ideias tocam fundo.

Foi André 3000 quem colocou na sua cabeça que rappers podem cantar?

Para minha geração, definitivamente foi o André 3000. Ele foi o primeiro. Chegávamos da escola e ele estava fazendo rap na TV um dia, e na semana seguinte tinha uma música chamada “Prototype”, era uma coisa que nos deixava pirados, entende?

Você tem músicas inéditas em que só canta?

Totalmente movidas a melodia. Tem sido como um treino em meus álbuns de rap. Escrevo muitas das melodias. Porra, normalmente uns 95%. Posso entrar e sair. Posso dar um gancho como “ELEMENT.” Posso dar um verso em uma gravação do Travis Scott com o “falsete do gueto”. É assim que chamo [risos]. Sou eu flertando com a ideia de conseguir levar para esse lado.

Seu falsete soa um pouco como o de Curtis Mayfield. É fã?

Definitivamente. Era o preferido do meu pai. O preferido da minha mãe, na verdade.

Seu primo Carl é membro dos Hebrew Israelites, que acreditam que negros são os verdadeiros descendentes dos israelitas bíblicos. Carl aparece em uma mensagem de voz em “FEAR.” Você diz ser israelita no álbum. Quanto adotou da teologia dele e quanto disso é jogar com as ideias?

Tudo o que digo nessa gravação é do ponto de vista dele. Esse sempre foi meu negócio. Sempre ouvir a história das pessoas e de onde elas vêm. Pode não ser como a minha, pode não ser como a sua. Foi pegar o ponto de vista dele sobre o mundo e a vida como um povo e colocar em um lugar em que as pessoas podem ouvir e ter seu próprio ponto de vista disso, concordando ou não. Acho que a música serve para isso. É um bocal.

Então, qual sua opinião sobre a ideia que Carl traz de que os negros são amaldiçoados por Deus de acordo com o Deuteronômio?

Essa merda é verdade. Há muitas maneiras diferentes de interpretar, mas definitivamente é verdade quando se fala sobre união em nossa comunidade e algumas das coisas sobre as quais não temos controle. Quando há luta contra o governo, quando há luta contra nossas próprias opiniões políticas, sempre há um ser superior, bem ali, disposto a parar com isso.

É possível argumentar que culpar uma maldição de Deus meio que justifica um sistema racista.

Certo. Você interpreta como quiser. A conversa está aí. Podemos sentar e falar disso o dia inteiro. Faço isso todos os dias [risos].

O que você pensa quando vê um mar de moleques brancos declamando as letras de algo como “Blacker the Berry”?

Com meus ouvintes, sei que realmente escutam o que estou dizendo, e estou falando por toda uma cultura de pessoas. Então, para o moleque de classe média que não sabe como crescemos ou não sabe sobre a história do meu povo, ao ouvir as letras ele pode entender. É quase como uma aula de história que não foi dada na escola deles.

Você já falou sobre a luta contra a depressão. Isso ainda te acompanha?

Ahn, neste exato momento estou bem. Não vou dizer que estou contente. Não quero essa palavra. Ainda não estou satisfeito, mas quanto a ter uma sensação de tensão pessoal naquele nível, não. É um bom espaço para se estar, porque agora posso escutar as dificuldades dos meus ouvintes e ajudá-los.

Você entende por que tantos artistas acabam se autodestruindo?

Ah, não, essa é fácil. Especialmente neste estilo de vida. Tudo está ao seu alcance, o que você quiser, o que precisar, mas a pessoa que você realmente é aparece quando as luzes se apagam. É tudo uma questão de quanta disciplina tem.

Você é pessimista ou otimista com o futuro?

Sou otimista pra caralho, com certeza. Não estaria aqui se não fosse! Qual é cara, esta merda não acontece com todos. Quase todos os meus melhores amigos estão na cadeia. Quarenta anos para mais. Querem ver fotos de todos os shows. Dizem: “Você tem de ser otimista pra burro para estar onde está. Não tivemos isso. O copo sempre estava meio vazio”. E não é só uma questão de ser otimista. Realmente se trata de ser responsável. Você pode falar sobre sonhos o dia inteiro e “o que quero”, mas tem de tomar uma atitude.

Só que você já perguntou em voz alta se estamos vivendo no fim dos tempos.

Equilibro isso dando o máximo possível de mim mesmo, na esperança de passar para a próxima geração, ou para quantas gerações ainda vierem, o conhecimento que tenho. Independentemente da situação fodida em que estamos, é uma questão da evolução do homem. As pessoas se confundem porque acham que é a forma física. Não, é a evolução da mente. Então, desde que me dedique totalmente ao meu potencial e a este dom, não há nada mais para pensar. Posso dormir em paz. Posso morrer com a consciência tranquila.

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