O Lavoura, que não é mais Eletro: (de cima para baixo) Fabiano, Fernando, Caleb e Paulo - Divulgação

Lavoura

Som eletrônico e absurdamente cósmico

Alexandre Matias Publicado em 17/08/2007, às 14h31 - Atualizado em 11/09/2007, às 11h34

"A proposta inicial era bem clara", conta Fernando "TRZ" Falcoski, tecladista do antigo Lavoura Eletro, que agora assina apenas como Lavoura. "Queríamos fazer um híbrido entre a cultura popular e a eletrônica. Essa estética era e ainda é muito pouco explorada, com exceção de nomes aí como DJ Dolores, Chico Corrêa e Suba."

Mas é deixar os ouvidos se soltarem em Kosmophonia (2007), terceiro lançamento do grupo e o primeiro com o novo nome, para perceber que eles estão longe de possíveis clichês. O caldo eletrônico é diluído em estilos como o jazz e o broken beat, enquanto as referências populares estão fundidas o suficiente para não serem pinçadas com facilidade. O grupo vai do jazz funk ao lounge, passando por climas sintéticos pesados e muita música brasileira.

O Lavoura começou como um experimento, quase uma brincadeira, entre integrantes da banda Mercado de Peixe, que moravam numa república em Bauru, interior de São Paulo, batizada de Samacô. O baixista Fabiano "IB" Alcântara lembra o início da história, que aconteceu exatamente no Dia de Reis, 6 de janeiro de 2003. "Eu, o Fernando e o PP [Paulo Pires, baterista] tocamos juntos há 11 anos. Nos primeiros shows, nós soltávamos as bases em CD e íamos tocando em cima. Era bem anárquico e os shows eram espécies de 'happening' com o pessoal do vídeo, da dança e do teatro de Bauru."

De lá pra cá, o grupo tirou o "Eletro" do nome, tornando-se apenas Lavoura, e aos poucos deixou o lado jam com cara de conjunto, graças à entrada do baterista PP e de Caleb "Daddy F" Mascarenhas nas programações. "No início, a produção era fincada mais no conceito de arrastão de samplers. Nos concentrávamos em ir atrás de referências, grooves, cantigas populares, beats pesados e varávamos as noites tentando mixar todo esse material", lembra Falcoski.

Com Kosmophonia, o grupo dá início à nova fase, se misturando à nova paisagem instrumental de São Paulo. "É uma cidade vibrante e cheia de artistas interessantes, temos conexões estéticas e espirituais, tanto com o pessoal da eletrônica mais voltado para o jazz, como Nomumbah, Projeto Nave e Mad Zoo, quanto com aqueles que fazem um som mais rock experimental, como Hurtmold e Luz de Caroline", conclui Fabiano.

Para Falcoski, existem faixas no disco que são conceitos que rendem outros álbuns inteiros. Para ele, a idéia é "nunca mais parar de tocar". Já Alcântara apresenta um ideal de banda um pouco mais hippie: "Queremos evoluir e atingir uma sonoridade absurdamente cósmica".

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